Moeda do Mercosul: entenda a proposta discutida por Brasil e Argentina

Viagem do presidente Lula ao país vizinho colocou a discussão em pauta

Emilly Melo
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A criação da “moeda do Mercosul” ganhou repercussão após a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Argentina, nesta semana — como gesto de reaproximação com o país vizinho. A proposta já foi defendida por Paulo Guedes e discutida por Fernando Henrique Cardoso. Com informações do Metrópoles.

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Apesar do nome, a proposta seria para a criação de uma moeda comum de intercâmbio comercial e não significa o fim do Real ou Peso Argentino. A ideia é inspirada na Unidade Real de Valor (URV), usada durante a transição do Cruzeiro Real para o Real.

Alguns especialistas apontam que o conceito é positivo, exceto pelos diferentes quadros econômicos de cada país. A Argentina fechou 2022 com uma inflação de 94,8%. O Brasil, por outro lado, encerrou o ano com a inflação em 5,79%.

Substituir as moedas por uma outra só do Mercosul é algo difícil de acontecer e se torna prejudicial para o Brasil. A moeda brasileira é uma das mais fortes do bloco, principalmente se comparado à Argentina, que sofre pela dupla concorrência de moeda [peso e dólar] dentro do país”, disse a economista Natalie Verndl, doutoranda em direito financeiro na Universidade de São Paulo (USP).

Ela afirma que a criação de uma moeda que possa substituir as vigentes teria outras implicações.“Para fazer uma moeda única teria que fazer um Banco Central para o Mercosul. Fazer política monetária para o Brasil é muito diferente de fazer política monetária para a Argentina“, declarou Verndl.

Para Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, a inflação da Argentina pode atrapalhar, mas o bloco como um todo pode se beneficiar da moeda comum. “Quem ganha com essa proposta claramente é o Mercosul, é a América Latina. A inflação na Argentina é o que atrapalha”, declarou.

Além das questões inflacionárias, monetárias e de ajustes econômicos a serem discutidas, Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, afirmou que é necessário olhar para a governança. “A proposta é boa para o comércio internacional, mas há um problema em saber como seria a governança dessa moeda nos países, como seria a condução da política monetária”, explicou.

“Não é uma proposta simples, pois há a questão da soberania dos países e isso será posto na mesa de negociação”, completou.

(*Emilly Melo, estagiária, sob supervisão de Elisa Vaz, repórter do Núcleo de Política)

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