‘Gatos’ na rede elétrica em Belém: casos de furtos de energia crescem 11% em 2023
Especialista aponta riscos à integridade física e também materiais para quem tenta fazer a ligação clandestina
Os casos de ligações clandestinas na rede elétrica em Belém, os famosos ‘gatos’, cresceram 11% em 2023, se comparado com o ano anterior. Segundo os dados da concessionária Equatorial Pará, foram encontrados 28.803 casos de fraude de energia no ano passado e 25.924 em 2022, na capital paraense. O engenheiro elétrico e professor Vanderson Carvalho de Souza alerta que os perigos para quem furta energia são inúmeros e vão desde prejuízos materiais até mesmo o risco de morte.
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Em todo o Estado é realizado o levantamento de registros de ligações elétricas clandestinas encontradas em imóveis. No ano de 2023, Belém liderou o ranking das cinco cidades do Pará onde mais foram flagrados os ‘gatos’. Depois da capital, os outros municípios que também entraram para essa lista são: Ananindeua, na Região Metropolitana, com 12.609; Santarém com 7.084; Marabá com 6.259; e Parauapebas com 5.762 ocorrências.
Devido às notificações e números expressivos relacionados às ligações clandestinas, essas cidades também foram as que mais receberam ações para combater os crimes. Somente no ano passado, foram quase 258 mil ações em todo o estado, além de campanhas de conscientização. Em números detalhados, Belém recebeu 93.430 fiscalizações, Ananindeua 24.850, Santarém 16.481, Marabá 15.346 e Parauapebas 14.112. As informações foram divulgadas pela Equatorial, que ainda afirma que os casos são pulverizados nas cidades e a empresa atua em diversas frentes. Também existem grandes investimentos em novas tecnologias de medição que impossibilitam ou dificultam ligações irregulares.
“O furto de energia, além de ser crime, é uma prática que pode causar acidentes graves e até fatais, além de provocar falta e oscilação de energia para os consumidores. O manuseio na rede elétrica só deve ser feito pelos profissionais que são capacitados e autorizados que seguem padrões de segurança para evitar acidentes. A Equatorial se preocupa em reverter essa situação, por isso, constantemente realiza ações para combater essa ilegalidade e faz campanhas para alertar sobre os perigos que podem ser causados pela irresponsabilidade desses criminosos”, afirma Arthur Frederick, gerente tático de Serviços Técnicos e Comerciais da Equatorial Pará.
Perigos de ligações clandestinas
O engenheiro elétrico e professor Vanderson Carvalho de Souza explica que, em termos técnicos, o gato de energia se chama de uma ‘perda não técnica’. “O sistema elétrico, de modo geral, tem dois tipos de perda. Uma é a perda técnica inerente do sistema elétrico, que é referente ao transporte de energia, tudo relacionado ao uso da energia e à distribuição dela. Então, para a energia sair da subestação da concessionária e chegar à unidade consumidora, existe uma perda associada ao cabeamento, à transformação de energia e assim por diante. E as perdas não técnicas são onde se encontram os gatos. É aquela derivada do não faturamento da energia elétrica entregue pela distribuidora e são comumente chamadas de fraude ou furto de energia”, discorre.
Ainda conforme o alerta feito pelo professor Vanderson Souza, as ligações clandestinas se caracterizam pela violação do medidor de energia elétrica. A unidade consumidora consegue mais energia, mas paga menos por ela. O ato acaba gerando um prejuízo coletivo, pois tanto a concessionária quanto o consumidor são afetados financeiramente.
“Prejuízo para o consumidor, pois quando a concessionária contabiliza as faturas e percebe que saiu mais energia do que o previsto das subestações, devido aos gatos, os custos dessa defasagem acabam sendo redistribuídos para os clientes. Para a concessionária, os revezes são sobre os equipamentos usados para a distribuição. A distribuidora trabalha com um planejamento para levar energia a uma região. Com o furto, é necessário que esse equipamento trabalhe mais. Então, a luz começa a piscar demais, o equipamento desliga ou fica fraco quando é colocado na tomada. Esses são indicativos que a tensão e a corrente não estão chegando de forma adequada. E não significa dizer que é um problema por culpa da concessionária, se deve ao furto”, detalha o especialista.
Essa dinâmica envolvendo as ligações clandestinas ainda expõe a casa e tudo o que há nela a um grande risco, principalmente a um potencial curto-circuito devido à falta de critérios técnicos e normas para realizar as conexões.
“Quando a pessoa faz um gato e conecta diretamente o cabo na rede, aquele cabo fica vulnerável, pois essa conexão, embora pareça simples, precisa de um conector específico para colocar lá. Esse processo de conectar e desconectar todos os dias aumenta a exposição da pessoa a um acidente elétrico. Não raro vemos muita gente morrendo por conta de ligação clandestina. A pessoa não entende que precisa estar isolada adequadamente para aquele nível de tensão e ter todo um material e suporte elevado, cuidado que não existe ao fazer o gato. Qualquer curto ou contato com uma corrente elétrica, mesmo muito pequena, pode provocar um dano muito grande. Então qualquer vacilo ou erro, a pessoa pode perder os bens materiais ou sofrer um dano físico, inclusive a morte”, destaca o engenheiro.
Denunciar irregularidades
Conforme a Equatorial, um dos indícios que está ocorrendo o furto de energia elétrica entre imóveis próximos é quando o comportamento de consumo de energia de um mês do cliente foi parecido com os meses anteriores, mas o valor da conta está maior. Além disso, quando há oscilação e falta de energia constante, também pode significar que aquela rede está sobrecarregada por ligação clandestina.
Caso os consumidores percebam que estão sendo vítimas de ligações clandestinas, devem solicitar à Equatorial uma vistoria na instalação de seus imóveis ou postes de energia próximos de suas casas. O contato com a empresa é feito pelo site www.equatorialenergia.com.br, pela Central de Atendimento no número 0800 091 0196 ou nas agências de atendimento. Caso comprovado o furto de energia, a pessoa deve registrar Boletim de Ocorrência também.
Crime
Segundo a Polícia Civil, o furto de energia elétrica é considerado crime conforme o artigo 155 do Código Penal Brasileiro, acarretando pena de até quatro anos de reclusão, além de multa equivalente ao consumo não faturado. A adulteração do medidor também configura crime de estelionato, conforme o artigo 171 do Código Penal.
A Delegacia de Combate a Crimes Contra Concessionárias de Serviços Públicos (DCCCCSP) realiza operações em todo o Estado em parceria com a prestadora de serviço visando combater o furto, fraudes e ligações clandestinas de energia elétrica. Os casos podem ser denunciados pelo número 181 ou na delegacia especializada, que fica em Belém, na Avenida Senador Lemos, n°1055, bairro do Umarizal.
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