Uma semana depois de baleamentos, medo paralisa trabalhadores do Paracuri

Após ação policial que matou colega, barreirenses de Icoaraci não voltaram aos rios

Dilson Pimentel
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Uma semana após a operação que a Polícia Militar realizou nos bairros do Tapanã e Paracuri, e que resultou no baleamento de quatro trabalhadores, dos quais um morreu, os barreirenses, como são chamados aqueles que extraem argila, ainda não voltaram a retirar esse material dos rios. Motivo: medo. 

A suspensão dessa atividade afetou a produção de artesanato no Paracuri, em Icoaraci, que abastece, ainda, Belém, municípios do interior e outros Estados. A argila é a matéria-prima para a produção das peças de cerâmica.

Ontem pela manhã, um comerciante queria comprar 50 bolas (tabletes) de argila em uma olaria, no Paracuri. Mas, por falta do material, só comprou 12 (o total disponível), que transportará para Manaus. A unidade, antes, custava R$ 7.  Mas como está em falta, aumentou para R$ 10.

BALEADOS

Dos três trabalhadores baleados, apenas um, Daniel dos Anjos, 24 anos, continua hospitalizado. Baleado na perna, ele está internado no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência. Ferido duas vezes no braço, Jucivaldo dos Santos Guedes, 47 anos, recebeu alta no começo desta semana. Seu filho, Danilo Guimarães, 18, igualmente ferido no braço, foi liberado no mesmo dia do baleamento, na quinta-feira (21).

Os policiais militares informaram que realizaram uma operação para prender traficantes. Mas acabaram atirando em inocentes, segundo os familiares das vítimas. Osmair Pereira Monteiro, 42 anos e que era conhecido como Gitão, morreu na hora. Ele estava na mesma canoa que Jucivaldo, Danilo e outro homem, cujo nome, por motivo de segurança, não será revelado.

Ferido, Danilo caiu na água. Como ele não sabe nadar, Gitão o socorreu e o colocou de volta na embarcação, salvando-o. Em seguida, Gitão foi baleado na cabeça e morreu. Familiares contaram que os barreirenses levantaram os braços e disseram que eram trabalhadores. Mesmo assim, foram baleados. A morte revoltou a comunidade do Paracuri, que fez protestos, fechando ruas.

TRABALHADORES DO BARRO

Gitão trabalhava desde os 5 anos de idade. Era apaixonado pela profissão. Tanto que morava na olaria onde trabalhava, na travessa Soledade, em Icoaraci. Dormia em uma rede. Seu guarda-roupa em uma geladeira velha. Todo dia, bem cedo, pegava a canoa, que dividia com outros três trabalhadores, atravessava a rua e seguia pelo rio Paracuri. Extraía argila até 11 horas. Segundo seus amigos e familiares, suas "armas" e dos demais tiradores de barro eram os remos da canoa, a argila e o material de trabalho. 

A reportagem apurou que 12 barreirenses, em três canoas, saíram para extrair argila naquela quinta-feira. Em uma mesma canoa estavam Jucivaldo, seu filho Danilo, Gitão e mais um homem. Só esse último não foi baleado. Em outra canoa, Daniel dos Anjos, 24 anos.

CASO É APURADO

Esses baleamentos ocorreram durante a Operação Diataxi 7. Depois, e no desfecho dessa ação, um quinto homem foi baleado. Breno Farias Sousa, 21 anos, morreu também pela manhã, em troca de tiros na área de atuação da outra frente da operação Diataxi, no conjunto Eduardo Angelim, no Tapanã. Mas ele não era tirador de argila. 

O inquérito, por determinação superior, será transferido à Divisão de Crimes Funcionais da Corregedoria da Polícia Civil. Inicialmente, a ocorrência foi registrada na Seccional de Icoaraci. Também foi solicitada a perícia nas armas dos policiais militares, que já foram encaminhadas à criminalística para essa finalidade.

Esta semana a Polícia Civil disse à redação integrada do portal O Liberal que não tinha ainda o exame da necrópsia do corpo de "Gitão"

Procurada esta quinta-feira (29), a Promotoria Militar do Ministério Público declarou que não vai mais se pronunciar sobre a apuração que abriu sobre a ação policial - e que irá se manifestar apenas pós 40 dias transcorridos.

A Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB-PA) anunciou que passaria a ouvir as vítimas e famílias para esclarecer os fatos ocorridos na operação Diataxi 7. Uma reunião sobre o caso teria sido marcada para a tarde desta quinta (29), mas a OAB não atendeu aos telefonemas do portal O Liberal. A redação segue tentando entrar em contato com a OAB-PA.

      

 

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