Iniciativa solidária ajuda a amenizar a fome de animais de rua e conscientizar contra o abandono

Segundo o Centro de Controle de Zoonoses, a capital paraense tem quase 20 mil animais de rua. Mas esse número pode ser ainda maior.

Caio Oliveira
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Atualmente, há cerca de 20 mil animais em situação de abandono nas ruas de Belém, segundo estimativa do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Contudo, esse número pode ser muito maior se levarmos em consideração o levantamento do Fórum de Proteção e Defesa dos Animais, que estima a existência de quase 200 mil cães e gatos soltos pelas ruas da Região Metropolitana. Em todo o Brasil, segundo o último estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), há pelo menos 30 milhões de animais abandonados, 60% deles cachorros. 

A maioria desses animais nasceram nas ruas, mas, muitos foram abandonados por quem deveria protegê-los e zelar pelo seu bem estar. Para provar que pequenos gestos podem fazer toda diferença para toda e qualquer vida – humana ou não - dois belenenses resolveram colocar em prática um projeto diferente. João Paulo Queiroz e Dannilo Costa usam o tempo livre que têm aos finais de semana para confeccionar e instalar comedouros para cães e gatos em diversos pontos da capital paraense.

image O CCZ estima que em Belém existam 20 mil animais abandonados, a maioria deles nascidos nas ruas, e outros tantos deixados nessa situação por quem deveria cuidar deles (Divulgação)

 

 

 

 

 

A iniciativa Comedouro Belém deu tão certo que várias pessoas já entraram em contato com eles pelo perfil no Instagram (@comedourobelem) para ceder um espaço em frente suas casas ou pontos comerciais. “O projeto surgiu de vídeos que vi na Internet, aí conversei com meu cunhado para colocarmos um na Senador Lemos e ver se daria certo. De repente, os cachorros começaram a aparecer e minha cunhada pediu pra instalar outro na frente da casa dela, e com a boa resposta, postei no Instagram. A partir daí, as pessoas começaram a me pedir e resolvi continuar”, conta o geólogo João Paulo.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Comedouro e Bebedouro de Belém (@comedourobelem) em

Rede de solidariedade 

 

Uma das explicações para o sucesso da empreitada pode ter sido a facilidade: tudo que se precisa para ter um comedouro instalado é a disponibilização do espaço e um de tubo de PVC de 100mm, com joelhos e tampões. Dannilo explica que, mais até que a mão de obra e o material, o importante mesmo é a cessão de um local onde os animais de rua posam ter acesso ao alimento, e pessoas dispostas a repor os estoques de água e ração. “Instalamos conforme as demandas das redes sociais e a nossa disponibilidade de horário. Depois, solicitamos fotos da área para poder dimensionar melhor o local, levando em conta a facilidade de acesso e proteção da chuva, principalmente”, conta o engenheiro de telecomunicações.

image Tudo que se precisa para ter um comedouro instalado é a disponibilização do espaço e um de tubo de PVC de 100mm, com joelhos e tampões. (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

 

 

 

 

Até o momento, a empreitada conta com doze instalações em Belém, a primeira delas em frente ao Café & Coisinhas, doceria que fica na avenida Senador Lemos, bairro da Sacramenta. Thaís Feio, dona do estabelecimento, diz que quis usar a visibilidade de seu empreendimento para fazer a diferença na vida dos bichos. “Percebemos que por ser uma via de grande acesso, muitos animais passavam por aqui, furando sacos de lixo para procurar comida, e algumas pessoas acabam usando de violência para afastá-los. Nós sempre colocávamos ração e água aqui na frente, mas o alimento acabava sendo desperdiçado pela ação da chuva, das formigas, etc. Então surgiu a proposta do comedouro, que deixou tudo mais limpo e organizado”, conta a empreendedora, que garante que os clientes apoiaram a ideia e muitos começaram a frequentar o café por causa do projeto.

“Antes da instalação, ficamos um pouco receosos em colocar o comedouro justamente pela opinião dos clientes, mas para nossa surpresa a ideia foi 100% aceita! Ganhamos clientes novos que amaram tanto, que vieram só para conhecer o espaço. Já ganhamos várias doações de ração e muitos clientes pediram a instalação de comedouros na frente as suas casas”, comemora Thaís.

image Mais até que a mão de obra e o material, o importante mesmo é a cessão de um local onde os animais de rua posam ter acesso ao alimento, e pessoas dispostas a repor os estoques de água e ração (Reprodução Instagram)

 

 

 

 

Recepção do público

Um desses clientes é o jornalista Yuri Coelho, que se sente confortável em poder levar sua cachorrinha Kylie em um ambiente pet friendly ("amigo dos animais"). "Queria que mais estabelecimentos em Belém tivessem esse tipo de iniciativa. Os proprietários deveriam ver isso como um investimento, já que as famílias estão tendo menos filhos e o mercado de pets está cada vez mais movimentado. No caso aqui do Café, acabo saindo pra comer algo e ainda aproveito pra levar a Kylie pra passear. É um ótimo programa", explica.

Essa receptividade e a satisfação em ver cães e gatos de rua sendo alimentados é o "pagamento" que os criadores do projeto recebem, já que o Comedouro Belém é totalmente gratuito e mantido por meio de uma rede de solidariedade, onde cada um faz um pouco. "Financeiramente não ganhamos nada, pois todo custo do projeto é da empresa do João Paulo. Mas como cidadãos, nos sentimos recompensados, e isso basta", finaliza Dannilo.

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