Arte de confeccionar imagens de Nossa Senhora de Nazaré mistura folhas de ouro e devoção
Com técnicas refinadas e muito cuidado, a artesã revela os segredos e desafios na confecção de peças para o Círio
Márcia Almeida é uma das artesãs mais experientes na confecção de réplicas de imagens de Nossa Senhora de Nazaré. Há mais de 30 anos, ela se dedica a transformar o gesso em arte sacra, utilizando técnicas refinadas para criar peças que encantam fiéis e colecionadores. Sua trajetória começou com uma loja de materiais de artesanato em Belém, e, desde então, evoluiu para a produção de imagens religiosas, especialmente as da Virgem de Nazaré.
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“Eu decidi abrir a loja para vender material artístico, porque aqui em Belém a gente não tinha muita opção na época”, relembra Márcia. O interesse pela pintura de imagens surgiu em São Paulo, quando ela participou de um curso de pintura barroca e, aos poucos, foi se aperfeiçoando na técnica. “Sempre que eu tinha notícia de um curso, eu ia. Fosse em São Paulo, no Rio Grande do Sul, onde fosse, eu ia e fazia para me aperfeiçoar”, conta.
Com o tempo, a demanda por suas peças cresceu, e Márcia transformou sua loja em um ateliê onde também passou a dar aulas de pintura barroca. "Muita gente que faz as imagens hoje em dia foi meu aluno", afirma. O processo de criação das imagens envolve diversos passos, desde a escolha das cores até o acabamento com folha de ouro, uma técnica que Márcia considera uma de suas preferidas. “Eu gosto muito de trabalhar com folha de ouro. Dá um efeito bonito, enriquece a peça”.
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As imagens de Nossa Senhora de Nazaré que Márcia produz são feitas a partir de moldes de gesso, que ela encomenda de fornecedores de São Paulo ou de artesãos locais. “O gesso chega branco e, então, a gente começa todo o preparo, selando a peça, passando as cores e, depois, os acabamentos, como os olhos e as feições", explica. Cada imagem pode levar até três dias para ser finalizada, dependendo do nível de detalhamento.
Durante o período do Círio de Nazaré, a demanda aumenta significativamente. “A procura é muito maior no Círio, e as pessoas começam a encomendar com meses de antecedência. Antigamente, com a loja, a demanda era ainda maior, por conta dos turistas”, diz Márcia. Atualmente, ela realiza vendas pelo Instagram e participa de eventos, como uma parceria recente com uma fábrica de velas para vender produtos em um shopping da capital paraense.
Ao longo dos anos, a técnica de Márcia evoluiu, especialmente com o uso de materiais importados, como tintas e vernizes de alta qualidade. “Sempre tem uma modernização, algo novo. A gente acaba juntando uma técnica na outra. Por exemplo, misturo pintura barroca com uma técnica alemã de pintura chamada ‘Bauernmalerei’, usada em móveis rústicos no Sul do Brasil”, revela.
Entre as várias encomendas que já recebeu, uma em particular marcou Márcia recentemente.
"Um cliente queria uma santa que fosse mais rústica, parecendo madeira, mas com um toque de dourado. Foi uma peça que desenhei na minha cabeça enquanto ele falava, e fiquei louca para executar", conta.
O resultado foi tão satisfatório que o cliente descreveu a peça como “um sonho realizado”.
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Além de confeccionar novas imagens, Márcia também realiza restaurações. Muitas das santas que chegam a seu ateliê precisam de revitalização, especialmente após anos de exposição. “As pessoas trazem as santinhas para restaurar, às vezes quebradas ou com a pintura esmaecida. A gente faz o restauro com muito cuidado, coloca gesso, repinta e deixa a peça como nova", explica.
Para Márcia, o trabalho com as imagens de Nossa Senhora de Nazaré vai além de uma atividade profissional, é uma forma de devoção. “Cada peça que a gente faz é especial, porque você coloca sua energia ali. O Círio para mim é algo que não se explica, se sente. É uma procissão incrível, uma demonstração de fé que transforma a cidade."
Mesmo após três décadas de trabalho, a artesã continua a se apaixonar pelo processo criativo e pela emoção que as imagens despertam em seus clientes. “É sempre um prazer enorme ver a peça pronta, e mais ainda quando a pessoa que encomendou gosta do resultado. É isso que faz valer a pena”, finaliza.
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