Carlos Terena, idealizador dos Jogos Indígenas, morre em Brasília (DF)

Terena foi vítima de complicações da covid-19  e deixa legado pela dignidade das etnias no mundo

Eduardo Rocha

Repercute no Brasil todo e em outros países o falecimento, sábado último (13), do líder indígena Carlos Terena, aos 66 anos de idade, idealizador dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Ele faleceu em decorrência de complicações da covid-19, em Brasília (DF). O velório ocorre a partir das 12 horas desta segunda-feira (14), em Brasília, seguido do sepultamento, às 14 horas.

Em Nota de Pesar, a etnia Terena divulgou que "hospitalizado desde o último dia 24/05, no Hospital das Clínicas da Ceilândia, Carlos Terena foi tratado da covid-19 mas as inúmeras comorbidades contribuíram para o agravamento do quadro". "O líder indígena foi transferido para o Hospital de Campanha do Autódromo, no dia 28/06, onde faleceu após uma parada cardiorespiratória às 22h38. 
Carlos Terena nasceu no distrito de Taunay, município de Aquidauana (MS), e ainda muito jovem foi para a capital em busca de novas oportunidades. Atento à pauta dos Direitos dos Povos Indígenas na mídia, foi ativista em demarcações de terras e acreditava num mundo melhor por meio da preservação da cultura, esportes e tradições indígenas. 
"O criador, idealizador e coordenador geral dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas cumpriu sua missão e partiu para o campo dos ancestrais. Carlos Terena deixa a esposa Terezinha Batista, as filhas Maíra Elluké e Melissa Mõngé e a neta Hanna Queiroz", é enfatizado na Nota redigida por Maíra Elluké.
À reportagem integrada de O Liberal/Jornal Amazônia, Maíra Elluké, informa que Carlos Terena faleceu às 22h38 do dia 12, por complicações da covid-19 (do tipo renal e ele sofreu parada cárdio-respiratória), após 20 dias de internação em Brasília. Carlos Terena mantinha laços fortes com etnias no Pará, já tendo, inclusive, feitos jogos em Marudá, Altamira e em outras cidades.
Jogos
"Meu pai nasceu para fazer isso (os Jogos). Ele realizou um grande sonho. Ele criou com a intenção de unir os povos e, principalmente, de haver o intercâmbio cultural no sentido de que cada etnia, cada pessoa, cada indígena que participasse desse evento saísse de lá transformado, com a sua autoestima elevada, porque quando meu pai era jovem, ele sofreu muito preconceito por ser indígena", afirma. "Então, ele queria reverter tudo isso, ele queria fazer um festival, um encontro de cultura e mostrar a diversidade dos povos, e muita gente não sabe sobre a diversidade dos povos, muita gente vive no Brasil e não conhece a história do povo. Nós temos hoje 260 povos que falam mais de 200 línguas, para se entender a diversidade, o tamanho das populações indígenas. Com a covid, com a pandemia, com essas questões políticas e econômicas do País, os nossos povos acabaram sendo dizimados, porque vacina não chegava, insumos, toda essa questão política e econômica afetou muito o acontecimento dos Jogos", 
Considerados como o maior evento desportivo-cultural indígena das Américas, os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas incentivam o respeito mútuo às vivências culturais e desportivas tradicionais e ocidentais. O evento serve de fonte de conhecimentos sobre a diversidade indígena, com seus rituais, indumentárias, cantos, cores e jogos ancestrais. 
A primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em 2015, contou com a participação de 23 etnias brasileiras e delegações de 22 países, reunindo cerca de 2.300 participantes. En 13 dias, a programação envolveu shows e passeios turísticos, prática esportiva, gastronomia e artesanato. Antes da idealização internacional, os “Jogos dos Povos Indígenas” chegaram a 12 edições, realizadas em diversas capitais do Brasil. Os Jogos nasceram em 1996, por meio de uma iniciativa indígena brasileira dos irmãos Carlos e Marcos Terena, representantes do Comitê Intertribal – Memória e Ciência Indígena (ITC), com o apoio do Ministério do Esporte do Brasil. A concepção contou com a participação ativa dos diversos líderes indígenas, da sociedade civil e de instâncias governamentais.
Para a realização dos Jogos, são organizados encontros permanentes sobre Questões Indígenas, mobilizando lideranças, anualmente, na ONU. Nos últimos tempos, os encontros ocorrem de forma vitual por conta da pandemia. A última vez dos Jogos se deu em Edmonton, no Canadá, em 2016. A comitiva indígena brasileira que atua na coordenação dos Jogos foi homenageada. Depois que os organizadores voltaram ao Brasil, Carlos Terena recebeu o reconhecimento da embaixada canadense pela criação dos Jogos e por proporcionar o evento dentro do território daquele país. Marcos Terena, articulador político do evento cultural, atua como braço direito de Carlos e ambos foram homenageados na ocasião, em 2019. 
Nos últimos anos, as lideranças enfrentam uma série de dificuldades para a realização dos Jogos. No entanto, nem mesmo a morte de Carlos Terena será empecilho para a continuidade do projeto. "O legado que o meu pai deixou é um legado muito precioso; ninguém faz isso no mundo, então, é algo da nossa família", exclama Maíra. Ela relata que foi elaborado um modelo de negócio dos Jogos para se apresentar a possíveis investidores que tenham a mesma mentalidade, compromisso com o desenvolvimento sócioambiental do País. É algo que o meu pai deixou para que a gente continuasse", destaca Maíra. "Sim, a gente vai realizar os Jogos, a gente vai manter essa chama acesa", conclui.

 

 

 

 

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