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LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Cabresto eleitoral sobrevive

Linomar Bahia

Alguém manda no seu voto? Ou vota conforme a consciência e, quando muito, em reconhecimento a candidato? Respondendo a perguntas assim, é curioso constatar como candidatos e apoiadores se consideram donos dos votos de segmentos populacionais. Parecem tão convictos que a usam essa pseuda propriedade como espécie de capital para negociar eventuais “dobradinhas” eleitorais e argumentos junto a possíveis financiadores, sinalizando a possibilidade de conquistar mandatos e o consequente compromisso de representar interesses privados em detrimento do interesse público. 

Houve um tempo da tutela eleitoral, herdada do Império Romano, com efeitos políticos no período da República Velha, entre 1889 e 1930, propiciando o chamado “coronelismo de barranco”. Era o “voto de cabresto”, expressão derivada da junção das palavras latinas “votum” e “capistrum” em que o eleitor votava seguindo a preferência de um “chefe político”, também chamado de “cabo eleitoral”. Sequer sabia exatamente em quem votava, razão e pilhérias, como a de que, ao perguntar ao “coronel” em quem estava votando, com os envelopes lacrados, recebia como resposta a alegação de que o voto era secreto.  

Com eles, surgiu a figura do “curral eleitoral”, espaço onde os eleitores aguardavam o transporte para onde votariam, evoluída para áreas territoriais em localidades do interior. Têm mudado somente as características físicas e as formas de domínio eleitoral, principal razão das pressões políticas pela criação de novos municípios. Constituem os modernos “currais eleitorais”, facultando a ascensão dos componentes a sucessivos mandatos eleitorais, num processo em que os antigos “cabos eleitorais” vão abrindo espaço para sucessores enquanto avançam em mandatos e nos apoios e eleições progressivas. 

Esse processo estabelece uma roda viva, produzindo um novo sistema de “eleitorado de cabresto” e do correspondente “curral eleitoral”, em que a primeira etapa, na eleição de vereadores, estabelece o ponto de partida eleitoral de familiares e compadrios, com famílias que se cruzam e geram enormes clãs, votados pelos novos munícipes que tutelam, na escalada de vereadores a deputados estaduais, estes a deputados federais e assim sucessivamente para senadores e governadores, que se cristalizam no poder e impedem as reformas institucionais, que evitariam a eternização da hereditariedade política no país. 

Mecanismos arcaicos de antes, utilizados sob a forma de assistencialismo, têm sido fortalecidos pela internet, veiculando pelas redes sociais as orientações em formatos de ordens unidas, indicando os caminhos e candidaturas a seguir. São fatos e reflexões configuradas na eleição de pais, filhos, netos, cônjuges e aderentes, claramente identificados pelos nomes e sobrenomes. Em pleno século XXI, o “cabresto eleitoral” sobrevive, uma reedição das capitanias hereditárias da época do Brasil colônia e respectivos donatários, dispostos apenas a mudanças que, entretanto, deixem tudo como dantes. 

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