30 mil famílias da bacia do Mata Fome aguardam obras de macrodrenagem

Captação de cerca de R$ 330 milhões para realização da macrodrenagem do canal deve ser concluída em até quatro meses, e a expectativa da Sesan é iniciar as obras ainda em 2022

João Paulo Jussara/ O Liberal
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"É muito difícil morar aqui. Quem mora em cima de um rio desses e precisa ficar sentindo esse odor o tempo todo, tem dificuldade pra sobreviver". O relato é do pescador Ricardo Marques, que há mais de 20 anos mora no bairro do Tapanã, na beira do canal do Mata Fome. No final do ano passado, foi aprovada a captação de 70 milhões de dólares para as obras de macrodrenagem e urbanização da bacia, que abrange os bairros São Clemente, Pratinha, Parque Verde e Tapanã, com uma população estimada de 141.980 habitantes no entorno. Esses moradores esperam há décadas por saneamento e sofrem com alagamentos e a poluição da bacia, que acumula detritos e resíduos sólidos.

"O principal problema aqui é a limpeza em geral. Porque tendo uma limpeza, eu acho que a água não vai mais ficar poluída como é agora. Se você descer para colher essa água, vai ver que ela está podre. Não tem nenhuma condição de usar essa água pra nada. Eu pesco em outra área, fora do canal, porque aqui não tem como, não tem peixe, não tem nada, só bactéria, sujeira e fezes", reclama Ricardo Marques.

O pescador conta que, ao longo das décadas, já ouviu muitas promessas de políticos que diziam que iam fazer a macrodrenagem do canal e resolver os problemas dos moradores, mas nunca viu a obra sair do papel. "Só o que fizeram até hoje foi a construção dessa ponte, que até melhorou um pouco a situação. Antes alagava bem mais e o pessoal perdia tudo sempre que chovia muito. Era geladeira, fogão, cama, tudo", relatou.

O anúncio da captação do recurso para a realização das obras foi feito pelo prefeito Edmilson Rodrigues, no final do ano passado. Segundo o diretor de projetos da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), Victor Ximenes, o recurso de U$ 70 milhões — aproximadamente R$ 330 milhões — está sendo captado pelo Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) e o processo deve ser concluído em cerca de três a quatro meses. A expectativa é de que as obras iniciem ainda no ano de 2022.

image Ricardo Sousa é um dos mais de 140 mil moradores da bacia do Mata Fome e que aguarda por melhorias na área (Sidney Oliveira / O Liberal)

"Será feita a obra de micro e macrodrenagem, também a parte do sistema viário e a urbanização da bacia do Mata Fome. Essa obra vai se dividir em três fases: a primeira etapa é o sistema preliminar e instalação da obra e sistema de macrodrenagem, que está estimada em R$ 128 milhões. A segunda etapa vai ser a ponte, passarelas e microdrenagem, com orçamento estimado de R$ 70 milhões. E a terceira etapa é o sistema viário, urbanização, paisagismo e demolições, estimada em R$ 135 milhões. Então o total dá cerca de R$ 333 milhões nessas três etapas", detalhou Ximenes.

A bacia do Mata Fome compreende, hoje, a extensão de 8.387 quilômetros de canais, distribuídos por uma área de 535,03 quilômetros quadrados. São cerca de 29 mil famílias que devem ser beneficiadas com o projeto, que promete diminuir os alagamentos e melhorar a qualidade da água da bacia.

"A proposta de intervenção é justamente dar fluidez na água, então com a macro e microdrenagem e sistema viário, os alagamentos tendem a diminuir", explica o diretor de projetos da Sesan. "Mas como é uma área que naturalmente já alaga, em determinados momentos do ano, as chuvas podem eventualmente causar alagamentos. Mas vai ocorrer bem menos".

image Devido à falta de saneamento, muitas pessoas têm doenças de veiculação hídrica e convivem com outros problemas de saúde (Sidney Oliveira / O Liberal)

"Quanto à sujeira, a gente tem mais de 260 pontos de descarte irregular de resíduos sólidos em Belém. Então a Sesan trabalha bastante para combater esse tipo de descarte irregular, e hoje já foi aprovada licitação para construir três ecopontos, que são pontos de recebimento daqueles volumes. Um deles é na José Bonifácio com a Bernardo Sayão, outro na Estrada do Bagé, no Catalina, e o outro no São Joaquim, ao lado da cooperativa. Esses pontos vão solucionar o descarte irregular e reduzir a quantidade de resíduos na bacia", completou Victor Ximenes.

Para o morador da área, a expectativa é de que, desta vez, as obras realmente avancem e que os problemas sejam sanados. "Eu tenho fé em Deus que isso aqui vai melhorar, porque pior do que isso, não dá pra ficar. A gente tem que acreditar, né? Tomara que isso um dia saia do papel, porque aqui a gente precisa muito dessa obra, somos esquecidos há anos. Mas a esperança é a última que morre", concluiu Ricardo Marques.

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