Em Belém, cemitério Santa Izabel tem movimentação intensa no Dia de Finados

Desde cedo várias pessoas já se concentravam para entrar na maior necrópole municipal da capital

João Paulo Jussara
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O movimento foi intenso nos cemitérios de Belém desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira (1), Dia de Finados. Milhares de pessoas levantaram cedo para prestar homenagens, oferecer flores e acender velas aos que já partiram. Mas neste ano, além do luto de quem perdeu um ente querido, há também um outro sentimento: o luto coletivo pelas mais de 608 mil vidas que foram perdidas durante a pandemia de covid-19 que, é importante que se lembre, ainda não acabou.

No cemitério de Santa Izabel, bairro do Guamá, a administração esperava pelo menos 45 mil visitantes. O trânsito lento nos arredores já indicava que havia muita gente por lá. Na avenida José Bonifácio, principal rua que dá acesso ao local, um engarrafamento se formou desde o início da manhã. Os portões se abriram às 6h, mas muitas pessoas já formavam filas antes do sol nascer para visitar os quase 48 mil sepulcros de uma das mais tradicionais necrópoles da capital, entre catacumbas, jazigos, mausoléus, ossuários e jardineiras.

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João Diogo chegou cedo no cemitério para visitar o túmulo da mãe, que morreu em 2009. Ele reclamou que apenas o portão principal do cemitério estava aberto, o que gerou aglomerações. "Todo ano eu venho junto com os meus padrinhos, que são idosos. Só que hoje todas as entradas, com exceção do portão principal, estão fechadas. Isso tá causando um transtorno danado aqui, não está tendo controle nenhum, nem álcool em gel, nem medição de temperatura. Parece até que eles querem que a gente adoeça", disse.

Visitantes reclamam de fiscalização

Caminhando entre as estatuetas e mausoléus com uma prancheta sobre os braços, a antropóloga Elisa Gonçalves observava a relação dos visitantes com as sepulturas. O cemitério de Santa Izabel é objeto de estudo da jovem mestranda, que desde 2016 faz uma pesquisa acadêmica relacionada aos sentimentos e imaginário associados à morte para o Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGSA/UFPA).

"Em todos esses anos de pesquisa, o que mais me chamou a atenção foi a composição do cemitério, a especificidade de conduta do usuário, que é muito diferente do transeunte, que só passa e não tem nenhuma relação específica com os túmulos. E uma grande diferença que eu notei de antes da pandemia é a ausência do corpo. Antes você poderia sepultar o corpo do ente querido e agora não tem mais isso, então como se despedir?", questionou a pesquisadora.

image O cemitério Santa Izabel tem mais de 48 mil sepulturas e a expectativa é de que ao menos 45 mil pessoas passem pelo local neste Dia de Finados (Thiago Gomes / O Liberal)

Jazigos mais visitados são dos 'santos populares'

Construído há 143 anos, em 1878, o cemitério de Santa Izabel é cenário de muitos relatos de visagens e assombrações, e popular por abrigar sepulturas de personagens históricos do Pará, como a Severa Romana, jovem de 19 anos vítima de feminicídio em 1900, Josephina Conte, a "Moça do Táxi", o médico Camilo Salgado e o governador Magalhães Barata. Nos jazigos destes "santos populares", como ficaram conhecidos, muitos aproveitavam para acender velas e agradecer pelas graças alcançadas.

image Além de visitar e homenagear entes queridos, muitas pessoas param para homenagens a "túmulos famosos" e com santos populares, como o médico Camilo Viana, a quem muitas pessoas fazem promessas e orações por saúde (Thiago Gomes / O Liberal)

No jazigo de Severa Romana, o bacharel em direito David William acendeu velas para agradecer pelo nascimento da filha, no ano passado. "O parto da minha esposa foi um pouco complicado, aí eu vim aqui e pedi que ela intercedesse, que a minha filha nascesse saudável, e graças a Deus isso aconteceu. Desde então, eu prometi que todo ano eu ia vir aqui acender uma vela pra ela, e este é o primeiro ano que venho, conforme prometido", contou.

Vendas cresceram

A comerciante Solange Almeida pela primeira vez acompanhou o irmão, que já trabalha há mais de 15 anos no cemitério de Santa Izabel, nas vendas. "Nós ainda temos flores, velas, água, um pouco de cada. O que a gente mais vendeu foi o 'sorriso de Maria' e monsenhor. Mas nós sentimos que esse ano melhorou muito o movimento, porque ano passado ele não vendeu quase nada, e tinha muito menos gente", afirmou a ambulante.

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