Mundo vive nova pandemia. Desta vez, da insônia, aponta especialista
De acordo com médico e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a maioria das pessoas já procura o médico pedindo um ‘remedinho’ para dormir, sem querer mudar os hábitos que compõem a higiene do sono.
O mundo está vivendo uma nova pandemia. Desta vez, do sono. Ou melhor: da falta dele. É o que afirma o otorrinolaringologista Edilson Zancanella, presidente da Associação Brasileira de Medicina do Sono e membro da organização científica do World Sleep 2023. “A situação é preocupante no Brasil. Houve uma pandemia de insônia durante a pandemia do coronavírus, quando disparou o número de casos de distúrbios de sono”, afirma.
De acordo com médico e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a maioria das pessoas já procura o médico pedindo um "remedinho’"para dormir, sem querer mudar os hábitos que compõem a higiene do sono. Costumo dizer aos pacientes: Você quer que eu instale um botão de liga/desliga, mas ele não vem no equipamento de fábrica e não vai ser possível”.
Com os impactos sociais acarretados pelo coronavírus, a rotina da maior parte da população mudou drasticamente. O isolamento social forçou a um confinamento que trouxe, entre outras consequências, uma discussão a respeito da saúde mental das pessoas. Dentro deste cenário, diversos são os motivos que explicam uma dificuldade de manter um sono regular e de qualidade.
O neurologista belenense Antônio de Matos, especialista em Neurologia Endovasular pela Universidade de São Paulo (USP), explica que dos motivos determinados pela pandemia é a alteração dos hábitos de sono, que podem ser atribuídos principalmente à mudança na rotina. “Subitamente, a população foi afastada de suas rotinas de trabalho e convívio. Essa abrupta alteração no ambiente de vida das pessoas pode, de fato, desencadear a insônia”, avalia.
Outro fator importante, segundo ele, são os aspectos psicológicos, nos quais familiares, entes queridos foram internados ou faleceram devido à doença. “Isso pode ter um impacto emocional significativo. Além disso, estávamos lidando com uma doença que apresenta diversas manifestações. Algumas pessoas, como sequela após a infecção por COVID-19, podem experimentar dificuldades de sono, como apneia, insônia e atraso de fase, embora sejam menos frequentes”, informa o neurologista.
Higiene do Sono
O especialista Antônio de Matos defende que, para melhorar o sono, é fundamental adotar o que chamamos de higiene do sono, algo que é essencial para todos os pacientes. Isto significa encarar o sono como algo programado, criando um ambiente propício para que ele se manifeste. Isso inclui ter uma rotina de despertar a uma hora razoável, evitando dormir até tarde.
Outro ponto importante é praticar atividade física, bem como evitar o consumo de bebidas estimulantes, como cafeína e energéticos, a partir das 16 horas, para que o sono venha de forma mais natural no final do dia. “Além disso, tratar os fatores psicológicos, como depressão e ansiedade, é fundamental para melhorar o padrão de sono”, recomenda.
É importante, ainda, conforme o neurologista, ter uma alimentação organizada e evitar comer tarde antes de deitar. Tomar um banho fresco, evitar o uso de telas antes de dormir, e manter o quarto livre de dispositivos eletrônicos e televisão são medidas importantes. Ao deitar, escolher um ambiente calmo, tranquilo e arejado é essencial. Se o paciente preferir, pode usar ar condicionado ou optar por um local ventilado e confortável.
“Lembre-se de que a rotina é fundamental para regular o ciclo de sono. Acordar no mesmo horário todos os dias ajudará a ter sono à noite no mesmo horário. Estabelecer uma rotina de trabalho, exercícios e limitar as sonecas durante o dia a no máximo 45 minutos, juntamente com todas essas outras medidas, tornará mais provável que o paciente tenha uma noite tranquila de sono”, afirma o médico.
Procurar ajuda especializada também pode ser necessário e deve ser feito sempre ao perceber mudanças em no padrão de sono ou sentir que seu sono não é mais restaurador. Neste momento, é crucial consultar um médico. “Isso permitirá que o profissional avalie e, se necessário, ajuste a higiene do sono, mas às vezes pode ser necessária uma investigação mais aprofundada”, recomenda o especialista.
Você sofreu ou sofre com insônia após a pandemia?
Jovens entrevistados pelas ruas de Belém comentaram os impactos da insônia e das noites mal dormidas
Lucas Furtado, 22 anos, estudante
“Sim, e tive que fazer um tratamento por seis meses com uma psicóloga. Eu não conseguia desligar, sempre na hora de dormir ficava lutando com muitos pensamentos intrusivos e isso atrapalhava muito meu dia a dia. Tive que mudar meus hábitos e agora consigo lidar bem melhor com o sono”.
Samily Mendes, 19 anos, estudante
“Eu sempre tive problema de insônia. Fui diagnosticada com Transtorno de Ansiedade e durmo 4 horas por dia. Eu tento desligar as telas, manter bons hábitos antes de dormir, mas nem sempre dá certo. De manhã, ao levantar, é quando eu sinto mais, principalmente nas primeiras horas, que é quando normalmente eu estou com muito sono".
Amanda Carneiro, 22, estudante
"Sim, e piorou depois da pandemia. Essa incerteza com o amanhã, o medo e o isolamento agravaram isso. Todos na minha casa ficaram com algum problema relacionado ao sono depois do coronavírus/covid. Normalmente eu deito meia-noite e passo pelo menos duas horas para conseguir dormir"
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