Paciente paraense recebe tratamento inovador contra tipo raro de leucemia
Menino Vitor, de apenas 9 anos de idade, passou por terapia Cart-T Cell em São Paulo e mantém tratamento contra a doença
Vem do bairro da Marambaia, em Belém (PA), uma ótima notícia sobre tratamento a um tipo raro de leucemia, a Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA). O menino Vitor Leal, de apenas 9 anos de idade, foi acometido dessa doença e se submeteu a uma terapia inovadora no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, com resultado positivo. Ele é filho único da enfermeira Dine Vitorina de Pádua e do empresário Alciely Leal. A criança foi diagnosticada com a doença em agosto de 2020.
"Foi um choque para todos nós, pois ele sempre foi uma criança saudável até seus 6 anos, sem nunca ter internado ou precisar realizar algum tratamento de saúde. Mas, Vitor, naquele momento, nos surpreendeu. Após saber do seu diagnóstico, virou para a médica e disse: 'O que podemos fazer? Vou ficar um tempo sem fazer o que eu gosto (jogar bola, ir para praia, piscina, escola) mas depois vou fazer tudo isso de novo'. E perguntou o tempo de tratamento, marcava dia a dia, ansioso para concluir o tratamento", relata Dine Vitorina.
Busca pelo tratamento
Até chegar ao Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, a família percorreu um longo trajeto. "Após a 3ª recaída da doença, inclusive, do Transplante de Medula Óssea (TMO) realizado em dezembro de 2022 em SP, precisamos retornar para lá, e a única opção naquele momento (junho 2023) de terapia seria o Car-T Cell. Mas que naquele momento só era realizado em alguns hospitais privados, por ser uma terapia nova e muito cara e não estava disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Entramos na Justiça contra o plano de saúde e conseguimos uma liminar que obrigava a realização do tratamento, pois o Vitor se enquadrava em todos os critérios necessários. Como os próprios médicos diziam, era um caso de livro. Foi aí que o plano indicou que o tratamento seria realizado na Beneficência Portuguesa de SP", relata a mãe do paciente.
A primeira consulta de Vitor na Beneficência Portuguesa se deu em 14 de setembro de 2023. Foi, então, uma consulta de avaliação com o médico Victor Zecchin, responsável pelo serviço de transplante da BP. "Ele conheceu o caso e a partir disso fez o laudo que confirmava a indicação da terapia. Aí, teve a parte burocrática que demorou, mas eu insistia todos os dias para que agilizassem esse processo. Graças a Deus, sempre tive pessoas dispostas a ajudar e que contribuíram para essa agilidade. Mesmo assim, só conseguimos efetivamente realizar a coleta das células para que fossem encaminhadas para fora do Brasil (New Jersey-EUA), onde foram alteradas geneticamente em 10 de outubro de 2023, conseguindo realizar a infusão destas no dia 23 de novembro de 2023. Durante este período, enquanto aguardava o retorno das células, precisou internar algumas vezes", conta Dine Vitorina.
Na avaliação da mãe de Vitor, foi fundamental para o resultado positivo contra a doença o diagnóstico precoce quanto à nova terapia. "E a agilidade com o que busquei para que tudo fosse realizado. Pois sabia que cada dia faria toda diferença no sucesso e resposta ao tratamento. Claro que nossa fé e nossos pensamentos positivos, acreditando que tudo daria certo. Mesmo que muitas vezes tudo isso parecia tão difícil", destaca Dine.
Vitor conseguiu retornar a Belém no Natal. Ele prossegue fazendo acompanhamento com avaliação mensal em São Paulo, para acompanhar o desenvolvimento e evolução de suas células. Em Belém, o menino tem o monitoramento de um especialista, principalmente para o acompanhamento e intervenções que forem necessárias quanto a evolução de sua medula.
Acerca de como se sente, agora, após o tratamento em São Paulo, Vitor Leal não titubeia em responder: "Estou bem e feliz por ter voltado para casa". Ele cursa o 5º ano do ensino fundamental e tem assistido a aulas online.
Vitor diz que pretende voltar logo para as aulas na escola. Ainda mais que trocou de unidade escolar e ainda não teve oportunidade de conhecer os novos amigos, porque quando iria voltar a frequentar, aconteceu a última recaída e precisou retornar para São Paulo. E, agora, só deverá retornar após início das vacinas que estão previstas para iniciarem em maio 2024. O menino revela que pretende ser médico oncológico, por tudo que passou, e assim poder ajudar aqueles que enfrentam o mesmo problema que ele, como repassa a mãe Dine Vitorina.
Inovação
Acerca da terapia Car-T Cell, Victor Gottardello Zecchin, médico oncohematologista pediátrico, com especialização em transplante de medula óssea pediátrico, que realizou o tratamento de Vitor em São Paulo, informa que as células CAR T são um tipo de células chamado de linfócitos T, que são coletados do próprio paciente, e “reprogramadas” em laboratório para que reconheçam e destruam células tumorais de forma bastante específica. Atualmente, há produtos disponíveis de maneira comercial para tratamento apenas de alguns tipos de câncer, em especial linfomas e leucemia linfoide aguda. Entretanto, há vários estudos em andamento e novos produtos sendo desenvolvidos para o tratamento de outros tipos de tumor.
“O primeiro relato de uso de células CAR T foi em 2012, nos Estados Unidos. Uma paciente chamada Emilly Whitehead, na época com seis anos de idade, portadora de leucemia linfoide aguda recidivada e refratária, recebeu o tratamento de forma experimental. Esta paciente encontra-se viva e livre da leucemia até hoje. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso de um dos tipos de células CAR T, o Kymriah, da Novartis, em 2022. Portanto, é um tratamento bastante recente”, ressalta Victor Zecchin.
Ele destaca que a partir dessa terapia, “espera-se que estas células permaneçam no corpo da pessoa que as recebeu por tempo indeterminado, funcionando como “vigilantes” contra eventuais células tumorais que possam ter restado de tratamentos anteriores e impedindo que a leucemia (ou linfoma) voltem a aparecer”. “Assim, as chances de cura, em especial em pacientes com doença avançada (doença refratária a outros tratamentos ou recidivada após várias linhas anteriores de terapia), aumenta de maneira substancial”, complementa.
Até o momento, como frisa o médico, foram poucos pacientes tratados com este tipo de células no Brasil, até por conta do acesso que é bastante restrito, por se tratar de um tratamento muito caro (pouco mais de 2 milhões de reais). Vitor leal é um desses pacientes. “O Vitor estava em tratamento inicialmente num hospital de Belém, sua cidade natal. Entretanto, apresentou recidiva da leucemia e foi encaminhado a outro centro em São Paulo, para realização de um transplante de medula. O transplante foi realizado, porém, poucos meses após, a leucemia voltou mais uma vez. Assim, os pais foram atrás da liberação para realização do tratamento com células CAR T e, quando este foi autorizado, o Vitor foi direcionado para realizar o tratamento na BP, por se tratar de um centro validado para realização deste tratamento”, relata o médico.
Como resultado da terapia, o menino “encontra-se livre da leucemia, em remissão completa, embora ainda sem recuperação completa do hemograma”, conforme repassa o médico Victor Zecchin. A partir de agora, com relação a Vitor, a tendência é a de que, aos poucos, a produção de elementos sanguíneos (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas) dele vá se normalizando. E os retornos do menino a hospitais sejam cada vez menos frequentes.
“Com isso, pouco a pouco ele deve retomar suas atividades de rotina. Porém, por se tratar de um tratamento muito novo, é necessário cautela e acompanhamento médico bastante rigoroso até que toda a equipe médica esteja segura da plena recuperação de Vitor``. acrescenta o médico Victor Zecchin.
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