Sermão das Sete Palavras marca três horas da agonia na capela de Santo Antônio

Cerimônia antecedeu missa e procissão do fim da tarde na Catedral de Belém

Victor Furtado
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Três horas de cerimônia marcaram uma das mais importantes programações desta Sexta-Feira Santa (19): das 12h às 15h, na Capela do Colégio Santo Antônio, o Sermão das Sete Palavras lembrou as três horas finais da Paixão de Cristo - da crucificação até o momento de sua morte na cruz, segundo narra a tradição da fé católica. 

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Essa cerimônia religiosa da Sexta-Feira Santa é centenária em Belém. Durante o Sermão das Sete Palavras, são lembradas as últimas frases ditas por Jesus no Calvário: "Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem", quando era crucificado. "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso", dita a seus companheiros de crucificação. "Mulher, eis aí o teu filho; Filho, eis aí a tua mãe", dita à mãe, Maria, que ficou ao seu lado nos últimos momentos da crucificação. "Eli, Eli, lam sabachthani? (Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)" e "Tenho sede", sussurro atendido por duas vezes, mas que Jesus não aceitou, porque a sede era a de estar com o pai. E por fim, as duas últimas palavras antes da morte: "Tudo está consumado" e "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito". 

PROCISSÕES

"São as palavras que Jesus deixou no coração de cada um de nós", resumiu o arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, que conduziu o sermão no Colégio Santo Antônio. 

image Sermão segue até as três da tarde (Cláudio Pinheiro)

A cerimônia foi antecedida por outra intensa programação da Sexta-Feira da Paixão. Pela manhã, após quatro horas de procissão com a imagem do Senhor dos Passos, que saiu da Basílica Santuário de Nazaré às 7h, e também de três horas de ruas percorridas pela Imagem de Nossa Senhora das Dores, desde 8h, da Igreja de São João Batista (Cidade Velha), as imagens de Jesus e sua mãe Maria, se encontraram, às 11h em frente à Igreja de Senhora das Mercês, na Cidade Velha.

image Sexta-Feira Santa teve programação intensa desde as 7h da manhã (Igor Mota)

MISSA DA PAIXÃO DO SENHOR

O encontro das procissões da manhã teve grande participação de fieis e foi marcada pela emoção. Sem chuvas, o encontro entre as multidões de religiosos acabou coincidindo com a subida da maré no Ver-o-Peso e Comércio. O trânsito ficou complicado e muitos que estavam na área do Mercado de Ferro, avenida Portugal e transversais tiveram que colocar os pés nas águas.  

Ao fim da tarde, na Catedral de Belém, uma missa marcou a Celebração da Paixão do Senhor, às 17h. Logo depois, às 18h30, os fieis participaram, na Sé, do Sermão do Descendimento da Cruz. A cerimônia na Catedral antecedeu a saída, às 18h, da Procissão do Senhor Morto.

image Procissão dos Passos (Igor Mota)

AS SETE PALAVRAS DE UM JESUS HUMANO

Há 140 anos, Belém tem uma tradição especial na Sexta-Feira Santa: o Sermão das Sete Palavras, também conhecido como Sermão das Três Horas da Agonia — uma alusão aos momentos finais da vida terrena de Jesus Cristo, já crucificado. E são três horas mesmo, com muitas reflexões e orações, acompanhadas pelas vozes do Coral Santa Cecília. Essa celebração ocorre sempre na capela do Colégio Santo Antônio, desde que foi idealizada pela Congregação das Irmãs de Santa Doroteia da Franssineti.

A Campanha da Fraternidade deste ano falou sobre políticas públicas. Este tema foi uma tônica do sermão, proferido desta vez pelo padre Moisés do Socorro Lima de Matos.

É uma honra para um membro da igreja católica ser o pregador. É algo que só pode ser feito uma vez durante toda a vida do religioso. Cada pregador faz uma abordagem própria. E a dele, que é pároco de Santa Maria Goretti, foi muito científica, filosófica e crítica. Social e espiritualmente.

Moisés fez, no sermão, reflexões com pensamentos de Platão, por exemplo. Abordou diferentes correntes da Teologia. E fez questão de dizer: Jesus não simplesmente morreu. Jesus foi assassinado. Analisou, ao longo das sete últimas palavras, toda a trajetória de um Jesus humano, uma figura histórica, real, viva e influente até hoje.

Apesar de se chamarem "palavras", na verdade foram frases. Nesta ordem: "Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem"; "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso"; "Mulher, eis aí o teu filho; Filho, eis aí a tua mãe"; "Eli, Eli, lamá sabactâni?" (Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?); "Tenho sede"; "Tudo está consumado"; e "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito".

Para o cônego Vladian Silva Alves, reitor da capela do Colégio Santo Antônio, a morte de Jesus é sagrada e que demonstra o amor de Cristo. Mas as reflexões, a cada ano, mudam. "De todas as palavras, a que mais me comove e que acho pertinente a esse tema é: tenho sede. Deus tem sede. Devemos saciar com gratidão. O convite deste ano é também a se pensar sobre nossas vidas e como gerenciar tudo isso. Por isso falamos sobre políticas públicas e convidamos os que têm o poder a melhorar as vidas de todos", diz.

image (Claudio Pinheiro)

"São palavras de fogo. Palavras pronunciadas por Deus e, por isso, têm cor de testamento. Palavras que, por mais que nos aproximemos, mais temos a descobrir. Por isso, nossa igreja e nossa cidade param para ouvir. Que todos possam ouvir a palavra de Deus e colocá-la em prática", comentou o arcebispo metropolitano de Belém, dom Alberto Taveira. Para ele, todas as palavras representam a vida eterna.

As sete palavras, segundo o padre e ator Cláudio Barradas, que fez o sermão em 2017:

1- "Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem": Mesmo diante da dor e de um julgamento, que para muitos seriam suficientes para o ódio, Jesus sempre ensinou que se deve "fazer o bem para aquele que os odeia. Fazer tudo isso sem esperar por retorno. E acima de tudo, perdoar aquele que tenha ofendido".

2- "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso": O significado do paraíso é Jardim da Felicidade. Mesmo estando ao lado de um malfeitor e de um ladrão, Cristo diz, que 'quando se é pobre e crucificado, não entrará amanhã no paraíso e sim hoje'. 'Ele (Jesus) ofereceu o hoje para a salvação. Também disse, que quando entrar no reino de meu pai, lembrarás de mim'.

3- "Mulher, eis aí o teu filho; Filho, eis aí a tua mãe": Maria, diferente dos discípulos, ficou ao lado do filho por todos os minutos, mesmo quando era impedida pelos guardas. Mesmo assim, de longe o amava. "Ela fica petrificada ao lado do filho, como toda mãe faria pelo único filho. Onde estará Maria senão ao lado de Jesus. Quando vemos Maria, estaremos vendo Jesus".

4- "Eli, Eli, lamá sabactâni? (Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?)": Foi sua última palavra, com um grito alto de dor. É um grito de dor, mas não de desespero. "É o grito do salvador do mundo, e não de um condenado. Sentia dor por todo o seu corpo, com feridas profundas, nas mãos e nos pés".

5- "Tenho sede": Ao dizer isso em um sussurro, foi atendido. Foi oferecido, por duas vezes, o que beber. Mas Jesus Cristo não aceitou, mas por quê? "Jesus tinha sede de estar com o pai. Sede de levar sua obra de salvação. Sede de fazer sua vontade". Neste momento, o deram vinagre ao invés de água.

6- "Tudo está consumado": Jesus inclina a cabeça e se entrega a Deus. Mas ninguém tira a vida dele, Jesus a tira e retorna após a morte. Morrer crucificado não era uma derrota. "Quem pensou que ele tinha perdido a luta, pensou errado. Era um momento único de sua obra, o ato vitorioso da volta para a casa do pai".

7- "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito": Deus amou tanto o mundo que entregou seu filho altíssimo para dá a salvação. Mas a vida de Cristo não se resumiu às orações feitas no calvário. Durante toda a sua vida Jesus foi oração. "Após todas as sete palavras, de forma derradeira, Jesus se entrega a seu Pai".

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