Dinossauro brasileiro exposto na Alemanha é alvo de campanha de repatriação
Com o movimento #IrritatorBelongstoBR, pesquisadores buscam pressionar pela devolução do crânio do dinossauro, encontrado na Chapada do Araripe e levado ilegalmente para a Europa nos anos 1990

Um grupo de cientistas brasileiros e internacionais está mobilizando esforços para repatriar o fóssil do dinossauro Irritator challengeri, atualmente em exibição no Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha. O fóssil de um dos mais importantes dinossauros já descobertos no Brasil, foi extraído ilegalmente da Chapada do Araripe, na divisa dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, nos anos 1990.
A campanha, batizada de #IrritatorBelongstoBR (Irritator Pertence ao BR), exige que a Alemanha reconheça a ilegalidade da posse do crânio e o devolva ao seu território de origem: o sertão do Cariri, no Ceará. Para ampliar a pressão, os organizadores estão recolhendo assinaturas de pesquisadores e do público geral. O abaixo-assinado, que iniciou no último dia 8 de abril, tem como meta 15 mil assinaturas e, até a publicação desta matéria, chegou a 14,5 mil assinaturas.
O que é o dinossauro Irritator challengeri?
O Irritator challengeri é um dos dinossauros mais importantes já descobertos no Brasil. Seu único exemplar fóssil foi encontrado na Chapada do Araripe, uma das regiões mais ricas em fósseis do mundo. Esse espécime é o holótipo da espécie, ou seja, a referência oficial usada para sua descrição científica.
Com um dos crânios mais completos já registrados entre os espinossaurídeos (grupo que inclui o famoso Spinosaurus), o Irritator é essencial para entender:
- A evolução dos dinossauros predadores semiaquáticos;
- A biodiversidade do período Cretáceo no Gondwana (supercontinente que incluía a América do Sul);
- Adaptações únicas, como focinhos alongados para caça em ambientes aquáticos.
VEJA MAIS
Por que o Irritator deveria estar no Brasil?
Patrimônio Nacional Protegido por Lei
Desde 1942, a legislação brasileira considera fósseis como propriedade da União. O artigo 216 da Constituição Federal reforça que eles são patrimônios culturais do país, proibindo sua comercialização ou exportação ilegal.
Fomento da ciência brasileira
Enquanto museus europeus exibem o Irritator, pesquisadores brasileiros têm acesso limitado ao fóssil. Sua devolução permitiria:
- Estudos avançados por paleontólogos locais
- Exposição pública em museus da Chapada do Araripe
- Turismo científico na região onde foi encontrado
Entenda a polêmica com a Alemanha
O Irritator está no Museu Estadual de História Natural de Stuttgart desde 1991. Em 2023, uma carta com duas mil assinaturas foi enviada ao governo alemão exigindo sua repatriação – mas até hoje não houve resposta. A carta, em inglês, pode ser lida na íntegra clicando aqui.
Os cientistas brasileiros afirmam que fóssil foi levado ilegalmente para a Europa nos anos 1990 e descrito em 1996 por cientistas estrangeiros – sem participação brasileira ou autorização do governo. O diretor do Museu de Arqueologia e Paleontologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Juan Cisneros, explicou G1 Piauí, em 2023, que o fóssil não pode ter saído do Brasil por vias legais.
“Com certeza ele não saiu legalmente, porque os fósseis são propriedade da União. Eles não podem ser comercializados, e o museu que é o detentor atual do fóssil lá na Alemanha menciona que eles compraram o fóssil nos anos 90, então ele certamente saiu por meios obscuros, talvez disfarçado”, detalhou Juan.
Segundo Leonardo Troiano, na página de abaixo assinado, o próprio nome "Irritator" vem da frustração dos pesquisadores alemães ao descobrirem que o fóssil havia sido adulterado por traficantes.
Outro dinossauro brasileiro já foi repatriado da Alemanha
O caso lembra o do Ubirajara jubatus, outro dinossauro brasileiro, mas que devolvido pela Alemanha em 2023 após pressão internacional. Agora, o movimento #IrritatorBelongsToBR busca repetir o sucesso.
O fóssil do Ubirajara jubatus, dinossauro que viveu no Ceará há cerca de 110 a 115 milhões de anos, foi repatriado ao Brasil em 2023, após campanha iniciada em 2020. O espécime, que havia sido levado ilegalmente para a Alemanha em 1995, retornou ao país graças a um acordo diplomático.
A ministra do Exterior alemã, Annalena Baerbock, trouxe o fóssil em sua visita oficial ao Brasil, acompanhada pelo ministro do Trabalho alemão, Hubertus Heil. A devolução foi um marco na luta contra o tráfico internacional de fósseis, uma prática que ainda coloca peças brasileiras em museus da Europa e dos Estados Unidos.
A devolução contou com a articulação de importantes instituições, que pressionaram pela repatriação desse patrimônio paleontológico. Entre os principais atores estão: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que liderou as negociações científicas e legais para assegurar o retorno do fóssil; o Instituto Guimarães Rosa, que apoiou a mobilização internacional, destacando a importância cultural e histórica do dinossauro brasileiro; e a Embaixada da Alemanha no Brasil, que facilitou o diálogo diplomático entre os dois países, assegurando a devolução oficial.
Como apoiar a campanha de repatriação do Irritator?
- Assinando o abaixo-assinado. Clique aqui para acessar.
- Divulgando a campanha nas redes sociais.
O prazo para assinaturas vai até 28 de agosto, e o documento será enviado em 4 de setembro.
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