Cocoriô, Pororoca: veja o significado dos termos do samba-enredo da Grande Rio
A escola de samba de Duque de Caxias homenageou a cultura do Pará, destacando os encantados e a magia da região amazônica
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A Acadêmicos do Grande Rio garantiu um desfile inesquecível em 2025! Com o samba-enredo "Pororocas Parawaras: As águas dos meus encantos nas contas do curimbó", a escola de samba de Duque de Caxias homenageia a cultura do Pará, destacando os encantados e a magia da região amazônica. A agremiação embarcou em uma viagem pelos carimbós para contar a história do encontro entre as Princesas Turcas Ajuremadas e das Encantarias, conduzindo uma jornada mística que entrelaça palácios, pajelanças, incensos, igarapés, encantarias e os terreiros de Tambor de Mina.
Conheça os termos do samba-enredo da Grande Rio
Tambor de mina
O Tambor de Mina é uma religião afro-brasileira com raízes profundas na cultura africana, que se desenvolveu principalmente no Maranhão, mas que também possui forte presença no Pará e em outros estados do Brasil. Ela se destaca por sua rica mitologia, seus rituais complexos e sua forte ligação com a música e a dança.
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Principais características da religião:
- Culto aos Voduns, Orixás e Encantados: O Tambor de Mina cultua diversas entidades espirituais, incluindo os Voduns (divindades de origem africana), os Orixás (divindades de origem iorubá) e os Encantados (espíritos de pessoas que viveram no Brasil e que, em vez de morrer, se encantaram).
- Música e dança: A música e a dança desempenham um papel central nos rituais do Tambor de Mina. Os tambores (mina, hu e gã) são instrumentos sagrados que invocam as entidades espirituais, e os participantes dos rituais dançam em homenagem a essas entidades.
- Matriarcalidade: O Tambor de Mina é uma religião matriarcal, o que significa que as mulheres desempenham um papel de destaque na hierarquia religiosa. As mães de santo são as líderes dos terreiros e possuem grande poder e prestígio.
- Sincretismo religioso: O Tambor de Mina incorpora elementos de outras religiões, como o catolicismo e o espiritismo. Essa mistura de crenças e práticas é conhecida como sincretismo religioso.
- Hierarquia: Assim como muitas religiões, o Tambor de Mina possui uma hierarquia bem definida. Essa hierarquia se aplica tanto aos espíritos quanto aos membros da religião.
Cororiô
O termo "Cocoriô" carrega um significado de mistério e poder, evocando a força das entidades espirituais e a magia das águas amazônicas. Associado à feitiçaria e ao encantamento, ele representa elementos presentes nas tradições e lendas do Pará. Sua origem está ligada às práticas mágicas e espirituais do folclore local, celebrando crenças e rituais transmitidos de geração em geração.
No samba-enredo da Grande Rio para o Carnaval de 2025, a expressão “A Mina é Cocoriô” é uma saudação e evocação que mistura Voduns, Orixás e Caboclos. "Cocoriô" simboliza um encantamento, feitiço ou magia, conectando o misticismo paraense ao Tambor de Mina que carrega consigo o caráter espiritual e sobrenatural da narrativa, destacando as influências ancestrais e a riqueza cultural da região.
Parawara
O termo "Parawara", usado no enredo da Grande Rio, vem da junção de duas palavras:
- "Pa'ra": significa "rio-mar" ou "rio do tamanho do mar";
- "Wara": pode ser traduzido como "o que veio de" ou "pertencente a".
No contexto do samba-enredo "Pororocas Parawaras", a palavra "Parawara" foi utilizada com o significado de "oriundo do rio", fazendo referência à forte ligação dos povos amazônicos com as águas. Além disso, o termo também pode ser entendido como um gentílico para os paraenses, reforçando a identidade cultural do Pará dentro da narrativa do desfile.
Pororoca
A pororoca é um fenômeno natural impressionante que ocorre no encontro das águas do rio com o oceano, resultando em ondas gigantes que invadem os cursos fluviais. O termo tem origem na língua tupi e significa "grande estrondo", uma referência ao som poderoso produzido pelo choque das correntes. No samba-enredo da Grande Rio, as pororocas representam a força e a magia das águas amazônicas, evocando a potência da natureza e a simbologia das lendas ribeirinhas.
Boiuna
A Boiuna é uma entidade mítica da Amazônia, descrita como uma enorme serpente negra que habita os rios e protege os segredos das águas. Segundo as lendas, ela pode se transformar em barco ou mulher para enganar os viajantes e levá-los para o fundo dos rios. No contexto do enredo da Grande Rio, a Boiuna simboliza o misticismo e a força da natureza, elementos centrais na construção narrativa do desfile.
Banzeiro
Banzeiro é o movimento das ondas deixadas pela passagem de uma embarcação nos rios da Amazônia. No universo cultural, a expressão também remete à vibração e energia contagiante das festas populares. No desfile da Grande Rio, o banzeiro aparece como uma força que impulsiona a narrativa e traduz o ritmo envolvente da cultura paraense.
Curimbó e carimbó
Curimbó
O curimbó é um tambor de origem indígena, confeccionado com troncos de árvore escavados e couro de animal. Ele é o principal instrumento do carimbó, ritmo tradicional do Pará. Seu som profundo e envolvente marca a cadência das danças e representa a ancestralidade musical da região, sendo uma referência essencial no samba-enredo da Grande Rio.
Carimbó
O carimbó é uma manifestação cultural típica do Pará, caracterizada pela percussão marcante, movimentos envolventes e vestimentas coloridas. O nome do gênero deriva do tambor curimbó, fundamental para a construção do ritmo. No desfile da Grande Rio, o carimbó surge como um elemento-chave para traduzir a riqueza da música amazônica.
Igarapés e igapós
Igapós
Os igapós e igarapés são formações hídricas fundamentais na geografia amazônica. Os igapós são áreas alagadas permanentemente, onde árvores adaptadas crescem submersas. A palavra significa "rio de raízes" em tupi, em alusão à vegetação densa com raízes submersas.
Igarapés
Já os igarapés são pequenos cursos d'água que cortam a floresta, funcionando como verdadeiras estradas naturais. A palavra significa "caminho de canoa" em tupi, refletindo seu uso como via de transporte nas áreas florestais. Esses elementos estão presentes na narrativa do enredo da Grande Rio, conectando os personagens mitológicos ao cenário amazônico.
Ajuremar
Ajuremar é um termo que expressa o ato de unir-se em encantamento ou magia. "Ajuremar" está intimamente ligado ao conceito de encantamento, a transformação de um ser humano em uma entidade espiritual, um "encantado". É como se a pessoa se tornasse parte do mundo mágico e místico. No contexto do samba-enredo da Grande Rio, refere-se à fusão entre as Princesas Turcas Ajuremadas e as Encantarias da Amazônia, criando uma ponte entre culturas e tradições místicas.
Princesas Turcas: Mariana, Jarina e Herondina
Segundo a lenda, um sultão, na tentativa de proteger suas três filhas das guerras santas que assolavam a Turquia, colocou-as em um navio com destino a uma terra distante. No meio do caminho, um portal místico se abriu e, em um instante, o navio desapareceu junto com as princesas.
Tempos depois, o portal se reabriu sobre águas paraenses, trazendo as jovens, que foram recebidas por um vodum, já transformadas em entidades encantadas. A cabocla Jurema então rebatizou as princesas, tornando-as "ajuremadas". Elas se metamorfosearam em animais sagrados, que passeiam pela floresta e a protegem.
Além das princesas turcas, o samba-enredo ainda destaca a presença da Cabocla Jurema, fazendo referência a música de Dona Onete que fala sobre as “quatro contas”, que são essas quatro entidades. Nas frases “Quatro contas, um cocar!” e “E foi assim... Suas ‘espadas’ têm as ervas da Jurema” faz menção à cabocla.
As princesas também são representadas pelos termos "arara-cantadeira", como Mariana; "borboleta à espreita", como Jarina e "a onça do Grão-Pará" sendo Herondina.
Caruanas
Na mitologia paraense, os Caruanas são espíritos que vivem nas águas e possuem poderes mágicos. Os Caruanas são entidades espirituais consideradas protetoras das águas, com forte presença no folclore paraense. Eles são vistos como seres que podem trazer tanto benefícios quanto malefícios, dependendo da forma como são tratados. No samba enredo, eles representam a força da natureza e a riqueza da cultura paraense.
Vodum
Os Voduns são entidades espirituais de origem africana, cultuadas principalmente pelos povos Ewe-Fon, nos territórios que hoje correspondem ao Benim e Togo. No Brasil, o culto a essas divindades se consolidou no Tambor de Mina, onde os Voduns se misturam com outras entidades espirituais, como os Orixás, de tradição iorubá, e os Encantados, espíritos de pessoas que viveram no Brasil.
No samba-enredo da Grande Rio para o Carnaval de 2025, "Vodum" representa essas divindades das religiões de matriz africana, com destaque para sua importância no Tambor de Mina, prática religiosa profundamente enraizada no Maranhão e com forte presença no Pará.
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