Pesquisa: 63% dos brasileiros querem que os governos priorizem tratamentos do câncer
Oito em cada 10 pessoas teve ou conhece alguém que teve câncer. A doença é responsável por 12% das mortes no mundo
O câncer é considerado um dos principais problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil terá este ano 625 mil novos casos da doença. Os dados geram preocupação e refletem na pesquisa desenvolvida pelo Instituto Oncoguia com o DataFolha, demonstrando que 63% dos brasileiros escolheram o Câncer como a doença que deve ser tratada como prioridade pelos governos.
A pesquisa "Percepções da População Brasileira sobre o Câncer", foi realizada em 151 municípios brasileiros e ouviu 2.099 pessoas. Os resultados foram apresentados na última terça-feira (26) na abertura do 12º Fórum Nacional Oncoguia, que debateu os principais desafios no acesso ao diagnóstico precoce.
Paula Sampaio, oncologista clínica, destaca a preocupação da população, pois oito em cada 10 pessoas teve ou conhece alguém que teve câncer. Ela diz que a proximidade com o tema e a incidência da doença levam a população desejar que os governantes priorizem o assunto. "70% desses, mais de 600 mil brasileiros, se trata no SUS e enfrenta, via de regra, vários problemas. Dificuldade e demora para conseguir consulta com um especialista, demora para conseguir fazer exames e obter o diagnóstico, demora para iniciar o tratamento. Tudo isso, em se tratando de uma doença potencialmente grave como o câncer, é dramático. O câncer tem que ser realmente prioridade para os nossos governantes", afirmou.
A doença é responsável por 12% das mortes no mundo, aponta Paula. E, destaca ainda, que a expectativa de vida do brasileiro aumentou e com ela a incidência de cânceres associados a um perfil socioeconômico mais elevado.
"Como mama, próstata e cólon e reto. Ao mesmo tempo, temos taxas de incidência elevadas de tumores geralmente associados à pobreza, como colo do útero, pênis, estômago e cavidade oral... O Brasil investe menos em políticas públicas contra o câncer do que vários países da América Latina, cujas economias são muito menores do que a nossa. Isso é um erro gravíssimo, já que quanto menos a gente investe em prevenção, e diagnóstico precoce, mais se gasta com internações, cirurgias, medicamentos caros", argumentou.
Paula, apesar de insistir na necessidade de políticas públicas que viabilizam o acesso ao diagnóstico e tratamento, reforça que a prevenção não deixa de ser importante. "Cerca de 30% dos cânceres são considerados evitáveis, pois estão diretamente relacionados ao nosso estilo de vida. Tomar sol com proteção, ter uma alimentação saudável, não fumar, praticar atividade física com regularidade, controlar o peso corporal e o consumo de bebida alcoólica são medidas que todos precisamos tomar", pontuou.
"Com relação aos outros 70%, é importante fazer de tudo para descobrir o câncer no comecinho, quando as chances de cura são superiores a 90%. Temos que fazer consultas e exames preventivos, mesmo sem sintomas. O câncer precisa de informação", complementou.
A descoberta precoce aumenta chances de cura
Vanessa Costa, 45 anos, é professora de biologia. Em 2013, durante a amamentação do filho caçula, descobriu que estava com câncer de mama. O tratamento durou até 2014, no entanto, em 2016 recebeu a notícia do quadro de metástase - que é quando as células cancerígenas migram para outros órgãos - no fígado e ossos.
"A descoberta é uma fase que chamo de 'quarto escuro', é tudo novo e cheio de dúvidas. A família e amigos têm um papel fundamental em todas as fases do tratamento. Passei a fazer o tratamento paliativo, pois quando ele 'se espalha', não há mais a possibilidade de fazer o tratamento com efeito curativo. Desde 2016 faço protocolos que variam de acordo com a progressão, regressão ou estabilidade da doença, que pode ser quimioterapia injetável, radioterapia para analgesia das dores ósseas, cirurgias quando necessário ou quimioterapia oral que é a que estou fazendo atualmente", contou.
A professora acredita que o câncer deve ser pauta de discussão e investimento dos governantes, principalmente, no que diz respeito ao diagnóstico precoce. "No caso do câncer essa atenção precisa ser bem especial e cuidadosa, porque se a pessoa é diagnosticada bem no início da doença, as chances de cura dela são de 97% Podendo evitar mutilações, como o caso do câncer de mama, que em sua maioria há necessidade de fazer a mastectomia, retirada da mama doente", argumentou.
"A atenção ao câncer é muito necessária. Muita coisa que ouvíamos antes como: câncer é doença de gente mais velha, só dá em quem tem casos na família, só aparece para quem não tem uma vida saudável, dentre outras coisas. Já foi provado que são mitos! O estímulo aos cuidados desde cedo, é necessário. Mas sem o apoio do governo, fica difícil, pois já ouvi relatos de pacientes que com mais de 60 anos, nunca foram a um mastologista, nunca fizeram uma mamografia e usg, devido a burocracia dentro das UBS", finalizou.
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