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Aos 72 anos, entalhadora de miriti mantém viva tradição nazarena

Dona Pacheco é uma das forças femininas que aprendeu, com outras mulheres, a produzir peças de artesanato a partir do “isopor da Amazônia”

Gabriel da Mota

Maria de Fátima Rodrigues Santos, conhecida como Dona Pacheco — sobrenome que carregava antes de se casar —, afirma ser uma das poucas mulheres artesãs que trabalham com o entalhamento de objetos de miriti em Abaetetuba, cidade reconhecida como a capital mundial do “isopor da Amazônia”. Aos 72 anos, mãe de 10 filhos, avó de 18 netos e bisavó de 4 bisnetos, Dona Pacheco continua a esculpir e pintar com habilidade e paixão, lutando para manter viva uma tradição que há décadas faz parte da cultura material do Círio de Nazaré em Belém.

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A história de Dona Pacheco com o artesanato de miriti começou há 40 anos, quando ela e seu esposo decidiram vender brinquedos feitos à mão durante o Círio na capital paraense. "Começamos na Praça do Carmo, sem cobertura, vigiando [um ao outro] durante a noite. Depois, passamos por vários locais até chegar na Praça da Sé e na Praça Pedro II, onde a gente vende há muitos anos", conta.

Com o tempo, Dona Pacheco se destacou na arte da primeira etapa do artesanato das peças de miriti: o entalhamento. Segundo ela, a maioria das outras artesãs costuma se dedicar ao acabamento e pintura dos brinquedos (segunda e terceira etapas do processo). Orgulhosa de criar as peças do início ao fim, ela diz: "Eu sou a única que ainda faz o brinquedo completo".

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image Maria de Fátima Rodrigues Santos, a 'Dona Pacheco', na cozinha de casa com algumas peças que irá vender durante o Círio 2024 (Wagner Santana / O Liberal)

Ao longo dos anos, a venda de brinquedos de miriti enfrentou desafios, como a mudança dos locais de feira e até mesmo a falta de apoio para o cultivo do miriti. “Hoje em dia, as pessoas se interessam mais pelo açaí, mas para plantar o miriti, ninguém quer saber”, lamenta. 

Dona Pacheco aprendeu suas habilidades observando outros artesãos e com muita prática. Ela recorda com carinho das colegas que já faleceram, como Dona Nina Abreu e Dona Iranilda, que também trabalharam com miriti.

"Aprendi a fazer a [escultura da] Ribeirinha com a Dona Nina. Ela me explicou tudo, e agora faço canoas, homenzinhos, remos, cestas de açaí… tudo de miriti", relembra. 

Apesar das dificuldades, a paixão de Dona Pacheco pelo artesanato nunca diminuiu. Católica, ela participa ativamente das festividades nazarenas, vendendo seus brinquedos e compartilhando sua arte com turistas e devotos. "Não temos o conforto da nossa casa, mas é muito gratificante estar lá [em Belém], especialmente quando vejo a imagem de Nossa Senhora de Nazaré", diz. 

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image A artesã segura um terço mariano ao lado da peça mais trabalhosa que fez para este ano: um oratório com uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, a pomba branca do Espírito Santo e uma pequena gaveta que revela uma 'surpresa' (Wagner Santana / O Liberal)

A artesã também se preocupa com o futuro do artesanato de miriti. Embora seus filhos saibam fazer os brinquedos, todos seguiram caminhos profissionais diferentes. Ela expressa o desejo de que mais jovens se interessem por essa arte, mas reconhece que o interesse diminuiu. "Essa tradição pode desaparecer", alerta.

Além de manter viva a tradição do miriti, Dona Pacheco incorpora elementos religiosos em suas criações, como a pomba do Espírito Santo e a representação da arca de Noé em uma das peças que pretende vender a R$ 1 mil na capital. “E eu sei que eu vou vender, porque vai ter gente que vai amar”, afirma. Algumas de suas esculturas levam meses para serem concluídas; cada qual carregada de devoção e dedicação.

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