Teoria do Elo: violência contra mulheres e animais estão diretamente relacionadas
Pesquisa realizada em Belém, no âmbito da Ufra, aponta que casos de maus-tratos a animais devem alertar para violência contra as mulheres e vice-versa
O homem que pratica maus tratos contra os animais tem mais chances de praticar violência doméstica contra a mulher e vice-versa. Este é o argumento central da Teoria do Elo, ainda recente no Brasil. Em Belém, um estudo desenvolvido na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) atesta essa relação e alerta para a necessidade de investigar ambos os crimes de maneira conjunta.
A pesquisadora responsável pelo estudo, Annanda Pereira, orientada pela socióloga rural Ruth Almeida, conta que começou a se interessar pelo tema ao perceber muitos casos de abandono de animais em situação de maus tratos na Universidade e considerou importante fazer esse levantamento na região.
Apesar da pertinência do tema, Annanda teve dificuldade no levantamento de dados, porque não existe um banco de informações que cruze os registros de violência contra a mulher com as denúncias de maus-tratos aos animais. “Eu levantei dados junto à Deam e à Demapa e falei principalmente com mulheres vítimas de violência. Então, pude constatar que a Teoria do Elo existe, sim, apesar de não haver esse banco de dados”.
Dados da pesquisa e da segurança pública apontam a pandemia como um fator agravante
Os casos de maus-tratos a animais e violência doméstica se agravaram durante a pandemia de covid-19, apesar da subnotificação. Dados da Divisão Especializada em Meio Ambiente e Proteção Animal (DEMAPA) mostram que no ano de 2020, foram registrados 75 boletins de ocorrência sobre maus tratos à animais no estado do Pará. Em 2021, só nos meses de janeiro a março foram registrados 40 boletins.
Já a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) registrou mais de 6.700 casos de violência no ambiente doméstico somente no primeiro semestre de 2021. O número representa um aumento de 12% do registrado no mesmo período de 2020 no estado do Pará.
Para Annanda, esses registros não revelam de fato a realidade. “A gente ainda tem esse problema, porque os números são muito abaixo do que de fato acontece, assim como violências domésticas ainda são muito mais notificadas que os maus-tratos aos animais”, afirma a pesquisadora.
Resultados da pesquisa apontam necessidade de políticas públicas direcionadas
Uma das conclusões mais importantes do trabalho afirma que, em muitos casos, o homem agride os pets para coagir e ameaçar a mulher, “ele quer mostrar que se ele bate no animal, ele pode bater nela também. Então os animais são usados como armas, nesse caso”, explica Annanda, ressaltando que, quando um caso é notificado, a possibilidade de ocorrência simultânea das duas violências é muito grande.
A orientadora da pesquisa, Ruth Almeida, amplia a discussão e aponta que problemas sociais como machismo e misoginia estão na base dos dois tipos de violência, “pois colocam o homem nessa posição de dono da mulher, assim como dono do pet”, ela interpreta.
Por essas razões, Annanda e Ruth acreditam que a pesquisa desenvolvida aqui na capital pode ajudar as autoridades em segurança a pensarem e proporem políticas que conectem os dois tipos de denúncias e, assim, possam combater os problemas ao mesmo tempo. “É importante que o governo faça essa ligação entre as duas delegacias e comece a investigar de modo interligado”, afirma Annanda.
Denúncias podem e devem ser feitas, mas espaços de acolhimento ainda são limitados
Apesar de já existirem políticas que oferecem acolhimento às mulheres com seus filhos, vítimas de violência, as mesmas não incluem a presença dos pets. Esse é, na visão das pesquisadoras, um grande limitador no assunto, a nível nacional.
Já na Ufra, apesar de ser comum o abandono de animais maltratados, Ruth explica que também não tem, ainda, um espaço ideal de acolhimento: “Isso requer um custo muito alto, mas a gente já está contribuindo com pesquisas e projetos de extensão que possam colaborar com a criação de políticas públicas nesse sentido”.
Em Belém, as denúncias de maus-tratos contra animais podem ser feitas pelo número 181, que funciona 24 horas por dia, ou pelo telefone da Demapa (91) 3238.1225, em horário comercial. Já as denúncias de violência doméstica devem ser encaminhadas à Central de Atendimento à Mulher, pelo número 180.
Por meio do 180, a mulher tem direito à escuta e acolhida qualificada, registro e encaminhamento de denúncias aos órgãos competentes, bem como acesso a informações sobre os seus direitos: locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso, como a Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.
A ligação para o 180 é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana.
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