Desprezo de motoristas é o maior desafio na Grande Belém, dizem ciclistas
Cicloativista defende necessidade de segurança a quem pedala entre os extremos da Região Metropolitana e sensibilização de motoristas no cuidado com ciclistas
Belém é uma cidade que tem alto trânsito de bicicletas, como aponta um estudo da iniciativa Multiplicidade e Mobilidade Urbana. São 1.134.704 bicicletas circulando pela cidade. Uma parcela considerável vem de outros municípios da Região Metropolitana. Porém, a estrutura cicloviária não acompanha esse fluxo desses atores do trânsito, que costumam ser invisibilizados em políticas públicas voltadas aos deslocamentos de pessoas. Diariamente, algum ciclista toma um grande susto, fica ferido ou morre nas ruas. Se é inseguro em vias internas dos centros urbanos, nas estradas é muito mais perigoso.
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Na madrugada de sábado (17), Cláudia Loureiro, de 37 anos, foi atropelada e morta por um motorista, ainda não identificado. Ela, junto a outros ciclistas, faria uma pedalada de Belém a Salinópolis. O passeio esportivo foi interrompido por um racha na rodovia BR-316, em Castanhal, no quilômetro 55.
O condutor do veículo fugiu sem prestar socorro. Situações como essa acontecem com frequência, em igual ou menor gravidade. Neste domingo (18), amigos e colegas de ciclismo fizeram um ato pedindo justiça e também mais segurança a quem está de bicicleta. Foi no mesmo local onde a mulher morreu.
No sábado (17), Cláudia Loureiro, de 37 anos, foi atropelada e morta por um motorista, ainda não identificado. Ela, junto a outros ciclistas, faria uma pedalada de Belém a Salinópolis. O passeio esportivo foi interrompido por um racha na rodovia BR-316, em Castanhal, no quilômetro 55. O condutor do veículo fugiu sem prestar socorro
Desrespeito: desafio maior até que ciclovias, diz ativista
A cicloativista Daniele Queiroz — membro dos coletivos ParáCiclo, Bike Anjo e Pedala, Mana — diz que o desrespeito à vida de ciclistas é o maior desafio de quem pedala, diariamente, na Grande Belém, seja por esporte, por hobby ou por necessidade de deslocamento.
Devido à falta de infraestrutura cicloviária adequada (ciclovias, ciclofaixas, pistas segregadas ou espaços compartilhados), os motoristas de carros, motos, ônibus e caminhões deveriam proteger pedestres e ciclistas. Na prática, o que ocorre é que condutores automóveis acreditam ter mais diretos sobre a via. Isso se vê no caso da morte de Cláudia.
"Cada indivíduo tem uma formação, mas esse desrespeito é reflexo disso. Quando uma pessoa se diz apta a dirigir e ter uma carteira de habilitação, ela automaticamente assume não só direitos, mas também deveres. Um deles é que o maior protege o menor. Esse comportamento é regulamentado pelo Código de Trânsito Brasileiro. O desrespeito à vida dos ciclistas começa quando o condutor não mantém uma distância de 1,5 metro ao passar ou ultrapassar um ciclista. Quando não há espaços separados, o motorista precisa ter cuidado, já que o ciclista tem direito a ocupar o leito da pista de rolagem", ressalta Daniele.
"Cada um tem uma formação, e o desrespeito é reflexo disso. Quando alguém se diz apto a dirigir e ter uma carteira de habilitação, automaticamente assume não só direitos, mas também deveres. Um deles é que o maior protege os menores, e entre eles, a vida dos ciclistas", podera a cicloativista Daniele Queiroz
Formação para o trânsito é um dos nós
Uma forma de reverter isso e ajudar a diminuir esse abismo entre a formação técnica e cidadã dos condutores e a prática no trânsito do dia a dia, é a sensibilização. É o que defende a cicloativista. Campanhas constantes de valorização e respeito a quem está de bicicleta e que colabora para um trânsito mais fluido e menos poluente. Tudo isso aliado a políticas públicas, construção de espaços seguros, de conexões entre as cidades da Grande Belém e pelo Pará.
"Se houvesse estrutura, talvez o número de bicicletas circulando fosse muito maior. E se houvesse respeito, nossas vias seriam muito mais seguras para todos. O ciclista é parte das cidades. Em cima de bicicletas vão sonhos, vidas, trabalhadores, esperanças, famílias, estudantes....precisamos infraestrutura e o poder público precisa tomar providências nesse sentido", ressalta Daniele.
"Se nossa estrutura, nos centros urbanos, não dá nenhuma segurança, imaginem estradas. Pensando no Norte: se a Transamazônica não dá conta de ligar pessoas aos seus destinos e dar trafegabilidade ao escoamento da produção, ter uma ciclovia parece ainda mais distante", pondera a cicloativista.
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