Grande dia: Hoje a Grande Rio entra na avenida com as encantarias Parawaras
Os termos paraenses cheio de história e místicos ganham vida na Sapucaí com o samba-enredo paraense

Nesta terça-feira (04), a Grande Rio vai entrar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí levando para o Carnaval 2025 o enredo "Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós". Os elementos paraenses da avenida ainda são surpresas, mas o samba-enredo composto por membros da Deixa Falar já mostra um pouco sobre o que vamos encontrar no desfile.
Com uma música rica de história, as estrofes chegam com detalhes únicos para compor uma mística que ronda o percurso das encantarias nas águas paraenses.
"O enredo da Grande Rio é uma homenagem ao Pará, sua história, cultura, povo e espiritualidade. O tema 'Pororocas Parawaras' carrega significados profundos, remetendo à força das águas — rios e mar — que formam nossos imponentes rios-mares, como a Baía do Marajó, berço de encantaria, além dos mangues e zonas de várzea. A pororoca simboliza esse encontro das águas, um fenômeno poderoso e misterioso, essencial à vida dos paraenses. Já 'Parawara' representa tudo o que emerge dessa força, o que vem 'do fundo', como dizem os pajés — nossos encantados, caruanas e, na visão dos povos originários, também nós mesmos."
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Com uma carreira acadêmica e profissional baseada na relação dos conhecimentos tradicionais e saberes ancestrais da população marajoara com a sociedade, principalmente no que compete ao Desenvolvimento Sustentável, ele pesquisa sobre os saberes de povos e comunidades tradicionais são importantes enquanto epistemologias que ajudam a sociedade (geral) em como viver neste planeta.
Kildren Pantoja, hoje com 34 anos, aos 7 anos foi confirmado como Pajé na linha de pena e maracá, pela Pajé D. Emília e hoje continuo meus passos como Pajé sendo preparado pela Pajé Roxita, de Soure, que será um dos destaques no desfile da Grande Rio.
“Muito se fala dos sambas-enredo antes mesmo da época de carnaval, pesquisadores explicam os termos nas redes sociais, pessoas cantam as letras, a comunidade da escola aprende sobre aquele enredo, é uma vitrine enorme, que não só ajuda na divulgação, mas também no conhecimento. E esse é o primeiro passo para o respeito e para valorização de algo, a ciência sobre a compreensão. A ausência do conhecimento, é a ignorância, que por sua vez é a força motriz do preconceito, que gera a violência, que infelizmente está tão presente nos dias de hoje. Cantar sobre encantaria e mostrar a riqueza cultural da pajelança e do tambor de mina, a comunhão e o respeito dessas práticas religiosas com a natureza, a beleza e o encanto presente nelas, a cura, a sustentabilidade, a missão de caridade dos pajés, é lindo”, analisa Kildren.
O paraense destaca que ter termos regionais na boca do povo brasileiro por conta do Carnaval exalta as temáticas em amplitude imensurável, já que gera a curiosidade de muitas pessoas ao mostrar a história do Pará através das encantarias e cultura.
“O samba-enredo vem trazendo inúmeras palavras importantes para nossa cultura e de profundo significado, tanto é, que o mesmo foi escrito por paraenses, encabeçados pelos brilhante Mestre Damasceno, marajoara, e conhecedor profundo de tudo que esse enredo representa. Eu daria destaque para algumas palavras que acho importantes, por representarem muito essa força da qual nós estamos falando, essa força de quem das águas.“Caruana”, que são seres viventes do fundo dos rios, são as forças que auxiliam os pajés na cura de nosso povo, se manifestam tanto na pajelança cabocla, quando na linha de cura do tambor de mina, manifestações religiosas puramente amazônicas. Caruanas são os encantados que vivem e protegem nossos rios, e de lá trazem a cura, a sabedoria, e a magia ancestral que guiam esses ritos”, explica.
Kildren vai além das águas e faz essa ligação com os encantados da “Linha do Fundo” presentes na letra do samba: “’boiunás’ que se apresentam como cobras grandes; ou o Boto e a Mãe D’água, que também são protetores de nossos territórios. Não posso deixar de citar as Três Princesas Turcas, rainhas da encantaria amazônica, Mariana, Herondina e Jarina. Falar dos turcos encantados é falar de um conhecimento que está para além dos mistérios que o colonizador conseguiu desvendar. Como pensar que três princesas do Império Otomano, ‘baixam’ em terreiros de tambor de mina e barracões de pajelança por toda Amazônia Oriental? Então contar esta história, é contar um saber enraizado em nosso território, cheio de significados da qual muitos nunca sequer ouviram falar. Destacar essas palavras presentes no samba enredo, é destacar a encantaria parawara”.
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