Na pandemia, usuários comentam o que pode melhorar no transporte coletivo de Belém
Passageiros reclamam da falta de limpeza e higienização mais frequente nos ônibus e também da redução da frota
O transporte público em Belém do Pará está longe de agradar a maioria dos usuários e, em tempos de pandemia, as reclamações só aumentaram. A principal delas foi a redução da frota de ônibus, que acabou por promover mais aglomerações, mas outra preocupação tem deixado os passageiros aflitos: a limpeza.
Em entrevista concedida para a Rádio Liberal, em 16 de abril, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol) afirmou que as empresas de transporte público de Belém já receberam mais de 400 autuações desde o início da gestão dele, iniciada em janeiro de 2021. Chamou a atenção um comentário: o prefeito avaliou, na ocasião, que, apesar das autuações, o serviço não melhora na capital.
Operador de máquinas, Antônio Negrão, 65, utiliza os coletivos todos os dias. Embora tenha visto a limpeza em operação em alguns fins de linha, ele ressalta que o serviço pode ser mais bem cuidado. Principalmente porque, para trabalhadores como ele, não há outra opção. E ainda que seja assim, isso não significa que o serviço de transporte público na capital não precisa melhorar.
"Tem muitos ônibus que deixam a desejar, por serem sucateados. Tem que melhorar bastante. O [ônibus da linha] Curuçambá estão higienizando no final da linha, que eu já vi, né? Mas não sei se são todos. Mas depois, os carros dão o retorno pelo centro e não higienizam. Dificilmente a gente vê alguém passando pano nos bancos, é raro", afirma Negrão.
A preocupação de Antônio com a limpeza dos coletivos vem de antes da pandemia da covid-19. Para ele, a falta de higiene também é refletida no fato de que muitos veículos não possuem lixeiras.
"Tem muitos ônibus que deixam a desejar, sucateados. Tem que melhorar bastante. O [ônibus da linha] Curuçambá estão higienizando no final da linha. Mas não sei se são todos. Depois, os carros dão o retorno pelo centro e não higienizam. Dificilmente a gente vê alguém passando pano nos bancos, é raro", afirma Antônio Negrão
Sem álcool em gel
A recepcionista Scarlet Ohana, de 29 anos, concorda.
"Eles estão limpos no início, mas no final do dia já estão bem sujos. A gente vê que tem alimentos no chão. Precisamos que, de fato, tenha manutenção diária e, sempre que o ônibus sai da garagem, ele precisa dessa limpeza para poder receber a gente", avalia ela.
Causa estranhamento também, no ponto de vista de Scarlet, que os ônibus não possuam álcool em gel disponível para os passageiros. A medida é recomendada por especialistas para evitar a propagação do novo coronavírus. Nos ônibus, os passageiros precisam usar as mãos em diversos momentos.
O maior impacto no cotidiano de Scarlet, porém, foi a redução da frota desde abril de 2020. "Hoje eu saí de casa mais tarde, mas eu saio bem cedo e às vezes eu chego bem tarde. Então eu sinto que é difícil de chegar por conta da redução", conta ela.
"Eles estão limpos no início, mas no final do dia já estão bem sujos. Precisamos que, de fato, tenha manutenção diária e, sempre que o ônibus sai da garagem, ele precisa dessa limpeza para poder receber a gente", avalia a recepcionista Scarlet Ohana. Para ela, causa estranhamento que os ônibus não possuam álcool em gel disponível para os passageiros
Mudanças em contratos podem ser debatidas
Na mesma entrevista cedida por Edmilson Rodrigues no dia 16 de abril ao grupo O Liberal, o prefeito também aventou a possibilidade de levar à Câmara Municipal de Belém uma proposta de mudança nos contratos de licitação que a prefeitura possui hoje com as empresas de ônibus que prestam o serviço na capital paraense.
Porém, ainda que procurada esta semana pela redação integrada de O Liberal, a Prefeitura Municipal de Belém não detalhou os propósitos do eventual projeto de lei - e nem quando ele será encaminhado ao Legislativo.
Em nota, no entanto, a Prefeitura de Belém afirmou que o processo licitatório do ano passado para a operação do serviço de transporte coletivo por ônibus foi suspenso pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Sendo assim, enquanto esse processo está em avaliação, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana "continua com suas ações gerenciais que lhe competem para a melhoria do serviço, como o planejamento, gerenciamento, controle e fiscalização".
Setransbel diz que empresas fazem manutenções e que frota segue superior à demanda
Procurado também pela redação integrada de O Liberal para comentar as melhorias requeridas pelos usuários, e também para detalhar como os cuidados com a limpeza e higienização dos coletivos contra a proliferação da covid-19 estão sendo feitos, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belém (Setransbel) afirmou que "todas as empresas associadas realizam manutenções constantes nos dois mil ônibus que compõem a frota e, além disso, realizam treinamentos para os mais de dez mil funcionários contratados".
O Setransbel disse ainda que, "neste momento delicado, sem nenhum subsídio do governo, a frota de ônibus segue superior à demanda, com reforço nas linhas de maior necessidade e higienização diária".
Segundo afirma o sindicato das empresas de transporte público, desde março de 2020, período inicial da pandemia, houve uma "considerável queda na única fonte de receita das empresas: a tarifa de ônibus, que, em Belém, está estagnada há dois anos, sendo uma das menores do Brasil".
O Setransbel ressaltou ainda que "é fundamental que o poder público olhe para o setor e atue em conjunto para dar continuidade ao transporte público na Região Metropolitana".
O Setransbel diz que, "neste momento delicado, sem nenhum subsídio do governo, a frota de ônibus segue superior à demanda, com reforço nas linhas de maior necessidade e higienização diária", e que, na pandemia, "é fundamental que o poder público olhe para o setor"
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