Cartéis de drogas de Miami, Medellín e Sinaloa atuam em área onde Bruno e Phillips desapareceram
Grupos criminosos estão em plena atividade pelos rios, florestas e cidades da tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru
Comunidades ribeirinhas como as de São Rafael, São Gabriel e Ladário, nas margens do Rio Itaquaí, que deságua no Javari, afluente do Solimões, sofrem forte influência do tráfico. Foi justamente de São Rafael que o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips saíram rumo a Atalaia do Norte, no domingo (5) e nunca mais foram vistos. As informações sigilosas ao qual o Estadão teve acesso revelam que uma cadeia criminosa atua na tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru, incluindo cartéis de drogas de Miami, Medellín e Sinaloa, que mantêm um Estado paralelo no Alto Solimões, na Amazônia.
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Documentos e conversas com agentes ligados às investigações, autoridades da segurança pública do Amazonas, advogados que atuam na fronteira, ribeirinhos, indígenas e pessoas com acessos a traficantes de drogas possibilitaram a reconstituição da rede do crime.
De acordo com a reportagem do Estadão, o megaesquema de transporte de armas e drogas, pistolagem e lavagem de dinheiro tem impacto na economia de nove municípios com o mercado de entorpecentes e de pesca e caça ilegais em uma região de 213 mil km² de floresta, maior que o território do Estado do Paraná.
Até o momento, apenas uma pessoa foi apontada como suspeita no desaparecimento de Bruno e Phillips: Amarildo Costa, o Pelado, preso temporariamente. Uma das hipóteses é que um atravessador com dupla nacionalidade, conhecido como Colômbia, que tem propriedades em Benjamin Constant, tenha dado a ordem para o suspeito matar Pereira por causa de prejuízos ao negócio ilegal da pesca que o indigenista vinha causando com fiscalizações. O indigenista havia treinado uma equipe de vigilância indígena capaz de documentar a ação de infratores em territórios preservados, e a medida prejudicava o fluxo criminoso.
Numa apreensão no dia 23 de março, Bruno Pereira causou um prejuízo avaliado em mais de R$ 120 mil a exploradores de pesca ilegal, segundo relatos de fontes que atuam nas investigações.
Intermediários
Traficantes que dominam as calhas dos rios Ituí, Itaquaí e Javari estariam atuando como “capatazes” para intermediários que, em cidades como Tabatinga, assumem negócios legais, como restaurantes, cafés e hotéis, para lavar dinheiro. Esses intermediários prestam contas a líderes dos cartéis internacionais.
Amigos de Pelado continuam entrando e saindo de terras indígenas com embarcações que levam freezers para pescados. Entre eles está um homem conhecido como Caboclo, monitorado pela polícia e que já prestou depoimentos. Até agora, é tratado como testemunha.
Criminosos ambientais
De acordo com o delegado Jorge Pontes, responsável pela criação da Divisão de Repressão aos Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF, nos anos 2000, o interesse de narcotraficantes em explorar criminosos ambientais se dá pela diferença nas punições aos dois crimes. “Os traficantes perceberam que essas atividades são extremamente lucrativas e a reprimenda para esses crimes ambientais é muito baixa”, disse Pontes. “E os crimes ambientais têm suporte de políticos, porque essas atividades financiam campanhas.”
Assim que Amarildo foi preso, dois procuradores de Atalaia do Norte, assumiram a defesa do pescador. Segundo o Estadão, eles foram escolhidos pelo prefeito Denis Paiva (PSC), que justificou a “coincidência” dizendo que faltam advogados no município.
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