Apesar de não ter cura, epilepsia tem tratamento e pacientes podem ter qualidade de vida

No Pará, o Hospital Ophir Loyola (HOL) tem o serviço de neurologia, com ambulatório especializado no atendimento de epilepsia

Emanuele Corrêa

A epilepsia é uma doença de natureza neurológica, que pode acometer as pessoas em qualquer fase da vida e atinge 1 a cada 100 brasileiros. No mundo, afeta aproximadamente 50 milhões de pessoas, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar de não ter cura, a doença tem controle, possibilitando uma vida regular para quem é acometido. Para o sucesso do tratamento, especialistas pedem regularidade no acompanhamento e empatia da sociedade, por isso, o dia 26 de março ficou conhecido como Dia Internacional de Conscientização sobre a Epilepsia ou "Purple Day", alusivo à flor lavanda, que remete ao sentimento de isolamento.

Hideraldo Cabeça, membro da academia brasileira de neurologia e chefe do serviço de Neurologia do Hospital Ophir Loyola, explica que a epilepsia atinge qualquer faixa etária e o acompanhamento é fundamental para a garantia de uma vida regular.

"O neurologista é primordial para estabelecer diagnóstico, acompanhamento e orientações sobre higiene do sono; que pacientes podem dirigir veículos, por exemplo, quando tem esta possibilidade. O paciente tem condições de vida normal, com controle das crises epilépticas", detalhou.

Os sinais que alertam para a busca de um especialista podem envolver desmaios, abalos musculares, perda da consciência ou "apagão", assim como a perda de urina associada a perda da consciência, diz o especialista.

Outros sintomas também são possíveis, mas em todo o caso, ele indica que o paciente procure um médico para iniciar a avaliação e, se for o caso, encaminhar para serviços de neurologia especializados e após o diagnóstico, realizar o tratamento.

Ambulatório especializado

No Pará, o Hospital Ophir Loyola (HOL) tem o serviço de neurologia, com ambulatório especializado no atendimento de epilepsia. A neurologista Marina Tuma é responsável pelo ambulatório de epilepsia do (HOL). A equipe é multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos, serviço social, odontólogos e outros profissionais. Além do acompanhamento, tratamento e orientações, algumas medicações são liberadas na farmácia do próprio hospital, principalmente, as utilizadas em crises mais complexas.

"É uma ambulatório que só atende pacientes com Epilepsia e foi montado em 2014. Os encaminhamentos são feitos por meio dos postos de saúde para o HOL, que é um serviço terciário. Aceitamos pacientes acima de 15 anos, com epilepsia de qualquer etiologia", pontuou Marina explicando o serviço.

image Neurologista Marina Tuma (Cristino Martins / O Liberal)

Tuma salienta que a doença geralmente não tem cura, mas tem inúmeras medicações disponíveis para o tratamento. No entanto, somente a medicação não ajuda, é preciso que o círculo social que esta pessoa está inserida seja fortalecido e disponha de empatia, pois ainda há muitos estigmas sobre a doença, diz a médica.

"Muitos pacientes com epilepsia são vistos na sociedade de forma estigmatizada, preconceituosa. Isso que queremos mudar. O Nosso objetivo é mostrar que muitos pacientes com epilepsia podem ter uma vida normal, podem trabalhar, ter filhos, passear, desde que façam acompanhamento regular com seu neurologista. É necessário a inclusão, ofertas de empregos. São pacientes que na maioria das vezes tem total capacidade de trabalhar tomando suas medicações", finalizou Marina Tuma.

Como é a rotina de uma pessoa com epilepsia?

O designer gráfico Gregory Lago (29 anos) relembra que a primeira crise dele de epilepsia foi aos 14 anos, antes de ir para a escola. Após isso, já acordou no hospital. Com o diagnóstico, começou o tratamento e as crises foram diminuindo.

Ele diz que os pais foram fundamentais na questão do acolhimento. Começando pelo ambiente familiar, desde cedo, posiciona-se e mostra que leva uma vida com qualidade.

"Eu tive mais uma ou duas crises antes do diagnóstico oficial. Comecei a fazer tratamento com remédio. Eu ainda tenho crises, mas bem menos do que antes, praticamente uma por ano. Meus pais sempre estiveram presentes, e de forma até bastante protetora. Durante a minha jornada pós-diagnóstico, muitas vezes eu tive que ser bem incisivo para que essa proteção não me impedisse de ter uma vida normal, de ir atrás dos meus sonhos", explicou Gregory.

Ele também disse que não sente tanto preconceito ou resistência das pessoas, apesar de, em um passado próximo, ter sido associado a possessão por algumas religiões. "Eu sinto que a questão maior neste momento é a desinformação. Quase ninguém sabe muito sobre ou sabe como reagir e socorrer uma pessoa tendo crise", complementou.

Gregory destaca que fala abertamente sobre o assunto e é importante que as pessoas saibam, para proceder da forma correta. Relembrou que uma crise ocorreu no antigo emprego e por isso, cogitou se demitir na época. Mas apesar de algumas reações, encontrou bastante empatia, o que o ajudou.

"Praticamente todas as pessoas sabem, é uma das primeiras informações que eu dou. Acho importante não esconder, porque por mais que sejam raras as minhas crises, é importante que as pessoas saibam como lidar, caso aconteça. No meu caso, infelizmente, elas não dão nenhum sinal que vão acontecer. Mas sei que outras pessoas com epilepsia sentem quando ela vem, e pra elas é possível tomar um medicamento que evita a crise nessas situações", disse.

Para quem está passando pelo diagnóstico da epilepsia, o jovem reforça que fazer o tratamento é indispensável, e para a sociedade em geral, é válido se informar mais sobre a doença.

"Sigam o tratamento, é a melhor opção para uma vida com qualidade e não deixe o diagnóstico privar você de ter uma vida. A epilepsia deixa a pessoa vulnerável - física e emocionalmente - e a tendência é se fechar, ter medo de se envolver e experienciar, mas é importante seguir em frente, não se limitar e fazer o máximo de coisas para ter uma vida plena", concluiu Gregory.

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