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Manguezais brasileiros armazenam 1,9 bilhão de toneladas de CO2

Além disso, esses ecossistemas possuem potencial de gerar R$ 48 bilhões em créditos de carbono

O Liberal
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Os manguezais do Brasil armazenam 1,9 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o que representa um potencial para render ao menos R$ 48,9 bilhões em crédito de carbono, conforme o praticado no mercado voluntário brasileiro. Com a regulamentação do mercado, o valor pode chegar a até R$ 1,067 trilhão, estimulando a transição para uma economia de baixo carbono.

Os cálculos fazem parte do estudo inédito “Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais”, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e pelo projeto Cazul, desenvolvido pela ONG Guardiões do Mar, do Rio de Janeiro. A publicação foi lançada durante a programação oficial da 16ª Conferência de Biodiversidade da ONU (COP 16), realizada em Cali, na Colômbia.

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O estudo, o primeiro nessa escala a calcular e valorar a capacidade de sequestro de carbono pelos manguezais no Brasil, identificou a presença de 1.390.664 hectares de manguezais ao longo da costa brasileira - área equivalente a nove cidades de São Paulo ou 11 cidades do Rio de Janeiro. “Os manguezais possuem extraordinário potencial de retenção de carbono, o que pode ser convertido em renda em um mundo que precisa ser descarbonizado para minimizar e se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas. Mas, além disso, esse ecossistema desempenha importante papel no equilíbrio ecológico, na proteção costeira, na manutenção de estoques pesqueiros e em atividades econômicas, como a pesca e o turismo”, afirma a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.

No mercado voluntário brasileiro, a tonelada de CO2 já foi negociada a R$ 25,85, considerando a cotação de R$ 5,62 para cada dólar. Entretanto, a valoração pode chegar ao patamar de R$ 562,00 por tonelada em um cenário de transição para uma economia de baixo carbono. Além disso, considerando o aumento médio anual de 2,9 milhões de toneladas do estoque de carbono azul no Brasil, com base na precificação do mercado voluntário, os pesquisadores estimam um incremento de R$ 75,2 milhões a cada ano. Valor que pode chegar a R$ 1,6 bilhão anuais diante de uma precificação potencial.

Os pesquisadores ressaltam que esse crescimento médio foi o comportamento verificado nos últimos 27 anos, mas ele não é linear. É preciso colocar em perspectiva para projetar o futuro. O sequestro de carbono pela vegetação tende a ser maior em vegetações novas ou em fase de regeneração. À medida que as plantas amadurecem, essa capacidade se estabiliza, reduzindo o potencial de absorção.

O trabalho identificou e atualizou informações sobre as áreas de manguezal no Brasil por meio da interpretação visual e classificação automática de imagens de satélite, partindo de uma base de dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de 2018. “Com imagens temporais da plataforma Google Earth Engine traçamos parâmetros para avaliar o estado de conservação das áreas e o índice de vegetação associado para auxiliar nos cálculos de estoque de carbono, entendendo a quantidade de dióxido de carbono que é acumulado em cada estrutura das florestas de manguezal”, explica Laís de Oliveira, líder executiva do projeto Cazul, uma das responsáveis pelo estudo. “Para chegar ao valor, analisamos a viabilidade econômica dos estoques e as práticas adotadas, traçando dois cenários para a valoração: um relacionado à prática atual e outro relacionado com o que espera-se do mercado de carbono em um mundo em transformação climática e que requer novos estímulos para ações práticas”, completa.

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Realidade brasileira

O Brasil, que possui a segunda maior extensão de manguezais do planeta, conta com a maior faixa contínua do ecossistema no mundo, localizada na costa Amazônica. Apesar de representar uma grande proporção em relação a outros países, esses ecossistemas ocupam apenas 0,13% do território brasileiro. Estima-se que cerca de 25% da vegetação original dos manguezais do país já foi perdida.

“A partir do conhecimento gerado neste estudo, esperamos inspirar ações concretas a favor da proteção e conservação desse ecossistema costeiro-marinho vital para a saúde do planeta e de suas comunidades. Políticas e planos de adaptação às mudanças do clima, gestão de riscos e desenvolvimento costeiro devem incluir medidas para proteger, conservar e restaurar manguezais. Essas ações merecem a atenção de tomadores de decisão, iniciativa privada e de toda a sociedade”, frisa Malu.

O estudo identificou que os manguezais estão presentes em 300 municípios brasileiros - principalmente nas regiões Norte e Nordeste, especialmente no Pará, Maranhão e Amapá -; concentrando 40 milhões de pessoas. Em relação aos biomas, 75% estão conectados com a Amazônia, 18% com a Mata Atlântica, 5% com o Cerrado e 2% com a Caatinga.

Principais ameaças

De acordo com o relatório O Estado dos Manguezais do Mundo 2022, em um período de 24 anos, de 1996 a 2020, o mundo perdeu 5.245 quilômetros quadrados de manguezais, área equivalente a sete cidades de Nova Iorque (EUA) ou o tamanho do Distrito Federal (Brasil). Foi de 152.604 para 147.359 quilômetros quadrados. Estima-se que 60% das perdas de manguezais foram ocasionadas por ações humanas.

As principais causas são a produção de commodities na aquicultura e agricultura, alterando áreas de manguezal para cultivar camarões, peixes, arroz e palma; o desmatamento para extração de carvão vegetal e madeira; o desenvolvimento urbano, com construções indevidas em áreas de manguezal; técnicas predatórias de pesca, como a pesca de arrasto e sem respeitar períodos de defeso das espécies; a poluição provocada por resíduos químicos, agrotóxicos, derramamentos de óleo, lixo e esgoto; o aumento do nível do mar e outras influências relacionadas às mudanças do clima.

Apenas cinco países con​centram cerca de 50% das áreas de manguezais do mundo: Indonésia (20% do total), Brasil (8%), México (7%), Austrália (7%) e Nigéria (6%). No mundo, os manguezais estocam 22,86 bilhões de toneladas de CO2, segundo a Global Mangrove Alliance.

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