Cobertura vegetal em Belém pode acabar em 60 anos, estima pesquisador da UFPA

Cálculo é relativo, mas aponta um futuro indesejado para o bem-estar social e ambiental da cidade. Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) diz que é um grande desafio combater o desmatamento na cidade

Camila Guimarães
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De acordo com dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Belém terminou o ano de 2022 com cerca de 146 mil km² de espaço vegetado, o que corresponde a 60% de cobertura vegetal em toda a cidade, incluindo parques e distritos. No entanto, há 38 anos, a maior parte da Região Metropolitana possuía cobertura em torno de 80% a 100%, conforme dados do United States Geological Survey (USGS) apresentados em uma pesquisa de Mestrado da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Segundo o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, Juliano Ximenes, doutor em planejamento urbano e regional, a pesquisa, publicada em 2020, que analisou a área de expansão da cidade em relação à cobertura vegetal entre 1984 e 2018, aponta que “a Região Metropolitana perde, recentemente, em média 1/6 de sua vegetação a cada dez anos”. Um ritmo de declínio que, se permanecesse assim durante os anos, segundo a metodologia usada no trabalho, poderia levar ao fim de toda a vegetação da cidade:

“Levaria uns 500 anos para acabar com tudo se a gente desmatasse 2,5 mil hectares a cada dez anos, mas, se a gente considerar em termos relativos, a gente conseguiria desmatar tudo em apenas 60 anos, o que é um horror”, alerta.

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image As mangueiras do centro da cidade são uma porção importante da cobertura vegetal de Belém (Cláudio Pinheiro / O Liberal / Arquivo)

Problemas ambientais e sociais são consequências

O professor comenta, ainda, que há áreas urbanizadas em Belém não chegam a ter nem 10% de vegetação, quando o ideal seria que houvesse 25% de área vegetada no meio urbano para cada bacia hidrográfica, uma proporção que, segundo ele, não costuma ser seguida na cidade: “Mesmo os planos diretores dos municípios da Região Metropolitana de Belém, quando exigem, determinam muito menos do que isso”.

Com esse desequilíbrio entre o urbano e o verde, Juliano afirma que não é de se espantar diversos problemas ambientais, de saneamento e até de saúde pública: “Esta é uma das razões dos grandes alagamentos, do calor excessivo e dos ventos ainda mais fracos, além de potencializar doenças de veiculação hídrica, pelo contato com água contaminada, doenças respiratórias e de pele”, enfatiza.

image Em algumas áreas de Belém, o que se tem das paisagens naturais originais são os rios e canais (Tarso Sarraf / O Liberal / Arquivo)

Declínio da vegetação afeta tanto o centro como as periferias

Apesar de apontar que a área de expansão de Belém – as regiões fora do centro da cidade –, foi uma das que mais perdeu massa vegetada nos últimos anos, o professor garante que o problema não é maior em periferias do que na considerada ‘área nobre’ da capital.

“A perda de vegetação é maior nas áreas periféricas em termos de quantidade de área desmatada, mas as áreas centrais desmatam mais em termos de percentual. Os prédios de classe média impermeabilizam muito o solo. Os condomínios fechados também. E se não tivermos uma política habitacional responsável, nós vamos conviver com ainda mais ocupações precárias. Lembrando que, segundo o IBGE, nós somos a segunda metrópole mais favelizada do Brasil (dados de 2019), atrás de Manaus”, alerta.

O secretário municipal de meio ambiente, Sérgio Brazão e Silva, também destaca os chamados ‘aglomerados subnormais’ – termo técnico para as construções habitacionais despadronizadas, comuns nas chamadas periferias – como sendo um fator dificultante para o processo de arborização da cidade.

“Belém fez isso no princípio, mas o crescimento desordenado, por volta da década de 1960, começou uma série de construções muito adensadas - o que resultou em um problema difícil para que a gente resolva de uma forma efetiva. Belém tem em torno de 52,4% de aglomerado subnormal, ou seja, favela. Esses locais, que muitas vezes não têm sequer calçada, são áreas de difícil arborização. Além disso, o processo de urbanização como um todo repete práticas que dificultam a permanência da cobertura vegetal, como a substituição dos revestimentos naturais por materiais que captam calor, como asfalto, concreto e vidro”, completa.

Soluções existem, mas é preciso combater derrubadas irregulares

No entanto, Sérgio garante que existem alternativas para tentar solucionar o problema, mesmo diante dos entraves. Ele destaca, por exemplo, que Belém possui um plano, já em andamento, de arborização de áreas públicas e privadas próximas ou mesmo dentro dos chamados aglomerados subnormais.

“O ideal é ter mais árvores distribuídas pela cidade. Nos aglomerados, vamos fazer um projeto de arborização de quintais, colégios, postos de saúde... Também ao longo dos canais, como foi feito no canal São Joaquim, que é praticamente um rio no meio da cidade e já foi todo arborizado. Inclusive, no aniversário de Belém, 415 mudas foram plantadas”, comenta o secretário.

Sérgio diz, ainda, que no mês passado, a Secretaria bateu o recorde de plantar duas mil árvores na cidade. A meta é plantar 24 mil a cada ano. Porém, para que os esforços sejam efetivos, o secretário destaca a importância de combater o desmatamento irregular feito tanto por empresas quanto por moradores.

“Eu já reforcei o departamento de controle e fiscalização, porque é impressionante a agressão à cidade. Muita gente já sabe que a gente vai negar autorização para a derrubada de uma árvore e, então, faz isso de forma clandestina. Tem gente que envenena a planta até que a árvore caia”, comenta. “A Semma faz fiscalização nas ruas e também está disponível para receber denúncia de derrubada irregular. Basta entrar em contato pelos canais disponíveis no site e nas redes sociais”, informa.

Contatos úteis da Semma:

Ouvidoria Geral - 162

Disk Limpeza - 156

Guarda - 153/190

Iluminação Pública - 0800-400-0300

Código De Posturas - 3039-3707

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