Belém 408 anos: República no Pará foi marcada por disputas políticas e exaltação ao regime

Republicanos que ascenderam ao poder fizeram questão de, logo nos primeiros dias após a Proclamação, mudar os nomes de qualquer logradouro que fizesse alusão ao Império

Ádria Azevedo | Especial para O Liberal
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Assim como as transformações propiciadas pelo período áureo da borracha marcaram as configurações de Belém, de uma forma que pode ser percebida até hoje, o mesmo acontece com os efeitos da época inicial da República na cidade. Os primeiros anos republicanos na capital paraense tiveram ações como a construção de um monumento e a adoção de nomes de logradouros alusivos ao novo regime, além da participação política de personagens cujos nomes marcam o cotidiano de Belém na atualidade.

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A República foi proclamada, no Brasil, em 15 de novembro de 1989, mas só foi aclamada no Pará um dia depois, em 16 de novembro, anunciada por Paes de Carvalho. Na época, Antônio Lemos era o presidente da Câmara Municipal e, como tal, deu posse à Junta Governativa Republicana presidida por Justo Chermont. 

Os ideais republicanos eram marcados pelo positivismo e sua defesa do racionalismo, do progresso e dos avanços científicos e tecnológicos. No Pará, o ideário foi adotado por políticos como Lauro Sodré, Paes de Carvalho e Justo Chermont, que criaram o Clube Republicano do Pará, em 1886, para tentar articular a sociedade em torno do republicanismo e da derrubada na monarquia. As elites da borracha também estavam envolvidas com esse ideário, associado ao progresso e à modernidade.

Cerca de um mês após a proclamação da República a nível nacional e a aclamação dela no Pará, o Clube Republicano tornou-se o Partido Republicano Paraense (PRP), reunindo os políticos que estavam no poder. Um pouco antes, havia sido criado também o Partido Republicano Democrático (PRD), de oposição, aglutinando membros dos partidos monarquistas Liberal e Conservador.

Com essa divisão partidária, a imprensa da época estava alinhada a um ou outro partido e participava do embate de ideias entre as duas tendências: os jornais A República, A Província do Pará (de propriedade de Antônio Lemos) e O Pará enalteciam o governo republicano no estado e na capital. Já os jornais o Democrata e Folha do Norte criticavam as ações do grupo que estava no poder.

De acordo com Nazaré Sarges, historiadora e professora da Universidade Federal do Pará, no estado sempre houve disputas políticas, muitas vezes reflexos das que ocorriam a nível nacional. “Havia uma grande necessidade local de inserção no mundo político nacional e é claro que a economia da borracha, que nestes anos iniciais da República havia suplantado a economia cafeeira, propiciou a reivindicação desta participação na política central. Não é à toa que se destacam, neste cenário, figuras como Lauro Sodré e Arthur Lemos”, explica.

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Homenagens à República

Os anos iniciais da República, no Pará, foram marcados pelo ciclo áureo da borracha e as consequentes pujança econômica e modernização e urbanização de Belém, com obras financiadas pelo dinheiro da exportação do produto. Essas intervenções foram capitaneadas pelo intendente (correspondente ao atual cargo de prefeito) Antônio Lemos, que governou a capital de 1897 a 1911. A nível estadual, governavam o Pará Justo Chermont, de 1889 a 1891, Lauro Sodré, de 1891 a 1897, e Paes de Carvalho, de 1897 a 1901.

Já nos primeiros dias do novo governo republicano constituído, a Câmara Municipal, presidida por Antônio Lemos, aprovou a proposta de mudança de nomes de ruas e outros logradouros que faziam alusão ao Império, modificando-as para homenagear o novo regime. Ainda em novembro de 1889, as Ruas do Imperador e da Imperatriz viraram, respectivamente, da República e 15 de Novembro. Em dezembro, a Estrada São José virou 16 de Novembro; a Avenida 2 de Junho, data de aniversário de D. Pedro II, passou a se chamar Generalíssimo Deodoro, proclamador da República; e a Praça D. Pedro II se tornou a Praça da República.

Com a mudança de regime, mudaram também seus símbolos. Por isso, era necessário apagar os resquícios da monarquia, propagandear as virtudes da República e redefinir a identidade coletiva. Outra ação nesse sentido foi a construção do Monumento à República, na praça de mesmo nome. 

Com 20 metros de altura e feito em mármore e bronze, o monumento é composto por um pedestal, um conjunto de esculturas e uma coluna. No topo desta coluna fica a figura principal: Marianne, personificação da República francesa. Inaugurada em 15 de novembro de 1897, a obra foi uma iniciativa de Justo Chermont e criada pelo escultor genovês Michele Sansebastiano.

Hoje em dia, também percebem-se as marcas deixadas pelas figuras históricas dos anos iniciais da República, que nomeiam prédios e logradouros em Belém: Antônio Lemos, Paes de Carvalho, Justo Chermont, Lauro Sodré, Gentil Bittencourt, Augusto Montenegro e vários outros.

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