🏳️🌈 Dia do Orgulho: pastora paraense trans funda igreja inclusiva em São Paulo
Nascida em Belém, Jacqueline Chanel, de 58 anos, é sinônimo do amor de Deus diante de um espaço inclusivo e acolhedor. Objetivo é fundar um núcleo da igreja em Belém
Sendo obrigada a se afastar da sua própria fé por ser transexual, a paraense Jacqueline Chanel, de 58 anos, se tornou a primeira pastora trans no Brasil a liderar uma igreja evangélica, oferecendo um espaço inclusivo e acolhedor, como resposta ao preconceito e a discriminação disseminadas em algumas igrejas e comunidades cristãs. Na data em que se celebra o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, nesta quarta-feira (28), o "abraço de fé” da líder religiosa é inspiração para todas as pessoas trans e travestis que enfrentam a falta de aceitação nesses espaços. Nascida em Belém, hoje Jacqueline é sinônimo do amor de Deus para os fiéis da igreja dela, em São Paulo.
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História
Jacqueline foi exposta à realidade dolorosa do preconceito já na infância, aos 13 anos, quando foi expulsa de casa pela própria mãe e foi entregue a um pastor de uma igreja evangélica. Morando num quartinho nos fundos da igreja ao longo da adolescência, a missão de evangelizar sempre esteve presente na vida dela, apesar dos desafios. “Tive uma infância normal até meus sete, oito anos, que daí eu comecei a ter uma noção assim de quem eu era, mas sem ter muito discernimento. As pessoas me apontavam muito como ‘mariquinha’, que era o termo usado na época para definir crianças femininas”, contou Jacqueline.
“Quando eu me encontrei comigo mesma, eu estava com 20 anos, época em que o meu pastor foi assassinado. Tive esse encontro comigo mesma, um encontro de aceitação também, porque até então eu não sabia quem eu era. Fui criando noção de quem eu era, do meu papel, do que eu representava e de que eu tinha que brigar com a minha fé naquele momento. Eu tive que romper com a minha fé para a Jacqueline poder entrar na minha vida, para eu poder ser a mulher que eu sou hoje”, relatou.
Acolhimento
A ferida profunda da rejeição e do preconceito enfrentado por Jacqueline moldou a sua jornada e despertou uma força interior que mais tarde a motivaria a liderar a primeira igreja evangélica conduzida por uma mulher trans no Brasil. A mudança de Jacqueline para São Paulo veio após a perda do pastor. E, aos 45 anos, ao ter o primeiro contato com uma igreja inclusiva, ela viu a oportunidade de se reencontrar com a fé. Anos mais tarde, se tornou pastora e, em 2021, criou a Igreja Trans ICM (Igreja da Comunidade Metropolitana) Séforas, localizada no centro de São Paulo.
Hoje, Jacqueline recebe, em média, 50 pessoas nos cultos realizados às segundas-feiras. Além das mulheres trans, a pastora também recebe pessoas em situação de rua, que sentem na igreja o acolhimento necessário.
“Todos são bem-vindos, acolhidos e aceitos na celebração, porque a gente quer compartilhar não somente a fé, mas, sobretudo, o amor que Deus tem pelas nossas almas, independente dos nossos corpos cheios de silicone, de cirurgia plástica, cheios de hormônio. Independente de tudo isso, Deus nos ama”, afirmou.
“Esse acolhimento é de extrema importância para mim, para a nossa comunidade, porque só nossos corpos sabem o que sofremos. A fé, sobretudo, é muito importante, principalmente para nós travestis e transexuais, porque normalmente nós somos colocadas fora de casa. É a mesma coisa que os religiosos fazem. Eles nos dão situações, caminhos e até versículos e dizem que ‘em nome de Deus você está excluído da fé, você está excluído do amor de Deus’. O que não o que não retrata a verdade absoluta”, relatou, emocionada.
Mais do que nunca, o desejo de Jacqueline é continuar levando a mensagem de Deus onde quer que seja. E ela adianta que pretende fundar um núcleo da igreja dela em Belém. “Eu olho para trás e vejo Belém, que até hoje não tem uma igreja inclusiva. Nós precisamos tomar essa cidade, precisamos levar a possibilidade desse Deus inclusivo a todas as pessoas que sofrem sendo crianças e adolescentes querendo ser filho de Deus, querendo partilhar desse manjar. E quero levar esse Jesus que é maravilhoso”, finalizou Jacqueline.
(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de João Thiago Dias, coordenador do Núcleo de Atualidades)
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