Instituto Lixo Zero e Emaús firmam parceria para fortalecer economia circular durante a COP 30
Por meio do Zero Waste International Dialogue, a ser realizado em paralelo à conferência mundial do clima, projeto prevê a criação de quatro centros e do laboratório Lixo Zero
O Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB) e o Movimento República de Emaús anunciaram, na última quarta-feira (12), uma parceria estratégica para fortalecer práticas de reaproveitamento de materiais, alinhando-se aos princípios da sustentabilidade e da reutilização. A iniciativa prevê a criação de quatro centros que ampliarão as atuais atividades de economia circular do Emaús, além do Laboratório Lixo Zero, a serem inaugurados durante a realização do Zero Waste International Dialogue [Diálogo Internacional Lixo Zero, em português] na sede do Emaús, no bairro do Bengui, durante a COP 30, que ocorrerá em novembro em Belém. O projeto está em fase de captação de parceiros para ser viabilizado.
O objetivo central da parceria é modernizar as instalações do Emaús, reforçando a estrutura de capacitação e o aproveitamento dos materiais recebidos. "O primeiro projeto é a gente potencializar ainda mais o Centro de Reuso e Triagem de Materiais, que é baseado no dia da Grande Coleta", explicou Rodrigo Sabatini, presidente do ILZB. Além disso, a parceria busca impulsionar a formação de jovens e mulheres em economia circular e upcycling.
"Aqui no Emaús, nós temos mais de 600 jovens capacitados todos os anos, temos diversas mulheres e projetos que precisam ser potencializados e preparados para o futuro", afirmou.
Outros centros previstos são os de: Economias Humanizadoras e Sustentáveis; Capacitação em Economia Circular e Upcycling; e Compostagem e Agricultura Urbana. "A atual horta e esse trabalho de incubação, que já existem, vão se transformar. E nós vamos criar aqui o Laboratório Lixo Zero, que vai se ocupar de ajudar não só esses jovens desenvolvedores, mas também vai ser um centro de formação das escolas aqui do entorno", detalhou Sabatini.
Georgina Cordeiro, coordenadora geral do Movimento República de Emaús, destacou a importância da parceria com o ILZB como um reforço para a missão da organização. Para ela, a colaboração amplia a conscientização sobre reaproveitamento e sustentabilidade, agregando conhecimento técnico e novas perspectivas ao trabalho já realizado há décadas pelo Emaús. “Fazer essa parceria com o instituto traz a perspectiva de difundir uma ideia de reaproveitamento com qualidade e, principalmente, a perspectiva mais ampla de cuidar do planeta, da cidade, das questões que a gente está discutindo hoje, que dizem respeito à problemática das mudanças climáticas”, afirmou.
A parceria também se beneficiará da recente portaria que regulamentou a Lei de Incentivo à Reciclagem, permitindo que empresas e pessoas físicas direcionem parte do Imposto de Renda devido para projetos de sustentabilidade. "As pessoas já devem o imposto e, agora, elas poderão destina-lo para o projeto. As grandes empresas podem ajudar com 1% do imposto, e as pessoas físicas podem destinar 6%", destacou Sabatini. Ele enfatizou que o ILZB e o Emaús buscam fortalecer a captação de recursos para aquisição de infraestrutura durável, como a compra de um caminhão para logística e a reforma dos espaços destinados à triagem e reaproveitamento de materiais.
O atual funcionamento das atividades no Emaús
O Movimento República de Emaús atua há mais de 50 anos em Belém promovendo o reaproveitamento de materiais, educação ambiental e inclusão social. Uma das principais iniciativas é a feira semanal, realizada todas as quartas-feiras no galpão da sede. "De todo o material que coletamos, fazemos alguns reparos naquilo que é possível fazer e colocamos à disposição da comunidade por preços simbólicos", explica a coordenadora-geral do movimento. A ampla variedade de materiais coletados inclui móveis, eletrodomésticos, roupas, sapatos, brinquedos e equipamentos eletrônicos. As doações precisam estar em condições de reuso, para que o custo de reparo não inviabilize sua reutilização.
Além da feira, o Emaús também oferece cursos de capacitação profissional em diversas áreas, como informática, manutenção de eletrônicos e reaproveitamento de materiais. "Temos um espaço voltado para cursos tecnológicos, manutenção de computadores, notebooks, monitores, robótica e programação", afirma Reginaldo Nunes, instrutor de informática do Centro de Inclusão Digital (CID). Os cursos são gratuitos e voltados para jovens de 16 a 29 anos.
A parceria com o Instituto Lixo Zero Brasil também terá impacto direto no apoio às atividades sociopedagógicas e de profissionalização oferecidas pelo Emaús. "Nós temos atividades de arte, cultura e esporte, como violão, percussão e musicalização, além dos cursos profissionalizantes voltados para adolescentes e jovens", explica Débora Ribeiro, coordenadora dessas atividades. Segundo ela, a parceria possibilitará um aumento no número de beneficiados e uma melhor estrutura para os cursos oferecidos.
Outro impacto importante será no incentivo à geração de renda para a comunidade local. Milene Oliveira, 39, é uma empreendedora que encontrou no Emaús uma oportunidade para transformar sua realidade. Inicialmente, ela frequentava o espaço apenas como consumidora, aproveitando os preços acessíveis dos produtos da feira semanal para comprar itens para uso próprio. No entanto, há três anos, a necessidade bateu à porta de sua família quando sua irmã ficou desempregada. Foi então que as duas tiveram a ideia de revender os produtos adquiridos no Emaús para garantir uma nova fonte de renda. "A gente trabalhava como diarista duas vezes por semana e, com esse dinheiro, comprava roupas, sapatos e outros itens para vender na feira", relembra Milene.
Com o tempo, o pequeno negócio cresceu e Milene conseguiu abrir um ponto fixo de vendas, deixando para trás o trabalho informal nas feiras. Hoje, ela sustenta sua família exclusivamente com a revenda dos produtos adquiridos no Emaús, garantindo não apenas sua estabilidade financeira, mas também ajudando outras pessoas a acessarem produtos de qualidade a preços acessíveis. "O Emaús continua sendo a minha fonte. Toda quarta-feira eu venho para fazer as compras e levar para minha loja. Foi com esse trabalho que consegui me manter e colocar minha filha na universidade. Sou muito grata por isso", destaca.
Além da expectativa de melhorias estruturais, a COP 30 provocou a antecipação da tradicional coleta anual para junho, devido à movimentação da cidade no segundo semestre. "A antecipação é fundamental para organizarmos melhor o processo e garantir a arrecadação necessária antes que as empresas destinem recursos para outros eventos", explica Georgina Cordeiro. O evento, que reúne cerca de mil voluntários, depende de doações e do empréstimo de caminhões para a realização das coletas.
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