Religião e juventude: adolescentes têm encontrado em igrejas e terreiros 'refúgio’ pessoal

Lideranças católicas, evangélicas e do sincretismo têm procurado promover iniciativas que aproximem jovens e crianças desses espaços religiosos

Amanda Martins

Em meio às ameaças de ataques a escolas em várias cidades brasileiras, famílias ficam apreensivas com a segurança de crianças e adolescentes. Mas existem muitas ações de acolhimentos para a juventude, que pregam pela paz e união. A Fraternidade “O Caminho” é exemplo disso. Ela é uma irmandade católica pluri vocacional, formada por consagrados, sacerdotes e leigos nos mais variados rostos e idades, presentes em vários países. 

Em Belém, está localizada no bairro da Cidade Velha, com a Fraternità Santa Clara, e na Campina, com a Fraternità São Damião de Molokai. A Irmã Tereza do Cordeiro Imolado, de 32 anos, é uma das responsáveis pela Casa que trabalha com a missão feminina na capital paraense, e acompanha os leigos de aliança - pessoas que são “chamados” para trabalhar atuando nos mais diversos ministérios e apostolados, nas ruas e periferias, realizando o acolhimento a quem mais precisa.

image Fraternidade “O Caminho Fraternità Santa Clara". (Carmem Helena / O Liberal)

Além de funcionar como uma casa formativa para meninas que desejam seguir a vida religiosa, a Fraternidade “O Caminho Fraternità Santa Clara" também cuida espiritualmente de casais, pessoas em situação de vulnerabilidade social e, sobretudo, os jovens. Seja com um prato de comida ou estabelecendo conexões com a Palavra de Jesus Cristo, as cinco Irmãs que vivem na casa estão dispostas a trabalhar por uma missão em comum: a partilha.

E, quando se estende aos adolescentes, são dadas oportunidades para que eles sintam-se acolhidos por serem ouvidos e ensinados, por meio uma conversa genuína e honesta, sobre fé e o verdadeiro sentido da palavra “entrega”, que ocorre durante os encontros do projeto ‘Resgata-me’.

“Ele é todo promovido e estruturado por jovens. Lá eles são acolhidos para servir [a Deus] e entender a vocação deles. Fazemos acompanhamentos aos sábados, grupos de orações, gincanas, trazemos ele mais para perto [da igreja] diante de cada realidade em que vivem”, explicou a Irmã Tereza, acrescentando que no mês de fevereiro deste ano, cerca de 40 adolescentes, entre meninos e meninas participaram.

Apesar de nem todos permanecerem, a Irmã Tereza diz sentir-se feliz por ver frutos significativos nos quais escolhem ficar e seguir o caminho da santidade. A Irmã Clementina de Jesus Ressuscitado, de 28 anos, é boliviana e foi uma das tantas “pescadas” pelo carisma. Hoje, morando na capital paraense, ela atua diretamente com um grupo de quatro jovens. 

“Eu também me coloco junto aos jovens, mas de um lado diferente, chamando para a vida religiosa. Temos o mesmo ideal, o mesmo sentido, mas de vocações diferentes. Durante esse tempo, buscamos ter diálogos entre nós mesmos. Como sabemos, jovens são inconstantes. Hoje, querem a Deus, amanhã, não mais, é parte da juventude. O nosso papel é fazer do diálogo o maior combustível”, declarou a Irmã Clementina. 

A juventude na igreja demonstra a força de novas ideias no mundo, diz líder de célula 

“A religião só tem importância quando nós atuamos em obras sociais e acolhemos as pessoas”. É assim que o jovem empreendedor Paulo Marcondes, de 26 anos, enxerga a verdadeira essência de Jesus Cristo na sua vida. 

Ele atua como coordenador de uma Célula Missionária voltada para jovens da igreja Assembelia de Jesus, e afirma ver nos colegas uma juventude diferente, que não “precisa de coisas mundanas para afogar as suas tristezas, provando que a alegria constante” é estar em comunhão com a religião.  

“Quando você participa de um espaço cristão, conheces um amor incrível fora do comum, o amor de Jesus. Se envolver em uma comunidade cristã, te ensina diversas ferramentas, como aprender a falar em público, porque você se impõe; aprende se portar”, enumerou as transformações que sentiu em sua vida como jovem atuante da igreja.

image Fraternidade “O Caminho Fraternità Santa Clara". (Carmem Helena / O Liberal)

Religião é refúgio para muitos jovens 

No dicionário, a palavra “religião” significa “doutrina e crença religiosa”. Mas, na prática, ela pode ir muito além disso, servindo de refúgio para muitos jovens em momentos difíceis da vida, servindo, inclusive, de suporte emocional . Foi na Casa de Mina Iya Oxum, que o publicitário Tássio Vinícius, de 28 anos, se encontrou como um Filho de Santo - pessoa que tem compromisso com o orixá, vodum ou com  demais religiões afro. 

Ele diz nunca ter precisado “abrir mão” de suas liberdades como jovem para seguir a doutrina. “A gente consegue conciliar, mas é claro, temos que conseguir o que nosso Pai e Mãe dizem, até porque, muitos lugares não podemos estar, porque estamos conhecendo nosso espiritual”, ponderou Tássio. 

Para Mãe Tassia de Oxum, zeladora da Casa de Mina, a juventude tem como principal papel se entregar à espiritualidade, pregando o amor, a fé e a caridade, se “educando não só o Axé, mas como ser humano também”. 

image Publicitário Tássio Vinícius, de 28 anos, na Casa de Mina Iya Oxum. (Cristino Martins / O Liberal)

 

 

"A gente acolhe com amor, então, a gente nunca visa a maldade, a gente tenta abstrair as coisas ruins, sempre rezando para Deus, os orixás, os guias amigo auxiliarem da melhor maneira o mundo e como eles estão lidando com o mundo", disse a Mãe de Santo sobre a religião ser uma das maiores aliadas do ser humano.

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