Cam girl: um novo jeito de vender entretenimento sexual e sobreviver
Prática tem se tornado cada vez mais comum, tanto no universo feminino quanto no masculino
É dentro de um estúdio fotográfico, montado às quatro paredes do próprio quarto, que a cam girl (modelo de webcam) “Mel Belém”, de 24 anos, produz e vende, através de videochamadas, entretenimento sexual na internet para ganhar dinheiro, há seis anos. O assunto é tabu, mas a prática dele tem se tornado cada vez mais comum tanto no universo feminino quanto no masculino, e tem ajudado muitas pessoas a se sustentar. E, segundo a Polícia Civil do Estado do Pará, esta prática não configura crime.
O público é atraído por meio das redes sociais pela propaganda de conteúdo diferenciado, com a promessa de que nem sempre será encontrado nos sites e plataformas pornô. “Eu tenho meu perfil pessoal e profissional, onde divulgo fotos e ganho clientes. Ultimamente, tenho procurado publicar mais conteúdo na minha rede pessoal, para que as pessoas percebam que não sou fake e se sintam seguras”, declara. Quanto às plataformas, a modelo diz que utiliza principalmente o Whatsapp e o Twitter, nas quais os conteúdos são menos censurados.
Para “Mel”, o serviço prestado por ela é “um trabalho como qualquer outro”. “Não vejo como uma prostituição. É algo cinematográfico: a gente cria um personagem, produz conteúdo, vende e é o nosso trabalho. A mulher é dona do seu corpo e faz o que quiser com ele. Não estamos fazendo mal a ninguém”, defende. “Eu faço meu horário, estou na segurança de casa, e esses são pontos bastante positivos”, acrescenta.
A modelo conta que a procura por seu trabalho é muito grande, principalmente, por parte de homens casados, um público “difícil de lidar” e com o qual tem que se ter “muito jogo de cintura”. “São homens que, por conta da pandemia, estão trabalhando em casa e não têm como sair, pois eles não têm desculpa para dar para suas esposas. Então, eles pagam pela videochamada e sentem prazer com isso. Também atendo meninas e casais”, revela.
O dinheiro, segundo a cam girl, tem como finalidade ajudar nas contas básicas de uma casa, como pagamento de aluguel, água, luz, internet e supermercado. “Mas a gente também precisa investir nos equipamentos para o nosso trabalho. Um bom computador, uma boa câmera, celular, luz. Tudo isso a gente precisa. Se não tivermos estrutura de trabalho, não podemos cobrar muito caro por ele”, explica.
A cada dez minutos de videochamada, “Mel Belém” cobra, mediante pagamento antecipado, em média R$ 50,00. Mas ela explica que este valor não é fixo e tudo depende de uma conversa com o cliente. “Pergunto como ele quer, como acha melhor, quantas horas de viodechamada e acertamos o valor e o horário. O pagamento pode ser feito, preferencialmente, via PIX, que é uma tecnologia que veio para ajudar bastante o nosso trabalho também, pois o dinheiro cai na hora e aí eu já sei que não vão falhar comigo”, comenta.
Com a exposição, um dos riscos que a cam girl corre é do vazamento do conteúdo sensual produzido por ela. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), de janeiro a julho deste ano, já foram feitos 349 registros de delitos sexuais cometidos em ambiente digital, entre eles, assédio moral, assédio sexual, divulgação de conteúdo sexual e registro não autorizado de intimidade sexual.
Ainda assim, segundo a modelo, ela consegue usar desse fato para alavancar mais ainda a carreira na web. “Eu sempre penso assim: se vazar, eu estou recebendo para isso. Então, eu posso usar para ganhar mais fama ou partir para um processo. É um trabalho e as pessoas têm que ter respeito”, pede a cam girl “Mel Belém”.
Fora da internet, a modelo se considera uma pessoa comum. “Eu vou ao supermercado, ao banco. No dia-a-dia, passo bastante tempo dentro de casa, justamente porque preciso dividir meu tempo para divulgar o meu trabalho e fazer videochamadas”, conta.
Com relação à família, “Mel”, que mora sozinha, diz que seus pais não sabem que, atualmente, ela trabalha como cam girl, mas desconfiam. “Eles desconfiam por conta do estúdio que eu tenho em casa, mas nunca perguntaram nada e eu também não toco no assunto. Mas os meus amigos mais próximos sabem”, garante.
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