Mametu Nangetu, Mulher Axé do Brasil, reforça luta contra discriminação

Em entrevista, ela fala do preconceito contra terreiros em Belém

Eduardo Rocha

"Esse reconhecimento da nossa luta é um incentivo para continuar buscando um Pará e um Brasil mais tolerantes". Assim Mametu Nangetu, 72 anos, que coordena o Instituto Nangetu de Tradição Afro-religiosa e de Desenvolvimento Social, expressa o significado do título de Mulher Axé do Brasil que ela recebeu, no final de semana, na Bahia, em homenagem prestada pela Mulheres do Axé do Recôncavo Baiano, durante o I Encontro de Mulheres do Axé do Brasil. 

Mametu é fundadora do terreiro Manso Massumbando Quem Quem Neta, que funciona há 33 anos. A partir do terreiro, surgiu o Instituto Nangetu, hoje com 15 anos.O terreiro Manso funciona na travessa Pirajá, 1194. 

Ela se qualifica como "uma mulher de tradição banto, uma mulher de terreiro". Ela encontra-se na Bahia, mas conversou com a Redação Integrada de O Liberal. O título, como disse, abrange as mulheres negras do Brasil por seu legado, sua militância "e pelo fato de eu ser uma mulher de terreiro".

Como relatou Mametu, o Instituto Nangetu possui CNPJ, mas o terreiro Manso, não. Essa situação revela que os integrantes do terreiro têm buscado transformar os terreiros do Pará em templos afro-religiosos, para que tenham isenção do pagamento do IPTU e de outros tributos.

"Esse título é o compromisso de continuar lutando para que a gente tenha um Pará igual, um Pará menos violento, um Pará menos homofóbico, um Pará menos intolerante. Eu moro ali na Pirajá e sofro muita intolerância. Quantas vezes, eu já fui mandada sair dali, para procurar um interior, porque ali na Pirajá não é meu lugar, e eu digo que ali é o meu lugar. O lugar da mulher é em qualquer lugar que ela esteja. Eu sei o direito do meu vizinho e também sei o meu direito de bater meus tambores, meus atabaques. Então, Belém é uma cidade intolerante, sim, e preconceituosa com as nossas religiões de matriz africana", enfatizou Mametu.

A Mulher Axé do Brasil destacou que, no evento na Bahia, foi criada a Rede de Mulheres de Axé do Brasil para defender os direitos das comuidades religiosas de matriz africana, pela identidade afro-brasileira, em especial os idosos.

Nesta quinta-feira (28), como o Supremo Tribunal Federal retomará o julgamento acerca do abate tradicional ritualístico doméstico, os Povos Tradicionais de Matriz Africana (Potmas) promoverão um ato em favor da herança ancestral dessa prática. O ato ocorrerá às 9 horas, em frente à sede da Alepa.

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