Sermão das Sete Palavras marca três horas da agonia na capela de Santo Antônio
Cerimônia antecedeu missa e procissão do fim da tarde na Catedral de Belém
Três horas de cerimônia marcaram uma das mais importantes programações desta Sexta-Feira Santa (19): das 12h às 15h, na Capela do Colégio Santo Antônio, o Sermão das Sete Palavras lembrou as três horas finais da Paixão de Cristo - da crucificação até o momento de sua morte na cruz, segundo narra a tradição da fé católica.
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Essa cerimônia religiosa da Sexta-Feira Santa é centenária em Belém. Durante o Sermão das Sete Palavras, são lembradas as últimas frases ditas por Jesus no Calvário: "Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem", quando era crucificado. "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso", dita a seus companheiros de crucificação. "Mulher, eis aí o teu filho; Filho, eis aí a tua mãe", dita à mãe, Maria, que ficou ao seu lado nos últimos momentos da crucificação. "Eli, Eli, lam sabachthani? (Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)" e "Tenho sede", sussurro atendido por duas vezes, mas que Jesus não aceitou, porque a sede era a de estar com o pai. E por fim, as duas últimas palavras antes da morte: "Tudo está consumado" e "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito".
PROCISSÕES
"São as palavras que Jesus deixou no coração de cada um de nós", resumiu o arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, que conduziu o sermão no Colégio Santo Antônio.
A cerimônia foi antecedida por outra intensa programação da Sexta-Feira da Paixão. Pela manhã, após quatro horas de procissão com a imagem do Senhor dos Passos, que saiu da Basílica Santuário de Nazaré às 7h, e também de três horas de ruas percorridas pela Imagem de Nossa Senhora das Dores, desde 8h, da Igreja de São João Batista (Cidade Velha), as imagens de Jesus e sua mãe Maria, se encontraram, às 11h em frente à Igreja de Senhora das Mercês, na Cidade Velha.
MISSA DA PAIXÃO DO SENHOR
O encontro das procissões da manhã teve grande participação de fieis e foi marcada pela emoção. Sem chuvas, o encontro entre as multidões de religiosos acabou coincidindo com a subida da maré no Ver-o-Peso e Comércio. O trânsito ficou complicado e muitos que estavam na área do Mercado de Ferro, avenida Portugal e transversais tiveram que colocar os pés nas águas.
Ao fim da tarde, na Catedral de Belém, uma missa marcou a Celebração da Paixão do Senhor, às 17h. Logo depois, às 18h30, os fieis participaram, na Sé, do Sermão do Descendimento da Cruz. A cerimônia na Catedral antecedeu a saída, às 18h, da Procissão do Senhor Morto.
AS SETE PALAVRAS DE UM JESUS HUMANO
Há 140 anos, Belém tem uma tradição especial na Sexta-Feira Santa: o Sermão das Sete Palavras, também conhecido como Sermão das Três Horas da Agonia — uma alusão aos momentos finais da vida terrena de Jesus Cristo, já crucificado. E são três horas mesmo, com muitas reflexões e orações, acompanhadas pelas vozes do Coral Santa Cecília. Essa celebração ocorre sempre na capela do Colégio Santo Antônio, desde que foi idealizada pela Congregação das Irmãs de Santa Doroteia da Franssineti.
A Campanha da Fraternidade deste ano falou sobre políticas públicas. Este tema foi uma tônica do sermão, proferido desta vez pelo padre Moisés do Socorro Lima de Matos.
É uma honra para um membro da igreja católica ser o pregador. É algo que só pode ser feito uma vez durante toda a vida do religioso. Cada pregador faz uma abordagem própria. E a dele, que é pároco de Santa Maria Goretti, foi muito científica, filosófica e crítica. Social e espiritualmente.
Moisés fez, no sermão, reflexões com pensamentos de Platão, por exemplo. Abordou diferentes correntes da Teologia. E fez questão de dizer: Jesus não simplesmente morreu. Jesus foi assassinado. Analisou, ao longo das sete últimas palavras, toda a trajetória de um Jesus humano, uma figura histórica, real, viva e influente até hoje.
Apesar de se chamarem "palavras", na verdade foram frases. Nesta ordem: "Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem"; "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso"; "Mulher, eis aí o teu filho; Filho, eis aí a tua mãe"; "Eli, Eli, lamá sabactâni?" (Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?); "Tenho sede"; "Tudo está consumado"; e "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito".
Para o cônego Vladian Silva Alves, reitor da capela do Colégio Santo Antônio, a morte de Jesus é sagrada e que demonstra o amor de Cristo. Mas as reflexões, a cada ano, mudam. "De todas as palavras, a que mais me comove e que acho pertinente a esse tema é: tenho sede. Deus tem sede. Devemos saciar com gratidão. O convite deste ano é também a se pensar sobre nossas vidas e como gerenciar tudo isso. Por isso falamos sobre políticas públicas e convidamos os que têm o poder a melhorar as vidas de todos", diz.
"São palavras de fogo. Palavras pronunciadas por Deus e, por isso, têm cor de testamento. Palavras que, por mais que nos aproximemos, mais temos a descobrir. Por isso, nossa igreja e nossa cidade param para ouvir. Que todos possam ouvir a palavra de Deus e colocá-la em prática", comentou o arcebispo metropolitano de Belém, dom Alberto Taveira. Para ele, todas as palavras representam a vida eterna.
As sete palavras, segundo o padre e ator Cláudio Barradas, que fez o sermão em 2017:
1- "Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem": Mesmo diante da dor e de um julgamento, que para muitos seriam suficientes para o ódio, Jesus sempre ensinou que se deve "fazer o bem para aquele que os odeia. Fazer tudo isso sem esperar por retorno. E acima de tudo, perdoar aquele que tenha ofendido".
2- "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso": O significado do paraíso é Jardim da Felicidade. Mesmo estando ao lado de um malfeitor e de um ladrão, Cristo diz, que 'quando se é pobre e crucificado, não entrará amanhã no paraíso e sim hoje'. 'Ele (Jesus) ofereceu o hoje para a salvação. Também disse, que quando entrar no reino de meu pai, lembrarás de mim'.
3- "Mulher, eis aí o teu filho; Filho, eis aí a tua mãe": Maria, diferente dos discípulos, ficou ao lado do filho por todos os minutos, mesmo quando era impedida pelos guardas. Mesmo assim, de longe o amava. "Ela fica petrificada ao lado do filho, como toda mãe faria pelo único filho. Onde estará Maria senão ao lado de Jesus. Quando vemos Maria, estaremos vendo Jesus".
4- "Eli, Eli, lamá sabactâni? (Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?)": Foi sua última palavra, com um grito alto de dor. É um grito de dor, mas não de desespero. "É o grito do salvador do mundo, e não de um condenado. Sentia dor por todo o seu corpo, com feridas profundas, nas mãos e nos pés".
5- "Tenho sede": Ao dizer isso em um sussurro, foi atendido. Foi oferecido, por duas vezes, o que beber. Mas Jesus Cristo não aceitou, mas por quê? "Jesus tinha sede de estar com o pai. Sede de levar sua obra de salvação. Sede de fazer sua vontade". Neste momento, o deram vinagre ao invés de água.
6- "Tudo está consumado": Jesus inclina a cabeça e se entrega a Deus. Mas ninguém tira a vida dele, Jesus a tira e retorna após a morte. Morrer crucificado não era uma derrota. "Quem pensou que ele tinha perdido a luta, pensou errado. Era um momento único de sua obra, o ato vitorioso da volta para a casa do pai".
7- "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito": Deus amou tanto o mundo que entregou seu filho altíssimo para dá a salvação. Mas a vida de Cristo não se resumiu às orações feitas no calvário. Durante toda a sua vida Jesus foi oração. "Após todas as sete palavras, de forma derradeira, Jesus se entrega a seu Pai".
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