Caso Mãe Bernadete: família rejeita linha de investigação do assassinato
Segundo os familiares, o envolvimento com o tráfico seria uma forma de "cala a boca"
Jurandir Wellington Pacífico, filho de Mãe Bernadete, rejeitou a linha de investigação que associa o assassinato da liderança quilombola ao tráfico de drogas em Simões FIlho (BA), no município do quilombo Pitanga dos Palmares. Ele alegou que pessoas envolvidas com o tráfico teriam sido contratadas para esconder o envolvimento de “gente grande por trás” do crime. No último 17 de agosto, a Yalorixá foi assassinada na casa onde morava com 22 tiros.
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Passados três meses do assassinato, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), com base em investigação realizada pela Polícia Civil do estado, apresentou denúncia contra cinco suspeitos de participarem do crime, dos quais quatro integram uma facção criminosa ligada ao tráfico de drogas.
O grupo foi acusado de homicídio qualificado por motivo torpe, de forma cruel, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima. De acordo com uma nota da Polícia Civil, a “principal motivação foi a retaliação de um grupo responsável pelo tráfico de drogas naquela região”.
Jurandir Pacífico, no entanto, discorda da hipótese. “O tráfico de drogas foi contratado para eliminar Mãe Bernadete porque se der problema cai no colo do tráfico. Isso porque tem gente grande por trás. Então, fica muito fácil colocar a culpa no tráfico para se livrar. Está todo mundo vendo que isso foi um cala a boca, tá na cara. Ainda mais que os caras conheciam minha mãe e não queriam problema com minha mãe. Foi um cala a boca, porque o crime repercutiu”, afirmou.
Ele falou ainda que a família e a comunidade de Pitanga dos Palmares são contrários a essa linha de investigação, e contou que peritos particulares foram contratados para analisar as investigações. Uma das evidências apontadas pela polícia é um áudio de um dos suspeitos, no qual ele fala que Mãe Bernadete mandaria a polícia atrás dos demais suspeitos.
“Fiquei sabendo aqui no quilombo que Bernadete falou que no dia da festa vai cercar tudo de polícia para pegar todo mundo aí. Ela está mandando um carro preto cheio de polícia para tirar foto das barracas aí”, diz um dos áudios atribuído a um dos suspeitos.
Segundo Jurandir, o áudio não tem relação com a morte de Bernadete. “O áudio não tem nada a ver com o tráfico, tem a ver com retirada ilegal de árvores que minha mãe denunciou”, contou.
Divergências
De acordo com o advogado da família, Hédio Silva Júnior, até o momento a defesa só teve teve acesso à íntegra do inquérito da Polícia Civil e aguarda a liberação dos três inquéritos ou procedimentos que tramitam na Polícia Federal e no Ministério Público Federal, entre eles o do assassinato do filho de Mãe Bernadete, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo. A família acredita em uma possível relação entre o mandante do assassinato de Binho e o da Mãe Bernadete.
“Para a gente ter uma posição conclusiva, nós precisamos analisar os quatro procedimentos, três deles ainda estamos viabilizando esse acesso. Somente depois da leitura do conjunto da obra que vou poder te dizer algo substantivo, se há coesão e solidez ou não”, ponderou Hédio.
Hélio informou ainda que participou de reunião com diversas autoridades em Salvador e que só teve acesso aos documentos do inquérito da Polícia Civil há três dias. Porém, logo de início ele o avaliou que “há discrepâncias que chamam atenção”.
Em nota enviada à Agência Brasil, o Ministério Público reiterou a motivação do crime pelo tráfico de drogas, informou que já se manifestou à sociedade anteriormente e que atuará para que os denunciados sejam levados a julgamento popular. Já a Polícia Civil respondeu que não irá se manifestar sobre o caso.
(*Kamila Murakami, estagiária de jornalismo sob a supervisão de Felipe Saraiva, editor web de OLiberal.com)
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