Setembro Azul: no Pará, educação bilíngue garante desenvolvimento e inclusão de estudantes surdos

Em todo o Estado, 388 estudantes surdos e 513 com deficiência auditiva estão matriculados na rede estadual, como apontam dados da Seduc

Gabriel Pires
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Mais do que um direito comum a todos, a educação para pessoas surdas é também uma forma de promover a democratização do ensino. Neste Setembro Azul, mês dedicado à visibilidade da cultura surda, o debate sobre a importância de uma formação igualitária vai além, reforçando a importância de um processo de ensino-aprendizagem adequado. No Pará, 388 estudantes surdos e 513 com deficiência auditiva estão matriculados na rede estadual, de acordo com dados da Secretaria de Educação do Estado do Pará (Seduc)

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Para promover essa educação inclusiva, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e o Decreto nº 5.626/2005 fundamentam o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e garantem uma educação bilíngue para as pessoas surdas, oferecendo tanto Libras quanto a Língua Portuguesa escrita como meios de aprendizado. Desde 2017, quando o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abordou o tema "Desafios para a Formação Educacional de Surdos no Brasil" na prova de redação, a discussão sobre a inclusão desses estudantes ganhou ainda mais força. 

Em Belém, o Instituto Felipe Smaldone, unidade que tem convênio com a Seduc, é referência no atendimento educacional a crianças e jovens surdos. Na matriz bilíngue, a Libras tem a mesma carga horária que a Língua Portuguesa. Segundo Denise Costa, coordenadora de Educação Especial da Seduc, a didática aplicada ao bilinguismo é projetada de maneira específica para ser acessível e eficaz. “São várias as metodologias de ensino, as práticas pedagógicas adaptadas e os recursos. O ensino bilíngue é muito visual”, pontua.

No cotidiano escolar, os estudantes surdos aprendem as mesmas disciplinas do ensino regular, como matemática e história, com o suporte necessário para evitar qualquer tipo de atraso na aprendizagem devido à ausência da audição. “Como eles não escutam, precisam de recursos visuais. Todas as disciplinas fazem parte da base curricular regular do ensino adaptado da matriz bilíngue para surdos, utilizando plataformas visuais, datashows e materiais adaptados com sinais de Libras”, explica Denise.

image Denise Costa, da Coordenadoria de Educação Especial, da Seduc (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Ensino de referência

Além do Instituto Felipe Smaldone, a rede estadual oferece outras unidades especializadas, como a Unidade Educacional Especializada Professor Astério de Campos. E ainda, no Instituto, também é ofertado o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que atende estudantes de outras escolas estaduais em horários complementares à escolarização regular. O programa é estruturado com base no currículo das escolas de origem, proporcionando aulas em Libras.

Também na rede estadual, o Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS) oferece cursos de Libras para professores, surdos, familiares de surdos e a comunidade em geral. Os demais estudantes da rede estadual são atendidos nas Salas de Recursos Multifuncionais de cada escola. Contudo, Denise destaca que o objetivo da gestão é expandir a educação para surdos em mais municípios do Pará.

Tudo isso abrangendo um maior número de pessoas e ampliando a formação de professores: “Pretendemos expandir a educação para surdos para outros municípios do Estado, onde há um maior número de surdos, e aprimorar a formação de professores e as práticas pedagógicas inclusivas. Tudo isso para que esses estudantes sejam inseridos na sociedade e possam alcançar seus sonhos como qualquer outro cidadão, com sua saúde integral. Também temos projetos nas áreas de saúde e assistência social“, detalha Denise.

Formação plena

A diretora do Instituto Felipe Smaldone, Irmã Elizete Dourado, destaca que o bilinguismo e as práticas educacionais da unidade garantem uma formação plena para quem passa pela escola. Na escola, eles participam de atividades diversas, incluindo práticas expositivas e aulas de teatro, também com uma abordagem pautada na perspectiva cristã. Com cerca de 70 estudantes, a escola oferece o ensino fundamental I e II..

“Temos atividades culturais; todo sábado, um grupo vem para jogar futebol. Também oferecemos música, onde os estudantes tocam instrumentos, e atividades de dança. Estamos em Belém há 52 anos e trabalhamos com a pessoa de forma integral, abrangendo não apenas a educação, mas também as áreas de saúde e assistência social. Uma base educacional sólida desde a infância é fundamental para que se consiga chegar até a universidade”, frisa.

image Irmã Elizete, diretora da escola (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Na rotina da sala de aula, o objetivo da comunidade escolar é garantir o desenvolvimento e o aprendizado eficaz dos estudantes. A professora de Libras Leilane Monteiro observa que “nós, professores, no Felipe Smaldone, criamos materiais específicos para cada disciplina e para a sala de aula, visando alcançar cada pessoa”. “Temos cartilhas e programas desenvolvidos em conjunto com outros professores”, diz ela, ao lembrar que a Libras é integrada com as diversas disciplinas.

“Percebemos a evolução dos estudantes com os avanços diários e da rotina. Na identificação de palavras e na construção de textos, quando o estudante consegue expressar o que está pensando em Libras e transcrever isso para o papel. A nossa maior dificuldade é fazer com que o estudante perceba o sinal e a imagem e consiga transcrever isso para a Língua Portuguesa escrita. Alguns até ensinam o que estão aprendendo aos colegas”, completa Leilane.

image Leilane Monteiro, professora de Libras (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Desenvolvimento

A educação bilíngue é sinônimo de transformação. Quem sabe descrever esse sentimento perfeitamente é a doméstica Daniele Santos, de 50 anos, mãe de Johan Santos, 15, que estuda no Instituto Felipe Smaldone desde que recebeu o diagnóstico de surdez e hoje está no 6º ano. “A escola foi tudo para ele. Aqui, o acolhimento foi excepcional. Não acolhe só o estudante, mas a família também”, aponta ela, ao falar dos avanços do jovem. E, por meio das Libras, nas palavras de Johan, ele conta: “Gosto de estudar. Aqui eu aprendo”.

image Estudante acompanhado da mãe dele (Fotos: Ivan Duarte / O Liberal)

Instituto

O Instituto Felipe Smaldone é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que possui acordo de cooperação técnica com a Seduc. O local atende crianças, adolescentes e jovens surdos provenientes da região metropolitana de Belém e municípios próximos, ofertando a escolaridade das séries iniciais até o 9ºano do ensino fundamental. E, também, oferta serviço de Atendimento Educacional Especializado aos estudantes do ensino fundamental ao ensino médio.

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