Sonho após a tragédia: sobrevivente do incêndio na boate Kiss casa em Ananindeua

Maranhense Luciene Louzeiro e o paraense Iranilso Sadanha celebraram a união no final de semana, no Distrito Industrial

João Thiago Dias
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Quem sobrevive a alguma tragédia ou incidente geralmente busca aproveitar a vida de forma mais intensa e festiva. Esse é o caso da maranhense Luciene Louzeiro, de 41 anos, que mora no bairro do Distrito Industrial, em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. Ela foi uma das vítimas do incêndio que deixou 242 mortos na boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 2013, e neste final de semana comemorou de maneira redobrada uma nova etapa da vida dela: o matrimônio. 

Após um ano e dois meses de namoro com o paraense Iranilso Saldanha, de 31 anos, com quem ela já divide a residência, houve um esforço coletivo da família para cobrir os gastos da festa da troca de alianças. Na última sexta-feira (06), foi realizada a cerimônia no cartório. E domingo, no espaço de eventos Asmovim, na travessa Oliveira, no Distrito Industrial, foi realizada a cerimônia religiosa, por meio de uma celebração evangélica. 

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"Representa uma novo momento na minha vida, porque casar é um sonho que tenho desde a minha adolescência. Finalmente conheci uma pessoa maravilhosa como o Iranilso e vou poder refazer minha vida depois de tantos traumas por causa do incêndio. Eu não conseguia nem andar mais em Santa Maria, porque lembrava de tudo. Por isso voltei para o Pará. Meu noivo me dá apoio em todos os momentos de dificuldade e estamos radiantes de felicidade", relatou Luciene.

Ela reforçou que o companheirismo do noivo e o apoio familiar são fundamentais para a superação. "Sou comerciante, trabalho em fruteira, e o conheci em uma pizzaria. Ele já tem filhos de outro relacionamento. E eu tenho dois filhos de outro relacionamento. Eu era muito festeira, mas, depois do incêndio, não quis mais frequentar boates nem lugares fechados ou com multidão. Me tornei mais caseira e não quero sair de perto da minha família nunca mais." 

A lua de mel foi programada para o município de Mirinzal, no Maranhão, de onde a noiva é natural. "Minha família e eu nos mudamos do território maranhense para o Pará em 1998. Por isso escolhemos Mirinzal, temos família lá. E tivemos muitas dificuldades para conseguir bancar tudo o que foi preciso para as cerimônias e para a festa, mas parentes e amigos ajudaram. Ganhamos até as fotos", acrescentou a comerciante.

Apesar da felicidade, há frustrações mediante as sequelas causadas pelo incêndio. "Fiquei com anemia porque perdi muitos glóbulos vermelhos. Na época, em Santa Maria, recebi cinco bolsas de sangue. Tenho que fazer a transfusão uma vez por ano ainda. Sinto cansaço, igual quando inalei a fumaça. Ando um pouquinho e fico sem fôlego, com queimação no peito. Pulmão ficou comprometido, tenho falta de ar, não posso fazer esforço nem andar rápido. E ainda não recebi nenhum tipo de indenização", detalhou.

O noivo diz que participar dessa reconstrução de vida de Luciene também representa comemoração redobrada. "Sempre tive um sonho de casar, mas nunca tinha encontrado uma pessoa especial que valesse a pena. A Luciene é muito batalhadora e merece ser feliz. Já estamos vivendo essa felicidade juntos. Sei que tenho um papel importante para ajudá-la a superar os medos. Vamos conseguir", comentou Iranilso.

Para a mãe de Luciene, Izenilta Louzeiro, de 57 anos, todos os momentos devem ser comemorados depois que viu a filha correr perigo em Santa Maria, onde ela morava por conta do trabalho. "É o momento mais feliz da minha vida ver esse casamento. Como se fosse o dia em que ela nasceu. Porque, há quase sete anos, dei várias entrevistas de tristeza por ela e por vidas que se foram. Agora, dou entrevista de felicidade, poque minha filha nasceu de novo." 

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