Pobreza menstrual: entenda o que é e qual a situação em Belém
Pesquisa realizada pela Unicef na capital mostra o cenário enfrentado por pessoas que menstruam e o quanto a realidade vulnerável precisa ser tema de ampla discussão
Pobreza menstrual é o nome dado para a situação em que parte da população que menstrua não dispõe de acesso a produtos de higiene que garantam segurança e saúde durante o ciclo. Um estudo envolvendo 1.257 pessoas que menstruam foi realizado na capital pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com a Prefeitura de Belém, entre dezembro de 2021 e abril de 2022. Um dos resultados divulgados aponta que apenas 10,6% dos adolescentes entre 10 e 19 anos têm conhecimento sobre o período menstrual. O intuito da pesquisa foi ter um diagnóstico de como a cidade está inserida nesse cenário. A dignidade menstrual é um direito humano reconhecido desde 2014 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o que significa a necessidade de condições de ter higiene adequada.
A menstruação é uma questão social e de saúde. Isso porque, ao fazer uso de elementos que não são indicados para conter o fluxo sanguíneo, como sacolas plásticas, miolo de pão, pedaços de jornal, panos e filtro de café, a saúde física pode ficar comprometida com o aparecimento de infecções vaginais e fungos, irritação na pele e candidíase. O trabalho da Unicef analisou os métodos alternativo utilizados no período em Belém:
→ 63% absorvente externo;
→ 15,3% absorvente interno;
→ 5,7% usam os dois tipos;
→ 4,1% absorvente externo e pano e
→ 2,9% calcinha/cueca absorvente.
O problema não se restringe unicamente à falta de dinheiro para comprar absorventes: a ausência ou precariedade na estrutura de banheiros com água e saneamento, junto com a falta de informação e desigualdade social, também tem relação direta.
A análise destaca que o mais preocupante é justamente essa falta de itens. Cerca de 25% das entrevistadas têm acesso a água e sabonete, enquanto 20% têm somente água, sabonete e papel higiênico e apenas 10% dispõem de meios para ter de três a quatro produtos de higiene. A quantidade de idas ao banheiro também é alarmante: 12,9% afirmam ter acesso ao recurso de uma a duas vezes por dia, ao passo que 82,9% o utilizam mais de três vezes. A condição afeta principalmente meninas pretas e pardas, correspondendo a 74% do total; 6,22% são brancas; 5,25% são indígenas e 2,70% são amarelas.
O acesso limitado à informação de qualidade é vetor para que muitas meninas se sintam inseguras com seus corpos ou não tenham conhecimento suficiente a respeito do ciclo, ficando propensas a enfrentar situações desconfortáveis no cotidiano. Das pesquisadas, 42,54% sentem vergonha de possíveis vazamentos e 11,8% adicionam a isso o medo do volume do absorvente aparecer e incompreensão por estar com o humor variado.
Os dados foram importantes para que a iniciativa leve informação e formação adequada para todos, explica Rayanne Máximo, especialista em cidadania de adolescentes da Unicef. Além disso, os números obtidos serão levados em consideração para a construção de políticas públicas de enfrentamento da pobreza menstrual em Belém. “Queremos poder apoiar essas ações, visando a formação de adolescentes entre pares, formação de profissionais da saúde, assistência, educação e articulações intersetoriais”, diz.
Foram 78 oficinas sobre dignidade menstrual em 26 bairros com 3.013 adolescentes contemplados. A amostra regional da pobreza menstrual em Belém tornou possível aplicar as medidas em outros lugares para ter um panorama territorial. Rayanne diz que a participação de mais agentes é necessária para “conseguir alcançar um número maior de pessoas que menstruam com ações concretas”.
Impactos na vida escolar
Uma em cada quatro mulheres, incluindo adolescentes, deixam de realizar tarefas sociais, como ir à escola, porque estão menstruadas e sem acesso a absorventes. O relatório “Pobreza menstrual no Brasil - Desigualdade e violações de direitos”, elaborado pela Unicef em 2021, mostra que 3% de um total de 321 mil alunas estudam em escolas com banheiros sem condições adequadas, o que contribui para a evasão escolar.
No país, 11,6% (o que corresponde a 1,24 milhão) das estudantes não dispõe de papel higiênico nos banheiros das escolas. Destas, 66,1% são pretas/pardas, tornando a situação delas mais delicada: a pobreza contribui para o impacto na saúde mental e no aumento da desigualdade na educação entre homens e mulheres.
Um outro estudo desenvolvido por uma marca de absorvente revela que as meninas perdem, em média, 45 dias de aula por ano letivo, contribuindo para as disparidades entre os gêneros.
Na pesquisa atual, 14,8% da parcela de entrevistadas de Belém deixam de ir à escola durante o período menstrual.
Atividades que deixam de fazer durante o período menstrual
17,82% param de praticar esportes ou atividades físicas;
5,01% deixam de sair com amigos/amigas;
4,93% não passeiam;
4,06% deixam de ir à escola, praticar esportes ou atividades físicas;
2,78% não passeiam e não praticam esportes ou atividades físicas;
2,39% não vão à escola e não saem com amigos/amigas;
2,39% outros;
1,99% ir à escola e passear e
1,75% ir à igreja
Dicas para uma boa saúde menstrual
→ Anotar as informações sobre o ciclo menstrual: quando começou, quando terminou, cor e cheiro da menstruação e se teve cólicas;
→ O ciclo tem em média 28 dias: são 5-7 dias com sangramento e a ovulação ocorre em torno do 14º dia. O período fértil ocorre entre três dias antes e três dias depois da ovulação, mas tudo isso varia de uma pessoa para a outra;
→ Procurar um profissional de saúde se observar mudanças duradouras no ciclo;
→ Se qualquer sinal de infecção aparecer, como verrugas, corrimentos, dor ou desconforto ao urinar, deve procurar um profissional;
→ Não interromper o método anticoncepcional e nem fazer sexo sem proteção.
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