Nostalgia de ex-alunos marca 150 anos do Instituto Estadual de Educação do Pará (IEEP)

Como uma das instituições de ensino mais antigas do Brasil, o IEEP celebrou aniversário no dia 13 de abril

João Thiago Dias
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"Nós somos Piramutabas, peixe gostoso da água doce...". Esse era o início da música que enchia de orgulho alunos de várias gerações do Instituto Estadual de Educação do Pará (IEEP), no bairro da Campina, em Belém, que celebrou 150 anos de fundação na terça-feira (13). A nostalgia pelo apelido de piramutaba, que é um peixe típico dos rios da região amazônica, é sentida junto com outras lembranças, como os amigos de sala, que também faziam companhia pela Praça da República ou pelas ruas do Comércio depois das aulas; o alinhado gabarito dos professores; os acirrados concursos de banda no Dia da Raça; e os tradicionais uniformes com camisa branca por dentro da calça ou da saia, ambos da cor azul marinho.

Nathalya Silva (27), que, hoje, é professora e coordenadora do curso profissionalizante de Biblioteconomia do IEEP, é uma das saudosistas. Ela estudou no instituto de 2009 a 2011, no ensino médio regular, e guardou o uniforme durante anos. "Uma grande recordação. Achava linda aquela saia. Foi um dos motivos para eu querer estudar lá. Só não tenho mais porque doei para a filha de uma amiga", contou.

Ela lembra que o rigor com a disciplina era forte característica. "Se não entrasse às 7h30, o portão ficava fechado. E se não tivesse com o uniforme alinhado e completo, também não poderia entrar. O diferencial sempre foi a tradição e a dedicação dos professores. Um ensino peculiar", avaliou.
 

image Nathalya Silva é professora e coordenadora do curso profissionalizante de Biblioteconomia (Arquivo pessoal e Ivan Duarte)

Para Nathalya, na hora de recontar essa história, faz falta até a sadia rivalidade com os Xaréus, apelido dado aos alunos do Colégio Estadual Paes de Carvalho, também na Campina. "Principalmente no desfile escolar, nos concursos de banda, quando gritávamos para eles: 'sou piramutaba!'. Quando ia ao Comércio, tinha que levar outra roupa para trocar, para evitar rivalidade", recordou.

Atualmente, como docente, ela se sente orgulhosa em trabalhar com antigos professores. "Quando entrei na docência, em 2018, não sabia que seria direcionada para o IEEP. Coração deu uma acelerada, porque reencontrei muitos professores da minha época e passou um filme na cabeça. Até servi de influência para minha mãe, que foi cursar Segurança do Trabalho em 2019", concluiu.

Para Maria Amália Pereira, que estudou no IEEP de 1981 a 1983, na época em que o local ainda era específico para a formação de professores, as recordações também emocionam. "A maior referência foi uma tia e madrinha minha que foi aluna de lá. Foi onde tive a grande base para ser professora. De lá, fui estudar Pedagogia", contou.

image Maria Amália Pereira foi aluna e, hoje, é coordenadora pedagógica do IEEP (Arquivo pessoal)

Como atual coordenadora pedagógica do IEEP, ela faz uma balanço do que mudou ao longo desses anos. "Sempre continuou o primor pelo ensino de qualidade, mas muita coisa mudou. Ventiladores nos pés direitos altos, em que o vento pouco chegava aos docentes e discentes, deram lugar aos refrigeradores de ar. Tinha constante queda de energia que cancelava as aulas, agora, lidamos com a internet e temos dois laboratórios. Atividades eram com cartaz e, hoje, ensino on-line na pandemia", exemplificou.


De Escola Normal à Instituto

O IEEP, que já foi nomeado como Instituto de Educação do Pará (IEP), é uma das instituições de ensino mais antigas do Brasil e a segunda mais antiga do Pará, ficando atrás apenas da Escola Estadual Paes de Carvalho, que foi fundada em 1841. Inicialmente, como a primeira Escola Normal (EN) do estado, tinha educação voltada para a formação do magistério. A partir de 2002, passou a ofertar o ensino médio regular e, em 2010, começou a disponibilizar o ensino técnico-profissionalizante.

A historiadora Leila Mourão Miranda, professora titular da Universidade Federal do Pará (UFPA), contou que a criação foi no bojo dos rebatimentos da Cabanagem. A ideia surgiu no ideário modernizante e de progresso vigente no século XIX, no mundo ocidental europeu. Foi instituída pela Lei nº 33, de 30 de setembro de 1839, pela qual o governo paraense adotou as medidas iniciais, enviando o paraense Silvestre Tenreiro Aranha para realizar o curso, na Escola Normal, na Corte do Império, no Rio de Janeiro. A finalidade da Escola Normal em Belém foi promover a formação de futuros professores, com bases sólidas de instrução pública, que, até então, era ministrada pelos párocos.

"A Escola Normal funcionou em vários prédios em Belém e, em 1855, há notícias do funcionamento no antigo Liceu Paraense (atual Colégio Paes de Carvalho), onde foi ministrado o Curso de Instrução Primária e Secundária. Sob o governo de Joaquim Pires Machado Portela, a EN foi instalada em prédio exclusivo, com regulamento instituído pela Lei nº 669 de 13 de abril de 1871, o que anunciava 'os novos rumos do Ensino' na instrução pública paraense. Neste formato, o curso durava três anos", explicou.

image Inicialmente, como a primeira Escola Normal (EN) do estado, tinha educação voltada para a formação do magistério (Divulgação / Seduc)

 

A primeira turma teve onze matrículas masculinas e o aceite de dez mulheres como ouvintes. O currículo escolar compunha-se das seguintes matérias: instrução moral e religiosa; gramática; redação; caligrafia; aritmética; geometria; noções de física; química e agronomia; pedagogia e Legislação de Ensino; desenho; e música. Consta-se no programa, a criação posterior de Escola Prática com crianças, para treinamento dos futuros professores.

"José Veríssimo assumiu a direção da Instrução Pública no Pará, organizou reformas na EN, criando uma escola Normal masculina e uma feminina (decreto nº 165 de 29 de fevereiro de 1890, que teve vida curta. Em 23 de julho do mesmo ano, Veríssimo unificou as duas escolas", detalhou a historiadora.

Em 1900, a EN foi novamente reformulada, sob os auspícios da republicanização do país, pelo decreto nº 809 de 25 de fevereiro, instituindo um currículo laico com maior tempo de formação, para quatro anos, ganhando prédio próprio, onde ficou instalada até sua extinção. Em 1946, o governador Otávio Bastos Meira, pelo Decreto nº 515, de 28 de agosto, transformou a EN em Instituto Paraense de Educação.


"Posteriormente, teve seu nome reformulado para Instituto Estadual de Educação do Pará. Entre 2000 e 2003, sofreu progressiva desativação da finalidade centenária, sendo transformado em uma escola estadual à semelhança das demais. Sua ausência é ainda sentida pelos professores, mestres e doutores, que exercem suas profissões neste primeiro quartel do século XXI no Pará e além", concluiu Leila Mourão.

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