Comércio, transporte e coleta de lixo em Outeiro são afetados com interdição de ponte
Moradores da Ilha de Outeiro reclamam sobre falta de segurança durante as viagens
A interdição da Ponte do Outeiro, provocada pela queda de um dos seus pilares centrais, na última segunda-feira (17), provocou transtornos em cadeia aos cerca de 80 mil habitantes da Ilha de Caratateua. O primeiro deles afetou a mobilidade da população, ou seja, a entrada e saída do distrito administrativa de Belém, no entanto, outros setores também foram abalados, como o comércio local, que já sofre com a falta de abastecimento de insumos; o acúmulo de lixo e a falta da sua coleta; além da redução de transporte transporte público dentro da região.
Na tentativa de facilitar o deslocamento de quem mora ou trabalha no distrito de Belém, para além da ferry boat, o Governo do Pará disponibilizou lanchas rápidas que passaram a transitar entre a rampa de acesso de Outeiro ao trapiche de Icoaraci, em um trajeto com duração de cinco minutos. Também foram disponibilizados navios que trafegam entre o porto da Companhia das Docas do Pará (CDP) na ilha, e o Terminal Hidroviário de Belém, em viagens de cerca de 45 minutos. No entanto, alguns moradores dizem que as novas opções de locomoção ainda apresentam falhas.
Daniela Silva, de 28 anos, residente no bairro da Água Boa, precisou recorrer à ferry boat na última sexta-feira (21), pois as lanchas foram suspensas naquele dia, após uma balsa atingir um dos pilares do trapiche da Brasília, na ilha do Outeiro, no dia anterior (20), deixando a estrutura de concreto danificada. A jovem conta que existe um grande risco de acidente nas balsas, que apesar de possuírem camarotes na parte superior, concentra tripulantes também na parte inferior, onde ficam veículos como carro, motos e caminhões.
“Na hora de sair é aquela confusão porque não tem preferência, há riscos de acidentes como atropelamento ou até mesmo alguém cair da balsa porque vem superlotada. As desorganizações ocorrem na fila. Quem está mais próximo dela até está em um local mais organizado pelos órgãos de segurança, mas do meio para o final não. Então hoje pela manhã houveram muitas pessoas furando fila, fora que não tinha ninguém para orientar e corrigir isso. Várias dessas pessoas lá estavam sem máscara”, comentou Daniela.
Durante os últimos cinco dias de operação das balsas, os coletes salva-vidas disponíveis na ferry boat não foram utilizados pelos tripulantes, revelando a falta de orientação e fiscalização dos agentes responsáveis pela segurança das que embarcam. Essa embarcação, disponibilizada pela Secretaria de Estado de Transporte (Setran), tem capacidade para transportar 480 passageiros e 65 veículos por viagem.
Orla e praias vivem "lockdown" forçado e prejuízos financeiros
“Está pior que o lockdown”, disparou uma funcionária de um restaurante, na praia Grande, na Orla de Outeiro, ao ver a equipe de reportagem do jornal O Liberal se aproximando do local. Francisco Ney, gerente do estabelecimento, contou que o negócio estava fechado desde a última segunda-feira (17), quando ocorreu o incidente que resultou no desabamento de um dos pilares da ponte.
Para evitar ainda mais prejuízo, os funcionários do restaurante precisaram ser dispensados. Na sexta-feira (21), o gerente decidiu abrir o estabelecimento na esperança de receber clientes, faturar com a venda de bebidas e alimentos e arcar com suas despesas. No entanto, poucas pessoas compareceram ao estabelecimento. Entre elas, uma família que ficou ilhada no local.
“O movimento caiu muito depois desse problema com a ponte, por isso decidimos abrir hoje e não tem quase ninguém, exceto uma família de Marabá que ficou presa aqui. É muito estranho ver Outeiro dessa forma em plena sexta-feira quando tudo começa a ficar mais movimentado”, comentou o gerente. A Família Passos é natural da Bahia, entretanto, residem no Pará há mais de 20 anos.
Léo Passos, junto de sua esposa e seu filho, foram para o distrito com objetivo de comprar um carro no local. Eles chegaram a Outeiro no domingo (16), um dia antes do incidente na ponte que dá acesso à Ilha. “De certa forma acabamos tendo esse azar de ficarmos presos aqui, ainda bem que temos parentes que moram na região e estamos dormindo na casa deles. Precisamos fechar o negócio à compra do automóvel para vermos como vamos sair daqui e retornar para Marabá”
Frota de ônibus é reduzida e aumenta transtornos e mobilidade
Coletivos e vans passaram a encerrar suas atividades dentro da Ilha após as 21h. Ao desembarcarem nos trapiches de Outeiro, os moradores da região que não possuem veículos próprios precisam recorrer aos mototaxistas ou aos carros por aplicativo que circulam dentro do distrito. Devido à escassez de transporte, as pessoas que chegam por volta das 1h não conseguem mais ônibus para retornarem às suas residências.
Os moradores dos bairros Fama e Fideles, localizados em áreas distantes do centro, foram os mais prejudicados. Daniela Silva, que estuda em um curso técnico de enfermagem, no bairro da Marambaia, conta que a concentração de passageiros à espera de transporte era enorme nos pontos de ônibus, na última sexta-feira. Ela diz que a maior parte dos coletivos parou de circular em Outeiro.
“Os motoristas já chegam estressados para tecermos os passageiros, imagino que também não esteja sendo fácil para eles. O povo fala que só tem dois ônibus da empresa Belém Rio operando, da linha Nova Marambaia deve ter um pouco mais. A maioria dos ônibus estão parados em Icoaraci por causa desse problema de deslocamento”, afirmou a moradora.
Saúde e segurança pública se tornam desafios para o poder público
A Unidade Básica de Saúde (UBS) do Outeiro ficou sobrecarregada nesta semana. Uma profissional que atua no local, mas não quis ser o nome identificado, revelou que apenas um médico estava atendendo a população que precisava passar pela urgência. Por conta do caos instalado no local, quem estava com consulta marcada precisou ter seu atendimento reagendado.
“Teve gente que se negou a voltar outro dia, então a carga ficou maior para o único médico presente na unidade. Foi então que ele começou a revezar, atendendo um paciente de urgência e outro de agendamento marcado”, disse a profissional de saúde.
No pátio da UBS, pessoas com suspeita de infecção por covid-19 passaram a dividir espaço com quem procurava por outro tipo de atendimento. Com a grande procura por testagem para a doença na Unidade de Saúde do Outeiro, o diretor do setor destinou uma sala para atender esse público. Entretanto, o posto permaneceu em tumulto geral.
Na manhã da última sexta-feira (21), a família da senhora Maria Nascimento, de 82 anos, procurou a UBS do Outeiro para levar a idosa que havia sofrido um principio de AVC. Um atendente da Unidade de Saúde teria informado aos seus familiares para que procurassem por uma ambulância na Escola Bosque. Luis Oliveira, de 14 anos, neto da anciã, contou que os parentes tiveram que voltar ao posto, pois o veículo não se encontrava no colégio.
“Eles falaram pra gente encontrar uma ambulância na Escola Bosque para que ela fosse levada à UPA de Icoaraci, como não tinha ambulância lá, ficamos desesperados e voltamos aqui. Depois de insistirmos muito, eles falaram que ela vai ser socorrida por algum profissional daqui”, explicou o jovem. Não havia médico neste dia, conforme informaram pacientes que aguardavam para serem atendidos.
A comerciante Nilza Ferreira, de 39 anos, afirma que a área comercial de Outeiro está à mercê da criminalidade. A empresária teve seu estabelecimento arrombado e mercadorias roubadas na madrugada da última quinta-feira (20). Ela responsabiliza a falta de segurança na área pelo crime e diz que a maioria do policiamento está concentrado somente no porto da Ilha.
“Os policiais militares estão quase todos concentrados no porto, então poucas viaturas passaram a ser vistas circulando por aqui. A partir das 21h, por exemplo, é impossível vê-las passando próximo à entrada principal. Imaginávamos que fosse montado um posto policial aqui no centro”, comentou.
Comércio tem desabastecimento de alimentos e produtos de higiene
Um dos primeiros impactos sentidos por Daniela Silva, após o incidente com a ponte do outeiro, foi a diminuição no estoque e aumento de preços de alguns alimentos, tais como carne, arroz, açúcar e legumes. Edileuza França, de 50 anos, trabalha em um açougue de grande porte de Outeiro. Ela explicou que as maiores empresas contam com maiores estoques, entretanto, a reposição de carne vem sendo abalada por conta dos atrasos. “Os fornecedores passaram a atrasar cerca de um ou dois dias para fazer as entregas”, observou.
Fornecedores de alimentos frigorificos do comércio de Nilza Ferreira informaram à empresária que as entregas estão temporariamente suspensas até que a situação no acesso a Outeiro esteja viável. O mesmo ocorre com os materiais de limpeza, estes últimos começaram a faltar nas prateleiras, afirma a empresária. “Muitos caminhões que vinham pra cá estão retornando devido ao transtorno para entrarem na balsa. Esses veículos passam horas para conseguir entrar, então eles acabam desistindo. Outras empresas já avisaram que não vão fazer entregas por aqui até que as coisas estejam resolvidas”, diz a empresária.
O lixo se acumula nas ruas, criando um outro problema de saúde para os moradores (Igor Mota / O Liberal)
Acúmulo de lixo se agrava a cada dia
Ao transitar por Outeiro é possível encontrar facilmente várias pilhas de lixos espalhadas em pontos distintos do distrito. Alguns deles estão concentrados em áreas de mata e até mesmo nas esquinas de lugares que possuem grande fluxo de pessoas. Conforme informaram alguns moradores, apenas um dos dois caminhões que realizam a coleta de resíduos está circulando pelos bairros.
O mau cheiro provocado pelo entulho de lixo começa incomodar os moradores da ilha, sobretudo aqueles que trabalham com comercialização de alimentos. A concentração de lixo atrai os animais peçonhentos, como consequência ratos e aranhas podem ser atraídos às residências. A demora para a retirada dos resíduos faz com que alguns habitantes da Ilha recorram às queimadas, atitude que prejudica diretamente o meio ambiente.
O que diz o poder público
Algumas das instituições mencionadas na reportagem se manifestaram por meio de nota. Leia na íntegra!
SEGUP
“A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informa que a fiscalização das condições de segurança das embarcações compete à Marinha do Brasil, por meio da Capitania dos Portos. A Segup explica que a fiscalização do uso de máscaras está sendo feita de forma colegiada pelos órgãos de segurança pública do Estado e Município. Além disso, o Estado também disponibiliza cerca de 12 mil máscaras gratuitamente no local para a população como medida de prevenção à Covid-19. Para evitar aglomeração e trazer mais conforto, o Governo reforçou o transporte de moradores da ilha do Outeiro por meio fluvial, incluindo a operação de dois navios, sem custos para a população.”
MARINHA
“A Marinha do Brasil informa que equipes de Inspetores Navais da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR) estão realizando, diariamente, fiscalizações nos locais de travessia entre Icoaraci e Outeiro, por ocasião da interdição do tráfego de embarcações fluviais sob a Ponte “Governador Enéias Pinheiro”, após o rompimento de um de seus pilares de sustentação, no dia 17 de Janeiro, a fim de garantir o cumprimento das normas de segurança da navegação.
Reforçamos ainda que a Marinha dispõe do Disque Emergências Marítimas e Fluviais: 185, por meio do qual a sociedade pode informar qualquer situação que possa afetar a segurança da navegação, a salvaguarda da vida humana ou que represente risco de poluição ao meio hídrico.”
As demais instituições foram procuradas e até o fechamento desta reportagem não obtivemos retorno.
GRUPO DE TRABALHO (GT) DA PREFEITURA
A Prefeitura de Belém estabeleceu, na última quinta-feira (21), um Grupo de Trabalho (GT) envolvendo diversos órgãos municipais que irão atuar continuamente para diminuir os danos causados à população em função da colisão da balsa que interditou a ponte que dá acesso ao distrito de Outeiro.
Defesa - A Defesa Civil de Belém, juntamente com a Capitania dos Portos, suspendeu preventivamente o embarque e desembarque de passageiros no trapiche de Outeiro em decorrência de colapso em seus pilares. A equipe da Defesa Civil monitorou toda a situação e acompanhou a vistoria no local feita pela Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), Corpo de Bombeiros e Secretaria de Estado de Transportes (Setran). O órgão permanece realizando o ordenamento dos passageiros durante o embarque e desembarque da balsa.
Pontos - A Guarda Municipal Belém montou seis pontos de apoio nos distritos de Icoaraci e Outeiro. São mais de 40 agentes do órgão envolvidos para dar apoio nos embarques e garantir a segurança dos moradores do distrito.
Transporte - Na manhã desta quinta-feira, 20, entraram em operação um catamarã e dois navios para garantir o melhor atendimento aos moradores de Outeiro para Icoaraci e Belém. A medida dará mais agilidade e segurança na travessia, iniciada na segunda-feira, 17, feita por uma balsa com rebocador e um ferry-boat, logo após o desabamento de um dos pilares da ponte do Outeiro.
A Semob realizou uma vistoria técnica, juntamente com representantes da Defesa Civil Municipal e Secretaria de Urbanismo (Seurb), no trapiche de Outeiro e no Porto da CDP, para verificar as alternativas possíveis, na última quarta-feira (19).
No dia 20, ocorreu a primeira viagem do navio Bom Jesus 12, com capacidade para 1.000 passageiros. A embarcação saiu às 6h30, do Porto da CDP, em Outeiro, com destino ao Terminal Hidroviário de Belém, localizado na rua Marechal Hermes. O navio saiu com 143 passageiros, fazendo o percurso de 45 minutos.
Outro navio chegou a Outeiro - Por volta de 10 horas da manhã desta quinta-feira, 20, vindo de Breves, também, para dar o apoio, chegou o Bom Jesus de Breves VI, com capacidade para 650 passageiros, que deve ter iniciado viagem ainda no início da tarde.
Os ônibus estão entrando no Porto da CDP e desembarcando os passageiros no local de embarque dos navios, sob a orientação da Semob.
O catamarã, com capacidade para 150 passageiros, sai do trapiche do Outeiro com destino ao Trapiche de Icoaraci. A viagem dura cerca de 5 minutos e se estende por 24 horas, de forma ininterrupta.
Os horários estão sendo ajustados. Porém, no momento vigoram os seguintes horários:
-Outeiro para Belém 6h30 e 7h
-Belém para Outeiro 12h e 13h
-Outeiro para Belém 13h30 e 14h30
-Belém para Outeiro 17h30 e 19h30.
Desde segunda-feira (17), a Semob mantém equipes de agentes de transporte e de trânsito no local, orientando, organizando e fiscalizando a travessia em operação.
Do lado de Outeiro, os agentes de transporte orientam os passageiros no embarque e desembarque dos ônibus para as travessias feitas no porto da CDP, no trapiche de Outeiro e na rampa da travessia da balsa e ainda fiscalizam as saídas dos coletivos.
Seurb - A Seurb iniciou o trabalho de fiscalização e orientação dos trabalhadores informais e passageiros que estão embarcando e desembarcando no trapiche de Icoaraci, Outeiro e na Rua Dois de Dezembro - 7ª rua em Icoaraci.
O objetivo da ação é realizar o ordenamento dos ambulantes, para facilitar a circulação dos passageiros pela calçada, fiscalizar e orientar para o cumprimento dos protocolos sanitários específicos.
Os agentes criaram espaços para que os trabalhadores informais realizem suas vendas sem atrapalhar o embarque e desembarque de pedestres nesses locais de grande fluxo no momento.
Sobre a iluminação - O Departamento de Iluminação Pública da Seurb também atua na manutenção e reforço da iluminação na área de travessia fluvial entre os distritos de Icoaraci e Outeiro.
Para garantir a segurança na trafegabilidade das pessoas foi realizada na última segunda-feira (17), a instalação de três projetores na rua Dois de Dezembro - 7ª Rua, onde está sendo feita a travessia Icoaraci-Outeiro, além de outros dez projetores ao longo da BL-10, no distrito de Outeiro,
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA