Dia Mundial Sem Carro e Estadual do Ciclista revelam desafios de mobilidade urbana em Belém; vídeo

Diversificação e integração dos meios de transporte são soluções, na avaliação de especialistas

Camila Guimarães

Nesta quinta-feira, 22, o Dia Mundial Sem Carro e o Dia Estadual do Ciclista são datas que chamam atenção para os desafios de mobilidade dos grandes centros urbanos. Enquanto uma provoca reflexão sobre o uso excessivo do automóvel, a outra busca estimular o uso da bicicleta como um meio saudável e sustentável de locomoção, chamando atenção também para as mudanças necessárias nas cidades, para que se tornem mais aptas a quem pedala. No entanto, ambas as demandas ainda não são plenamente praticáveis em Belém.

A afirmação é da especialista em trânsito e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maísa Tobias. Para a professora, um dia sem carro em Belém, por exemplo, pode acabar revelando que, na verdade, a população não tem outras alternativas de transporte com qualidade e segurança semelhante.

Belém não é uma cidade planejada pensando em nenhum tipo de mobilidade, principalmente quando chove. Primeiro, porque que é uma cidade cujo o centro não é bem no centro, é uma beira, isso dá uma configuração de funil para o trânsito, congestionando muito as vias. Além disso, há um predomínio do automóvel quando, na verdade, a cidade tem potencial para comportar muitos outros meios”, avalia.

Segundo a pesquisadora, Belém é uma cidade plana, com vários núcleos que poderiam ser melhor interligados se houvesse um planejamento de mobilidade, especialmente que contemplasse a diversificação do transporte, inclusive a pé. Entretanto, diversos fatores influenciam para que esse e outros meios – mais saudáveis e sustentáveis que o automóvel – acabem não sendo tão utilizados, entre eles: desníveis de calçadas, falta e ocupação irregular de calçadas e ciclofaixas, entre outros:

“Há também um problema maior de segurança pública que afeta a decisão de optar pelo carro. Tem gente que prefere ir a algum lugar de carro, em vez de a pé, porque se sente mais insegura. Há lugares em que a falta de iluminação pública também colabora para essa insegurança, então são vários fatores”.

Por esses motivos, a especialista avalia que a cidade não oferece alternativas concretas para que a diminuição do uso de carro e o uso seguro e confortável de outros meios de locomoção sejam possíveis:

“Não adianta um dia mundial sem carro em um lugar em que você não tem oportunidade de usar outro modo de transporte. Eu sei que o automóvel tem um efeito perverso dentro da cidade, por que emite dióxido de carbono, ocupa mais espaço etc. Mas o que adianta eu saber isso se eu estou numa cidade que não me oportuniza outra alternativa?”, questiona.

image No Dia Estadual do Ciclista, ciclistas dizem que preferem pedalar, mesmo com medo do trânsito, devido ao alto custo do transporte público. (Thiago Gomes / O Liberal)

Uso de bicicletas aumenta, mas desafios permanecem

O membro do ParáCiclo, coletivo que promove o ciclismo como alternativa de transporte para o meio urbano, Michel Ribeiro, reconhece que, apesar de haver uma malha cicloviária maior do que em outras cidades do país, o sistema de mobilidade em Belém ainda privilegia os automóveis e não possui uma estrutura que integre vários meios de locomoção, prejudicando a mobilidade da população:

“Quando a cidade não investe na diversificação dos meios de transporte, o sistema se torna ineficiente para todo mundo. No caso de Belém, você obriga os habitantes a disputarem espaço em vez de compartilhá-lo. A gente sabe, por exemplo, que Belém é uma cidade de muitos rios e canais, mas não há uma política pública de integração com esse potencial. E também há muitas ciclofaixas, mas elas não têm uma manutenção constante e falta mais interligação entre elas. Em muitos pontos, o ciclista acaba caindo no meio do trânsito”, comenta.

Apesar dos problemas, Michel avalia que o número de adeptos às bicicletas tem crescido nos últimos anos, especialmente desde a pandemia de covid-19, período em que o pedal se popularizou por viabilizar o distanciamento social que o período exigia.

“A gente fez a última pesquisa de contagem de ciclista em 2019. Naquele período, em Belém, já tínhamos 3 mil viagens por hora no fim da tarde, na cidade. A gente sabe que esse número aumentou, apesar de ainda não ter concluído a pesquisa mais recente. A gente tem indicadores do Brasil que apontam crescimento de até 20% no uso de bicicleta da pandemia para cá”, informa.

A preferência pela bicicleta também acaba sendo um sintoma da ineficiência e carestia do transporte público na cidade. A afirmação concorda com o pensamento dos especialistas e é testemunhada por quem usa a bicicleta como principal meio de locomoção no dia a dia, apesar da falta de estrutura adequada.

O cozinheiro Andresci Barroso, por exemplo, de 36 anos, pedala diariamente de casa para o trabalho e prefere pedalar se sentindo inseguro no trânsito a pagar o valor da tarifa do transporte público: “Eu gosto de andar de bicicleta, mas falta mais ciclovia. Dali da Tavares Bastos pra cá, não tem mais. Mas eu continuo usando, todo o dia, porque a passagem de ônibus está muito cara”.

A ciclista Mayara Santos, de 29 anos, descreve que a sensação de pedalar entre Belém e Ananindeua diariamente é ‘horrível’, mas acaba sendo a única forma de transporte possível para ela: “É mais em conta do que pagar ônibus, carro de aplicativo. É o único meio de transporte mais barato”.

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