Ativistas antiaborto chamam médicos de assassinos
Grupo foi ao local após a extremista Sara Giromini divulgar nome da criança vítima de estupro e o hospital onde ela estava
Ativistas antiaborto fizeram uma manifestação em frente ao hospital, no Recife (PE), onde a menina de 10 anos, que foi estuprada seguidas vezes pelo tio e engravidou, está internada. O grupo foi ao local depois que a extremista Sara Giromini divulgou em um vídeo o nome da criança e o hospital onde ela estava, contrariando o Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê a preservação de nomes de vítimas de violência. O aborto foi autorizado pela Justiça.
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Sara, que havia sido presa pela Polícia Federal durante apuração de organização dos atos antidemocráticos em Brasília, teve seu perfil no Twitter bloqueado, mas ele fez um alternativo e divulgou o nome da criança.
Médicos foram chamados de assassinos pelo grupo, de acordo com a direção do hospital, que chamou essas pessoas de “fundamentalistas religiosas”. A unidade foi cercada pelos radicais, que queriam invadir o loca, e os médicos sofreram agressões verbais. Outro grupo, agora de manifestantes em defesa dos direitos sexuais e reprodutivos, foi ao local para tentar impedir que os ativistas antiaborto invadissem o hospital. Mas foi a PM que não deixou a invasão ocorrer.
“Me surpreende ver tantas pessoas reunidas, num momento de pandemia, sem respeitar recomendações sanitárias, gritando na porta de uma maternidade, nos agredindo, chamando de assassino”, afirma a coordenadora do hospital.
“A diretoria da instituição lamenta o ocorrido, e mais do que nunca defendemos a vida das mulheres e a garantia de seus direitos sexuais e reprodutivos. Temos lutado pela efetivação desses direitos no SUS, para que todas as mulheres tenham um atendimento digno”, declarou ela.
A criança, com cerca de 20 semanas de gravidez, enfrenta, de acordo com fontes, problemas de saúde. Ela tem direito de realizar o aborto legal por ter sido vítima de violência sexual e pelo risco de morte materna.
Recusa
Antes de ir para a unidade onde está, a criança foi para o hospital de referência de Vitória. Mas, apesar da decisão judicial, alegou questões técnicas para não fazer o procedimento. O hospital alegou que o tempo de gestação estava avançada e, portanto, não era amparada pela legislação. Ela teve que ser transferida.
A advogada Sandra Lia Bazzo Barwinski, do Comitê da América Latina e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem Brasil), explica que não há nenhum tipo de limite de tempo.
“O Código Penal diz que não é crime o aborto, com consentimento da gestante e praticado por médico, quando houver risco de vida à gestante ou for decorrente de estupro. Nosso código não coloca data, peso, limite. Se uma paciente chegar com gestação de seis, sete, oito meses e estiver correndo risco de morte, o médico vai avaliar o risco e dar opção de fazer a antecipação do parto para salvar a sua vida”, afirma a advogada.
A advogada, que acompanha o caso, afirma que a menina está com diabetes gestacional. “A criança está doente, o que potencializa o risco de morte dela. É uma emergência médica e numa emergência médica não há objeção de consciência, pela ética médica. Era obrigação do serviço de saúde prestar assistência médica.”
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