População denuncia dificuldades no transporte para Mosqueiro
Linha fluvial pode ser extinta e linha de ônibus é insuficiente para a demanda
Circulou recentemente nas redes sociais a imagem de um cartaz afixado no guichê da Banav, empresa que opera a linha fluvial Belém-Mosqueiro, partindo do Terminal Hidroviário de Belém. O comunicado, já retirado na manhã desta quarta-feira (25), informava que a linha estaria disponível aos usuários até o dia 30 deste mês. De acordo com a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob), o órgão não autorizou a empresa Banav a encerrar suas atividades na operação da linha fluvial Mosqueiro/Belém/Mosqueiro.
"A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) informa que não autorizou a empresa a encerrar suas atividades na operação da linha fluvial Mosqueiro Belém Mosqueiro. A autarquia comunica que vai notificar extrajudicialmente a empresa e as responsabilidades pela não prestação do serviço serão apuradas, para a tomada de medidas cabíveis", detalha a nota que foi divulgada pela autarquia.
A interrupção do serviço reduziria ainda mais as opções de transporte da população que precisa fazer o trajeto e que já enfrenta dificuldades com o transporte rodoviário de e para a ilha: longa espera, horários de saída imprecisos e ônibus lotados. Tatiana Nogueira, de 47 anos, mora em Mosqueiro e vem diariamente a Belém para trabalhar. Para ela, a quantidade de ônibus que atende a linha de Belém para o distrito é insuficiente.
“A população de Mosqueiro é grande, muita gente trabalha, estuda para cá. Ficamos uma hora, mais de uma hora esperando. Às vezes o ônibus quebra, às vezes é o trânsito, aí demora para chegar aqui. Aí a fila da prioridade vai crescendo e tem sempre confusão pra poder entrar no ônibus, entre os idosos e os pagantes. Tem muita gente para pouco ônibus. E à tarde tem menos ainda”, relatou a cuidadora de idosos.
Breno Barbosa, de 29 anos, concorda com a deficiência no transporte para a ilha. “Trabalho em uma fábrica de Mosqueiro, pego esse ônibus diariamente. É ruim por conta do intervalo entre um e outro. Eu acho que está insuficiente. Porque acumula muita gente, principalmente na prioridade. Se for deixar a conta da prioridade, os assentos já lotam, e a gente que é pagante vai de pé, na maioria das vezes”, contou.
Linha fluvial
Para Breno Barbosa, a linha fluvial não é tão acessível. “O problema dessa linha é chegar até lá, ter que se deslocar até de onde o barco sai”, opinou. Tatiana Nogueira também acha que os horários do barco não condizem com as necessidades da população. “Tem apenas um horário de vinda de manhã cedo e um horário de volta no fim da tarde”, criticou. Os dois entrevistados aguardavam o ônibus das 10h30 da manhã, que sai de São Brás.
A linha fluvial começou a operar em julho deste ano. A embarcação tem capacidade para 208 passageiros, mas não costuma alcançar a lotação, que fica em torno de 40 passageiros. O custo da passagem é de R$ 10,00 de segunda a sexta e R$ 20,00 aos fins de semana, valores superiores à tarifa de R$ 6,40 paga nos ônibus para o distrito de Belém.
Apreensão
A partir do comunicado sobre o término das viagens fluviais Belém/Mosqueiro/Belém, muita gente passou a se manifestar nas redes sociais, principalmente moradores do Distrito de Mosqueiro. Em uma das postagens, uma pessoa informa que esse assunto é muito debatido entre os moradores de Mosqueiro. "Já vinha se anunciando isso há algumas semanas", foi uma das postagens.
Em uma outra postagem, uma pessoa manifesta sua preocupação com a dificuldade que moradores de pontos diversos da Ilha do Mosqueiro têm para se locomover dentro do próprio distrito. "O transporte fluvial atendia basicamente quem mora na Vila. A galera de outras áreas, tipo Baía do sol e Carananduba, não tem como chegar até a Vila (transporte coletivo ou alternativo fazendo essa linha interna)". Essa dificuldade de transporte interno se reflete em pouco demanda, como apontado em outra postagem. "Fica mais fácil pegar o ‘busão’ que faz a linha pra São Brás, pq este percorre várias áreas de Mosqueiro", comentou um internauta sobre o assunto.
Integração
Para a professora Patrícia Bittencourt Neves, do Instituto de Tecnologia da UFPA (ITEC) e pesquisadora da Faculdade de Engenharia Civil e também lecionando as disciplinas de Transporte Urbano e Sistemas de Transporte, como docente da área de Transporte da Universidade, a situação do transporte de passageiros em Belém é delicada e requer ações estratégicas específicas. "Eu reafirmo a minha posição de que, considerando o potencial que se tem em Belém, a gente deveria investir, sim, no transporte hidroviário. Já tivemos várias experiências, assim, do transporte hidroviário, acho que essa é a quarta ou a quinta, agora tem que ter integração, tem que ter frequência, então, é uma série de fatores", pontua.
"Não adianta criar uma linha, que está fadada ao insucesso, uma viagem ida e volta, não é essa proposta que eu falo. Tem que ter integração, tem que ter um sistema rodoviário interno lá em Mosqueiro que leve as pessoas até o terminal hidroviário para começar. Tem que ter uma regularidade maior a linha", explica Patrícia Bittencourt.
A pesquisadora lamenta a interrupção da linha fluvial. Ela observa que todo serviço quando é implementado passa por ajustes, por monitoramento do serviço. "Monitorar é você observar e fazer as intervenções necessárias para que seja mantido o sistema. Mas aí, pelo que eu tô vendo, o caso dessa linha Belém-Mosqueiro, muita coisa tem que ser feita, né? Mas, assim, é lamentável, é lamentável que seja suspenso o serviço", completa.
A Redação Integrada de O Liberal questionou a autarquia, também, sobre a insuficiência de linhas de ônibus urbanos para Mosqueiro, como apontado pelos usuários, mas a superintendência ainda não respondeu sobre esse assunto. Já a Banav também foi procurada pela reportagem para esclarecer sobre o possível encerramento na operação das linhas fluviais. No entanto, até o fechamento desta matéria, a empresa não deu retorno.
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