Com alta registrada na pandemia, morte materna preocupa órgãos de saúde

No Brasil, o número chegou a 71.879. Neste dia 28 de maio, celebra-se o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna

O Liberal
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Cerca de 287 mil mulheres morreram durante a gravidez, o parto e o puerpério em 2020 no mundo todo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), e quase 95% de todas as mortes maternas ocorreram em países de baixa e média renda, sendo que a maioria poderia ter sido evitada. No Brasil, o número chegou a 71.879. Neste dia 28 de maio, celebra-se o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.

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A mortalidade materna aumentou 15% entre 2016 e 2020 nos países da América Latina e do Caribe, com 8.400 mortes de mulheres a cada ano. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), "um retrocesso de 20 anos na saúde materna na região", após uma redução de 16,4% entre 1990 e 2015.

A meta é que haja menos de 30 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos. Já hoje, são 68 mortes por 100 mil nascidos vivos, bem acima do estipulado. A OMS define óbito materno como a morte de uma mulher, ocorrida durante a gestação, parto ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, por qualquer causa relacionada com a gravidez, não incluídas causas acidentais ou incidentais.

Dados

O Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna, do Ministério da Saúde, aponta que, em 2020, 71.879 mulheres morreram durante a gravidez, o parto ou puerpério no Brasil. Em 2022, dados preliminares mostram que foram 66.862 mortes maternas.

Já um estudo do Observatório Covid-19 Fiocruz revela que, em 2020, houve alta de óbitos maternos em 40%, quando comparado com números dos anos anteriores. Mesmo considerando a expectativa de aumento das mortes em geral em decorrência da pandemia de covid-19, ainda assim houve um excesso de 14%.

O estudo identificou as características clínicas e manejo clínico das mulheres grávidas e puérperas atendidas por covid-19. As chances de hospitalização de gestantes com diagnóstico da doença foram 337% maiores. Para as internações em UTI, as chances foram 73% maiores e o uso de suporte ventilatório invasivo 64% acima em relação aos demais pacientes com covid-19 que morreram em 2020.

Vulnerabilidade

As gestantes mais vulneráveis foram as mais afetadas, de acordo com o estudo da Fiocruz. As chances de uma mulher negra, residente da zona rural e internada fora do município de residência entre os óbitos maternos foram 44%, 61% e 28% maiores em comparação ao grupo controle. Ao longo de 2020, o país registrou 549 mortes maternas por covid-19, principalmente em gestantes no segundo e terceiro trimestre.

De acordo com o principal investigador do estudo, Raphael Mendonça Guimarães, pesquisador da Fiocruz, "o excesso de óbitos teve a covid-19 não apenas como causa direta, mas inflacionou o número de mortes de mulheres que não conseguem acesso ao pré-natal e condições adequadas de realização do seu parto no país".

Ainda segundo Guimarães, o atraso do início da vacinação entre as grávidas e puérperas "pode ter sido decisivo na maior penalização destas mulheres". O cenário compromete o desafio de alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) até 2030. 

O estudo utilizou dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) para óbitos por covid-19 nos anos de 2020 e 2021, e comparou com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade no ano de 2020 (quando já havia pandemia) e nos cinco anos anteriores, para estimar o número esperado de mortes maternas no país.

Pré-natal 

Fundamental para melhorar e evitar problemas para a mãe e a criança, o acompanhamento médico durante os nove meses de gravidez pode diminuir a mortalidade materna. Nesse momento, são avaliados o histórico da mulher, o cenário em que ela está inserida, as medicações que usa, sintomas e queixas, além de serem feitos exames físicos completos e colocar a gestante em contato com enfermeiras obstetras ou obstetrizes, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e outros especialistas.

A obstetra Larissa Flosi explica que, embora a covid não seja mais emergência em saúde pública de importância internacional, o coronavírus ainda circula e a vacinação continua sendo fundamental, principalmente para as grávidas.

“É importante que as gestantes se protejam contra a covid: usar máscara em lugares de muita aglomeração, evitar contato com pessoas doentes e se vacinar. A vacinação ajuda a reduzir a mortalidade materna. Isso também faz parte das políticas públicas, incentivar a vacinação. Para as mulheres, indico buscar um pré-natal de qualidade onde você seja ouvida e ajude-a realmente a assumir esse papel de protagonista. O pré-natal é essencial para que a gente tenha bons desfechos”, orienta a médica. 

Ação

Uma das principais estratégias do Ministério da Saúde implementa, em parceria com os Estados e municípios, para o enfrentamento à mortalidade materna e infantil é a Rede Cegonha, criada em 2011 e desenvolvida para assegurar às mulheres o direito ao planejamento da gravidez e a atenção humanizada no período da gestação, parto e puerpério e às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis.

A pasta também atua no fortalecimento das redes de serviços de atenção ao parto e, neste ano, em alusão ao mês de enfrentamento à mortalidade materna, o Ministério também aderiu aos 10 passos do Cuidado Obstétrico para Redução da Morbimortalidade Materna, além de já seguir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que tem, entre as metas, a redução da mortalidade materna no Brasil até 2030.

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