Lideranças de São Félix do Xingu convocam reunião para acabar com fiscalização contra desmatamento
Mobilização, que tem apoio de parlamentares, ocorre em meio à Operação Curupira, anunciada pelo governo do Pará, de acordo com site
O governo do Pará anunciou, no dia 15 deste mês, a Operação Curupira, com o objetivo de combater a exploração ilegal de recursos naturais, degradações ambientais, incêndios florestais e outros atos ilícitos que causam impactos à natureza, em São Félix do Xingu. Em meio a esse trabalho, áudios atribuídos a lideranças locais do município convocam a população local para uma reunião em favor dos afetados pela operação. "Não é reunião política, é reunião para tirar essa fiscalização da área, que está prejudicando a população de bem", diz uma das gravações, obtidas pelo Estadão.
Ouça:
Parlamentares paraenses são citados nos áudios. Conforme as gravações, o senador Zequinha Marinho (PL-PA), o deputado Federal Caveira (PL-PA) e o deputado estadual Toni Cunha (PSC) estariam apoiando a mobilização. "Aí o senador Zequinha Marinho está vindo fazer essa audiência pública, não concorda com isso. Não é justo, é inconstitucional o que eles estão fazendo", diz um trecho.
"Toda a população de bem que defender a classe, que defender a população, tem que estar presente na reunião. É contra esses atos terroristas isso é um verdadeiro terror que estão causando com a nossa população", afirma uma liderança em outro áudio compartilhado.
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Em resposta ao Grupo Liberal, os três políticos confirmaram que devem participar da reunião agendada para esta sexta-feira (24). O senador Zequinha Marinho afirmou que foi convidado pela Associação Agropecuária dos Produtores da Terra do Meio (Xinguri) devido a denúncias de que a Operação Curupira estaria atuando “apenas em cima de pessoas humildes, de pequenos produtores”. Nesse sentido, a assessoria do parlamentar disse em nota que objetivo do encontro seria “entender a situação ali posta e verificar como podemos ajudar a construir uma proposta junto à população com o Estado e pactuar, daqui para frente, um novo modus operandi que assegure que as boas práticas ambientais retornem”.
O deputado federal Delegado Caveira também disse estará em São Félix do Xingu para ouvir o setor produtivo e pessoas que teriam sido alvo de “possíveis investidas ilegais, abusivas dos órgãos governamentais”. “A grande maioria são trabalhadores honestos, que querem apenas oportunidade para regularizar suas áreas e continuar produzindo e sustentando suas famílias”, disse o deputado que acrescentou: “Não admitiremos abusos e ou ações ilegais. O Estado está para pacificar e trazer benfeitoria pra população”.
Já o deputado estadual Toni Cunha reiterou que a reunião visa ouvir a população e produtores rurais sobre as supostas investidas dos órgãos estaduais e federais na região. “Não vamos fugir da nossa responsabilidade de defender quem produz, acaso estejam sendo violados em seus direitos. Não se trata de impedir ou condenar ações legítimas do poder público, mas de evitar que o abuso possa, acaso constatado, continuar ocorrendo”.
A reportagem tentou contato com a Associação Xinguri, mas não obteve retorno.
Secretário de Segurança Pública diz que objetivo da “Operação Curupira” é coibir apenas ações ilegais
Sobre os áudios que circulam pela internet, convocando a população para a reunião em São Félix do Xingu, o secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, Uálame Machado, disse que a “Operação Curupira” tem como objetivo coibir apenas as ações ilegais que estão ocorrendo dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, a qual se se estende pelos municípios de São Félix do Xingu e Altamira. “O direito da sociedade de promover reuniões é legítimo, mas, pelo que estamos percebendo, essa não é uma pauta de toda a sociedade de São Félix do Xingu, mas sim de alguns políticos e de alguns setores interessados em atividades ilegais, como é o caso, por exemplo, do garimpo realizado dentro de terras indígenas”, pontuou.
Segundo o secretário, com a “Operação Curupira”, o Governo do Pará visa combater o desmatamento, as queimadas e o garimpo ilegal nas áreas que são de jurisdição estadual, como é o caso da APA. “Inclusive, teremos, amanhã (sexta-feira), em Brasília, uma reunião com o governo federal para alinhar operações conjuntas, já que agora estamos atuando apenas no limite do que é de jurisdição estadual. O que for de competência federal, como é o caso das terras indígenas, será tratado pelos órgãos federais”, completou.
Ainda de acordo com Uálame, o Governo do Estado já vinha se fazendo presente nesses municípios - apontados como aqueles em que há a maior ocorrência de desmatamento, por exemplo - por meio da “Operação Amazônia Viva”, que vem desde o início desta gestão. “Para se ter ideia, a ‘Amazônia Viva’, que é uma operação sazonal, já está na 30ª fase e ela já passou por muitos dos municípios que agora serão alvo da ‘Operação Curupira’. Então, nesses lugares, as pessoas com certeza já sabem o que é legal ou não. E o nosso objetivo, em momento algum, é combater atividades legais, muito pelo contrário, quem está legal não precisa se preocupar com nada”, assegurou.
Iniciada no último dia 15, a “Operação Curupira”, segundo o secretário, já conseguiu inibir alguns focos de desmatamento que estavam sendo visualizados por meio de satélites dentro da APA Triunfo do Xingu. “Como esses focos já estão controlados, estamos partindo para outras atividades, como criação de gado e localização de alguns equipamentos utilizados para ações ilegais. Já encontramos alguns e estamos vendo a possibilidade de repassá-los para prefeituras, a fim de que possam ajudar a população. Não costumamos destruir esses maquinários, mas sim dar uma utilidade, ou, quando não é possível, apenas os inutilizamos”, frisou.
Uálame explicou ainda que São Félix do Xingu é o primeiro município a receber uma base da “Operação Curupira”, a qual foi instalada dentro de um batalhão da Polícia Militar (PM). Neste sábado, 25, será implantada a segunda base da operação, no município de Uruará e, em mais alguns dias, será a vez da terceira base, desta feita em Novo Progresso. “Assim esperamos estar, até o início de março, com as três bases em funcionamento, cobrindo as áreas da BR-163, da Transamazônica e dessa área que envolve São Félix do Xingu e Altamira”, concluiu.
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