Quem são as princesas turcas que estão presentes no samba-enredo da Grande Rio?; conheça
As 'caboclas' estão presentes nos cultos do Tambor de Mina. Atualmente o terreiro mais antigo em atividade está em Belém
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Para imergir no universo “parawara”, a Grande Rio veio beber na fonte da cultura local. Com um enredo que destrincha a história, com destaque para a religião afroamazônica, a agremiação vai mostrar no sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, os encantamentos do Tambor de Mina.
Para se aprofundar no samba-enredo da Grande Rio, o Grupo Liberal vai realizar uma série que explica alguns detalhes da letra dos compositores da Deixa Falar: Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davidson Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes.
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Nas duas últimas frases do samba-enredo, os compositores destacam a importância das princesas turcas: “Chama Jarina, Herondina e Mariana. Grande Rio firma o samba no Tambor de Mina!”. No desfile do próximo dia 4 de março, elas serão representadas pelas paraenses Naieme, Dira Paes e Fafá de Belém, respectivamente.
As caboclas citadas no samba-enredo são ligadas às águas e matas paraenses, com uma história que começa com o exílio da Turquia até o momento em que encantaram. Jarina é a mais jovem das turcas, e está associada à jiboia e a borboleta azul; Herondina é a irmã do meio, que se transforma em onça; e Mariana é a primogênita, a arara cantadeira. As três são caboclas associadas a poderes de cura.
“O carnavalesco entrou em contato comigo e explicou sobre como seria o enredo da Grande Rio. Depois, eles vieram para Belém, tentamos um primeiro encontro, mas não deu certo. Ele, junto com a equipe da escola, queria participar de uma festividade no terreiro, para que eles pudessem fazer vídeos e fotos”, contou a Mãe Eloisa, responsável pelo Terreiro de Mina Dois Irmãos.
Localizado no bairro do Guamá, o espaço vai completar 135 anos e é o templo afrorreligioso mais antigo em funcionamento no Pará e na Amazônia. Fundado em 1890, em 2010 ele se tornou Patrimônio Histórico Artístico e Cultural pelo Governo Estado do Pará. “No fim de semana, nós tocamos para Ogum, eles vieram na nossa casa à noite, assistiram ao ritual, filmaram, fotografam, gravaram as doutrinas, a gente cantando. E nesse dia estavam as três turcas encantadas. Estava a minha mãe Herondina, a Dona Jarina e a Dona Mariana. Eles tiveram a oportunidade de conversar com elas, foi uma troca muito legal. Depois eles ficaram mantendo contato conosco. Sempre que eles vinham a Belém, passavam pelo terreiro. Mas quem vem mais aqui é o Evandro Malandro (intérprete da Grande Rio), porque ele está muito aqui por conta da Deixa Falar”, confidencia.
Os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora são os responsáveis pelo enredo da agremiação. Eles propõem um mergulho nas águas amazônicas e uma jornada mística que mistura palácios, pajelanças, incensos, igarapés, encantarias e terreiros de Tambor de Mina.
A Mãe Eloisa conta que essa conexão com os carnavalescos permanece e eles estão em contato frequente para tirar dúvidas com a religiosa. Inclusive, ela foi convidada pela Grande Rio para estar presente no desfile: “Agora vou ter a oportunidade de desfilar”.
Depois desse primeiro encontro, que ocorreu em abril, em setembro ocorreu a primeira etapa da disputa do samba-enredo da agremiação em Belém, com a presença de membros da escola carioca. “Na véspera do concurso, a Paolla Oliveira (rainha da bateria) veio ao terreiro. Ela conheceu a casa, me conheceu, nós conversamos. Ela é extremamente maravilhosa, uma mulher tão linda, simples e famosa. De uma generosidade”, contou.
Além das princesas turcas, o samba-enredo ainda destaca a presença da Cabocla Jurema, fazendo referência a música de Dona Onete que fala sobre as “quatro contas”, que são essas quatro entidades. Nas frases “Quatro contas, um cocar!” e “E foi assim... Suas ‘espadas’ têm as ervas da Jurema” faz menção à cabocla. A Grande Rio ainda não divulgou quem irá representar a Jurema.
“As quatro contas são a Dona Jurema, que é a mais velha de Jurema. Tem também a Dona Herondina, Jarina e Mariana. Elas representam a encantaria da Jurema. Elas são maravilhosas. Essas cabocas trabalham muito. Achei muito bonito o enredo deles falarem da nossa afroreligiosidade. É tanto preconceito, e hoje a gente vai ver na passarela do samba, no Rio de Janeiro, falarem das nossas belas turcas”, comemora.
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