Venezuelano faz sucesso vendendo suco de laranja na Cidade Velha
Luis veio em busca de uma vida melhor para e para a família e diz se sentir abençoado por ser tão bem tratado pelos brasileiros: "É uma gente muito muito boa"
No encontro entre as ruas Óbidos e Breves, no bairro da Cidade Velha, um vendedor chama atenção dos transeuntes: embaixo da árvore, de boné, ele senta diante de uma mesa com vários copos e uma jarra de suco de laranja.
Nas redes sociais houve quem o comparasse com o personagem Chaves, no episódio célebre da venda de suco de limão que tinha gosto de tamarindo, um dos mais famosos do seriado mexicano.
Mas Luis Alexander Román Navas vem de outro canto da América Latina. Ele tem 36 anos e nasceu em um povoado próximo da cidade de Valência, na Venezuela, e está em Belém há três meses.
"Vim por uma vida melhor para mim, para minha família", conta ele, que é pai de dois filhos. Luís chega por volta das oito da manhã para o expediente e sai perto de duas da tarde, para descansar antes do segundo round. De noite, ele trabalha em um restaurante nas proximidades, onde faz churrasco.
"Quando você tem uma situação ruim no país onde mora, muitas pessoas te ajudam a seguir em frente. Mas não gosto de ficar em uma esquina pedindo. Se você tem duas mãos e duas pernas, pode trabalhar", diz ele.
Crise na Venezuela aumentou imigração
Luís é um dos quase 260 mil venezuelanos que vivem atualmente no Brasil, segundo estimativas do governo federal. Desde 2014, com o agravamento da crise socioeconômica no país vizinho, eles vivem uma diáspora rumo a países onde a inflação não os impede de ter o que comer e vestir todos os dias.
"Aqui você sai e trabalha com qualquer coisa. Se quiser vender água, vende. Você consegue dinheiro pois há dinheiro circulando nas ruas. Então você pode juntar e enviar um pouco para a família. Mas lá, o dinheiro não vale nada, por conta da inflação", descreve ele, que trabalhava como encarregado de uma granja de porcos na Venezuela.
Ele mesmo produz sucos de laranja em casa, onde vive com o irmão, a cunhada e a sobrinha, também venezuelanos. Luís conta que voltar ao país de origem não está nos planos deles. O sonho é poder trazer os filhos e a esposa para cá e comprar roupas e sapatos para eles com o dinheiro que ganha.
Só vendendo sucos, em dias quentes, Luis chega a faturar R$ 100, com copos pequenos de R$ 3 e os maiores que custam R$ 5. E o sucesso o fez até ampliar a estratégia do negócio, com vendas por encomenda para quem quer levar logo uma garrafa de um litro para matar o calor.
"Não quero voltar porque tenho um projeto a longo prazo. Vim para cá para melhorar e, não, retroceder". Já o plano em curto prazo, por enquanto, é outro: "aprender português. Já falo pelo menos um pouquinho", diz.
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