É raposa ou cachorro? Conheça a história do animal híbrido encontrado no Rio Grande do Sul
Essa foi a primeira vez que um híbrido desse tipo foi detalhadamente descrito na América do Sul, embora casos semelhantes tenham sido registrados em outras regiões do mundo
Após dois anos do resgate de um animal selvagem que lembrava um cachorro atropelado, pesquisadores concluíram, este ano, que na verdade ele era um híbrido. O bicho estava às margens do município de Vacaria, no Rio Grande do Sul. O biólogo Herbert Hasse Junior, em colaboração com a patrulha ambiental local, buscou a fêmea ferida e não imaginava a quantidade de desdobramento haveria na história.
No primeiro momento, o bicho foi levado até hospital veterinário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que possui especialistas em casos desse tipo. Outra pesquisadora chamada Flávia Ferrari, ao retirar o animal da caixa de transporte, notou que ele era notavelmente diferente de um graxaim-do-campo. Essa espécie, semelhante a uma raposa, nativa da América do Sul, com uma pelagem bege e cinza.
Embora chamada de raposa, ela é uma espécie distinta. O comportamento do animal também não se assemelhava ao de um cachorro doméstico. Surpreendentemente, recusou-se a comer ração, mas quando ofereceram pequenos roedores, similar a um graxaim-do-campo, devorou a refeição. Essa descoberta levou a um segundo envio do animal ao setor de animais silvestres. Mesmo depois de consultar o geneticista Thales Renato Ochotorena de Freitas, do Instituto de Biociências da UFRGS, a incerteza persistiu.
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A cor da pelagem escura chamou a atenção do cientista e o animal latia como um cão doméstico, diferente de um graxaim-do-campo, que emite um ganido breve e agudo. Freitas então recorreu a outros dois especialistas para resolver o mistério. Com ajuda do citogeneticista Rafael Kretschmer, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), foi então pedido um examente para a contagem dos cromossomos do animal. Os cães domésticos têm 78 cromossomos, enquanto os graxains-do-campo têm 74. No entanto, o animal tinha 76 cromossomos, indicando uma mistura de ambas as espécies.
Para confirmar, a bióloga Bruna Elenara Szynwelski, da UFRGS, analisou os genes do híbrido. A linhagem materna foi identificada como graxaim-do-campo, mas o DNA completo mostrou trechos de genes exclusivos de cães e outros presentes nos graxains-do-campo. Essa foi a primeira vez que um híbrido desse tipo foi detalhadamente descrito na América do Sul, embora casos semelhantes tenham sido registrados em outras regiões do mundo. Os resultados foram publicados na revista científica Animals em agosto deste ano.
Após a recuperação das lesões causadas pelo atropelamento, o animal foi castrado e transferido para o Mantenedouro São Braz, um santuário e zoológico em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
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