Mercado de São Brás: o retrato do abandono

Com 108 anos recém-completados, patrimônio apresenta problemas estruturais e feirantes temem pelo futuro

Dilson Pimentel
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As pichações e os problemas estruturais tiram a beleza do Mercado de São Brás, um importante patrimônio de Belém que recentemente completou 108 anos. "Estamos completando 108 anos com um pouco de mágoa no coração e, também, com preocupação. Precisamos que tenha, aqui, uma revitalização", disse Rosana Araújo Martins, da Associação de Belém e da Comissão de Feirantes e que trabalha no local há 31 anos.

"A realidade do mercado é um pouco tristonha para nós, por causa da situação em que se encontra esse patrimônio, que está no coração da cidade", afirmou. Rosana acrescentou que o mercado tem uma história muito linda na cidade e é importante para a comunidade e para os trabalhadores. "Precisamos da revitalização. O prédio está com rachaduras. Tá muito sucateado, pichado. Isso tem nos deixado, de alguma forma, muito preocupados a cada dia que passa", disse. 

image As pichações e problemas estruturais tomam conta do prédio, no centro de Belém (Fábio Costa)

Rosana afirmou que os trabalhadores não são contrários a nenhum projeto para o mercado. "Mas os projetos devem fazer parte da realidade do trabalhador. Que o trabalhador possa sempre estar incluído em todo tipo de projeto que vier para cá. A esperança é muito grande que a gente possa, um dia, transformar esse espaço em um mercado modelo, que é nosso sonho antigo, e que possa qualificar o trabalhador para uma nova história. E possa, também, resgatar a história desse mercado", completou. Ela observou que, no complexo de São Brás, funcionam várias atividades. "Aqui é grande, bonito, tem de tudo, várias atividades. Em termos de tamanho e estrutura, só perdemos para o Ver-o-Peso. Somos aproximadamente 500 trabalhadores. Aqui, a gente tem peixe, carne, refeição, lanche, pet shop, ervas medicinais", contou. Rosana Araújo Martins disse que a preocupação, agora, é com o futuro do mercado. "Como é que vai ser? Que destino será dado para este mercado? Como é que o poder público fecha os olhos para a história desse patrimônio?", questionou.

Ela afirmou que a prefeitura tem um projeto para o mercado. "Mas a gente sabe que é um projeto de privatização. Queremos que a prefeitura venha explanar esse projeto para os trabalhadores, para todas as categorias, para todos os comerciantes que têm aqui, para eles tomarem ciência realmente (do projeto)", disse. Outros trabalhadores observaram que, em frente ao mercado, estão soltas as pedras da calçada, cujo piso é irregular. O capim também cresce e a lateral do mercado abriga pessoas em situação de rua. Rosana também informou que, no próximo sábado, os trabalhadores vão fazer uma programação para marcar os 108 anos desse patrimônio da capital. "A gente vai fazer algo para se alegrar, ficar feliz, confraternizar. A gente sempre esteve juntos, nos apoiando", disse.

image Milhares de pessoas passam todos os dias pelo mercado (Fábio Costa)

A Prefeitura de Belém, por meio da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (Codem), informou que finalizou o estudo de viabilidade econômica do projeto de concessão e reforma do Mercado de São Brás. O edital será lançado até o final desse mês. A Prefeitura acrescentou que o projeto foi apresentado ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CDU) no dia 14 deste mês. O projeto de restauração do Mercado de São Brás foi apresentado durante a reunião pelo arquiteto Aurélio Meira, responsável pelo projeto. A restauração do Mercado de São Brás faz parte do projeto "Desenvolve Belém", que visa, a partir de uma parceria com a iniciativa privada, reformar esse espaço público para o desenvolvimento econômico, fornecendo espaço para a gastronomia e eventos culturais.

O escritório M2P Arquitetura e Engenharia foi escolhido a partir de um chamamento público, realizado pela Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (Codem), em 2018. As propostas enviadas a partir do edital, chamado de Propostas de Manifestação de Interesse (PMI), foram analisadas por um Comitê Municipal de Deliberação e Acompanhamento (CMDA). Após esse processo, o projeto arquitetônico de Aurélio Meira foi selecionado. A secretária municipal de urbanismo, Annete Klautau, destacou a importância da apresentação do projeto para o Conselho. "O projeto fez o resgate do que realmente é o Mercado de São Brás na sua história, elevando o patrimônio, com essa reforma, ao valor que ele tem desde o seu início", afirmou. "Foi um projeto muito bem aceito, com ponderações dos conselheiros. Tudo foi pensado integrando os aspectos social e econômico, mantendo os mesmos permissionários, valorizando a atividade deles no mercado e visando receber mais público", acrescentou a secretária.

O projeto também envolve a mobilidade, levando em consideração o quanto a cidade cresceu em torno do espaço, com vias importantes no entorno. "Tudo isso para valorizar e dar nova vida ao Mercado de São Brás, que é do povo", acrescentou Annete. A Prefeitura de Belém também informou "que mantém diálogos constantes com as lideranças dos permissionários do espaço, com quem têm trabalhado de forma integrada na elaboração do projeto". Já a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) acrescentou que realiza a limpeza do espaço com serviço de varrição diária, lavagem e capina mensal da área externa, além de limpeza na Praça Floriano Peixoto, em cuja área está o mercado.

Sobre o mercado e o projeto

Uma construção histórica, o Mercado São Brás foi erguido durante a época áurea do ciclo da borracha amazônica - Belle Époque. A construção foi iniciada no dia 1º de maio de 1910 e  concluída em 21 de maio de 1911. É um elemento estruturante da rede de distribuição e comercialização de gêneros alimentícios e de serviços para o município, formados por pequenos empreendedores individuais, os quais viabilizam o crescimento socioeconômico, com a manutenção e geração de emprego e renda. O espaço em questão atualmente possui apenas 50% de sua área total sendo utilizada de forma não padronizada e com parte de seus produtos sendo armazenados de maneira indevida.

Segundo consta do site "Desenvolve Belém", da Prefeitura de Belém, "desta forma, torna-se necessária a capitalização de recursos oriundos da iniciativa privada, como uma forma de parceria a fim de revitalizar e requalificar o Complexo em questão, assim proporcionando uma maior interação e participação da população. Propõe-se com o projeto em questão uma parceria com a iniciativa privada por meio de uma concessão, desta forma proporcionando não somente ao município, como ao próprio patrimônio uma nova forma de utilização e através desta iniciativa proporcionar à população uma nova alternativa de negócios bem como de lazer". O Desenvolve Belém é um programa constituído de oportunidades de negócios e investimentos, em forma de parcerias que serão firmadas entre o poder público e a iniciativa privada. O objetivo é o desenvolvimento sustentável da cidade nas dimensões social, de meio ambiente, financeira, legal e urbanística, em prol da melhoria da qualidade de vida da população, e também a geração de emprego e renda e uma melhor utilização dos espaços públicos da cidade.

image Rosana Araújo Martins, da Associação de Belém e da Comissão de Feirantes: "Precisamos de revitalização" ()
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