Círio 2023: laudo aponta que corda produzida pela 1ª vez no Pará é mais resistente
De acordo com o laudo apresentado nesta segunda (12), pelo Laboratório de Engenharia Civil da UFPA, a corda feita de Malva e Juta tem superioridade de 10% em relação à resistência dos anos anteriores. A previsão é que a corda de 2023 seja produzida até setembro
A entrega do laudo dos testes realizados com a corda que será utilizada nas procissões do Círio deste ano, foi feita nesta segunda-feira (12), no Laboratório de Engenharia Civil (LEC), localizado no Centro Tecnológico da Universidade Federal do Pará (UFPA), campus Guamá, em Belém. O documento aprovado e encaminhado à Diretoria da Festa de Nazaré (DFN) e à Castanhal Companhia Têxtil (CTC), empresa responsável pela produção da corda de 2023, constatou uma superioridade de 10% na resistência da Malva e Juta - material utilizado na corda deste ano - em comparação com a de Sisal, que era utilizada nas procissões dos anos anteriores. Os testes foram feitos com um protótipo de 50m produzido pela CTC e testado no laboratório da UFPA. A previsão de Antônio Salame, coordenador e diretor do Círio 2023, é de que a nova corda seja produzida até setembro.
Pela primeira vez a corda do Círio de Nazaré, um dos principais ícones da festividade, usada no Círio e na Trasladação, será produzida totalmente no Pará, pela empresa Castanhal Companhia Têxtil (CTC). A corda é uma doação da CTC à Diretoria da Festa de Nazaré (DFN), em parceria com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme).
"Malva e Juta são mais macias ao tato", diz engenheira Civil da UFPA
Caroline Dantas, engenheira civil da UFPA, mestre em estruturas e construção civil, explica como consistiu os testes até a elaboração do laudo, que durou cerca de um mês para ficar pronto. “Quando a Diretoria do Círio (DFN) chamou a gente, eles tinham a intenção de fazer a substituição entre a corda de Sisal e a corda de Juta. O procedimento que fizemos foi pegar uma amostra de cada material e tiramos um pedaço dessa amostra para incluir nossa prensa de ensaios (equipamento utilizado para cortar, dobrar e modelar materiais). Fizemos uma adaptação para fixar os elos na prensa e depois colocamos uma braçadeira rosqueada para prender a amostra no equipamento.
Após isso, fizemos o ensaio de tração, que consiste no tracionamento da corda em um determinado tempo até ter o início de ruptura de alguns dos fios. Após a comparação dos resultados, percebemos que a corda de Malva, produzida no Estado, teve uma resistência de 10% em relação a corda de Sisal”, esclareceu.
Segundo ela, o que chamou atenção entre os materiais é que a Malva e Juta são mais macias equiparadas com a Sisal. Esse detalhe pode “ajudar os romeiros na hora de pegar a nova corda e terem mais conforto”, durante as procissões, conforme repassado por Caroline.
Após a entrega dos laudos, será iniciada a produção da corda utilizada nas procissões, que terá 800 metros de comprimento com partes de 400 metros, para cada romaria, tendo 50 milímetros de diâmetro. Ela já virá adaptada às estações de metal que auxiliam no traslado das berlindas durante as romarias.
Victor Ferreira, representante da CTC que fará a produção da nova corda, disse que a representação da empresa “representa o incentivo à toda família paraense e toda fé”. “Esse trabalho de confecção do fio (Malva e Juta) vem desde o pequeno produtor que a empresa (CTC) colabora com o alinhamento técnico e incentivo na produção de campo. Vamos aguardar a sinalização da equipe do Círio para criar as argolas e amarrações”, concluiu afirmando que a nova corda será utilizada em todas as procissões do Círio.
A primeira procissão da história do Círio de Nazaré aconteceu no dia 8 de setembro de 1793, uma data bem diferente do que os paraenses estão acostumados. Noventa e dois anos depois, a corda começou a fazer parte da manifestação religiosa da igreja católica reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) Unesco.
Após esses 230 anos, será a primeira vez que a corda será produzida no Pará. “É uma alegria muito grande. Vamos ter a corda que conduz Nossa Senhora de Nazaré na berlinda, produzida totalmente por mãos paraenses e em solo paraense, desde a produção da semente da Malva e Juta, a plantação e a colheita, além da fabricação dos fios na CTC”, afirmou o diretor e coordenador do Círio 2023, Antonio Salame.
Além do que a engenheira civil Caroline Dantas, sobre a propriedade da corda de Malva e Juta ser mais agradável ao toque e da produção em solo paraense, Salame acrescentou outras que o preço na produção neste ano será menor, já que será uma doação da CTC.
Como é feita a corda do Círio
A corda utilizada no Círio e na Trasladação é feita de sisal, uma fibra vegetal muito dura e resistente. Segundo a DFN, é uma opção resistente e agradável ao tato, e por conta disso, é ideal para utilização nas procissões.
Nesta nova proposta da CTC, a corda será produzida por uma composição de fibras de Malva e de Juta, todas elas plantadas e cultivadas na região Amazônica. Esta nova composição fica mais macia ao toque das mãos, pela presença da Malva, sem, no entanto, perder resistência, em razão dos fios de Juta.
Quanto ao seu processo de transformação em fios, são muitos os estágios de fabricação, desde a colheita, até a produção final. A CTC é uma empresa familiar fundada em 1966, em Castanhal, e possui 1.100 empregados.
Histórico
A corda passou a fazer parte do Círio em 1885, quando uma enchente da Baía do Guajará alagou a orla desde próximo ao Ver-o-Peso até as Mercês, no momento da procissão, fazendo com que a berlinda ficasse atolada e os cavalos não conseguissem puxá-la.
Os animais então foram desatrelados e um comerciante local emprestou uma corda para que os fiéis puxassem a berlinda. Desde então, foi incorporada às festividades e passou a ser o elo entre Nossa Senhora de Nazaré e os fiéis.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA