Belém passará a ter 6 meses de calor beirando os 50 ºC, diz pesquisa inédita
A mudança climática na capital paraense está prevista para 2050 e apresenta riscos para a população
Por volta do ano de 2050, Belém terá 222 dias de calor intenso por ano, aponta uma pesquisa inédita feita pela ONG Carbon Plan, da Califórnia, e o jornal americano The Washington Post. De acordo com o levantamento, durante 6 meses consecutivos, os moradores da capital paraense terão que lidar com a mudança climática drástica, que representará um aumento de 344% em dias de altas temperaturas nas próximas três décadas.
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Atualmente, Belém possui cerca de 50 dias de calor intenso, as altas temperaturas podem apresentar riscos mortais à população. A capital paraense é a única do Brasil a aparecer com destaque na pesquisa, ao lado da cidade de Pekambaru, na Indonésia; Phoenix, nos Estados Unidos; e a luxuosa Dubai, construída no deserto dos Emirados Árabes. Todas geram preocupação, quando se trata da maior multiplicação de dias de calor insalubre encontrada pelos pesquisadores para as grandes cidades do planeta.
Os moradores da capital paraense já estão habituados ao calor que normalmente faz na cidade, em grande parte do ano. No entanto, a possibilidade dos termômetros chegarem a marca dos 50 °C causa preocupação na população. Nesta segunda-feira (18), em vários bairros da cidade, diversas pessoas demonstraram temor caso esse levantamento se concretize nos próximos anos.
Para a população da cidade, que já possui algumas alternativas para tentar driblar o calor, se a temperatura aumentar ainda mais será complicado andar pelas ruas. A aposentada Maria Moraes, de 68 anos, diz que não sabe como as pessoas irão suportar.
“Ando sempre com a sombrinha, é minha proteção. Não saio sem ela, porque é para evitar as doenças, resfriado, problemas na pele. Uso um creminho na pele também. Temos que nos proteger porque esse sol ninguém aguenta, é muito forte. Aqui em Belém tem ficado cada vez mais quente. Parece que tá piorando. Do jeito que as coisas estão acontecendo, é bem capaz que realmente chegue a essa temperatura. Ninguém vai aguentar, ninguém aguenta agora imagine se aumentar mais. Já sinto quente demais, já tô protegida de sobrinha, imagine com 50 °C”, declara Maria.
Segundo ela, para tentar reverter essa situação, as pessoas têm que estar empenhadas. “Vai depender das autoridades respeitarem a nossa natureza para que o clima não chegue a esse ponto e a tudo isso de graus. Além disso, o povo em geral também tem que se conscientizar. Não é só as autoridades que tem que se preocupar, mas a população também tem que fazer sua parte”, destaca Maria Moraes.
Alerta
Os cientistas calculam que até a metade do século cerca de cinco bilhões de pessoas estarão expostas a pelo menos um mês de temperaturas perigosas e potencialmente mortais anualmente. Se comparado com o início dos anos 2000, quando menos de dois bilhões estavam nessas condições de calor, é um crescimento preocupante.
A intensificação no calor também deve multiplicar as mortes em grupos mais frágeis, como idosos e crianças. Segundo os cientistas, o limite de temperatura suportado pelo corpo humano é calculado pelo ‘bulbo úmido’ - uma métrica que combina temperatura, umidade relativa do ar, exposição ao sol e vento. Atualmente esse limite é de 32 graus Celsius, mas a medição equivale a cerca de 48 graus Celsius de sensação térmica sentida na pele. Sendo assim, mesmo adultos saudáveis que pratiquem atividades ao ar livre por mais de 15 minutos podem sofrer superaquecimento do organismo.
Ciclos
Para Fernando Gomes da Silva, professor aposentado, conviver com o calor diário em Belém é algo comum. "A gente lida com o calor da maneira que a gente pode. Eu sou paraense, sendo paraense, desde pequeno, acostumei com o calor, e a gente vai vivendo". Sobre o estudo que prevê uma temperatura na faixa dos 50°C na capital paraense, Fernando destaca: "O ser humano é capaz de se adaptar a qualquer situação. Já existem lugares onde se chega a 50°C, e as pessoas sobrevivem, muitas vezes até sem água. A gente, aqui, que tem água em abundância, nós daremos um jeito e vamos nos adaptar aos 50°C, apesar de eu não acreditar que chegaremos lá".
Ele argumenta que a humanidade vive um ciclo, "como vivemos desde a idade mais tenra da Terra". "Então, nós tivemos uma era glacial, em que ninguém plantou muita árvore para que nós chegássemos a ficar com muito gelo. Do mesmo modo, nós estamos completando um ciclo, em que nós estamos aquecendo muito. Quando nós passarmos por ele, nós voltaremos a um período de refrigeração, de baixa de temperatura", disse.
"Como é um ciclo muito grande, o ser humano, cientista, ainda não teve como medir. Quando acabou a era glacial, nós não tínhamos como medir. Estamos chegando, talvez, ao pico de uma era muito quente, que não deu para medir também, porque nós não sabemos quando começou. Então, eu acredito no Ser Divino que cuida da gente e que não vai deixar que nada aconteça de tão grave que vá exterminar a raça humana. Simples assim", completa Fernando.
Derreter
A dona de casa e autônoma Kátia Cristina Conceição, 37 anos, observa que 'o calor é muito grande, o sol faz a gente se sentir mal mesmo, mas a gente tem que viver com ele". Com uma temperatura de cerca de 50 °C, "se agora já é quente em Belém, seria pior ainda, mas se a gente tem que lidar, vamos lidar, né? Vamos encarar".
Já o feirante Paulo Cordeiro, na Feira da Pedreira, destacou que todos os dias o calor é muito forte em Belém, principalmente, para quem trabalha na rua como ele. Paulo pontua que no box em que atua tem de estar tomando água gelada e perto de um ventilador. Sobre Belém com 50 °C, Paulo observa que "seria pior". "Hoje em dia, já está quente demais, imagina com 50 °C. Como a gente ia viver? Todo mundo ia derreter, dentro d'água ainda", completa.
Atenção
William Rodrigues Costa, especialista em clínica médica/médico internista, ressalta que as elevadas temperaturas são prejudiciais à saúde, principalmente quando a pessoa fica exposta ao sol. Nesse caso, o indivíduo pode apresentar intensa desidratação, sofrer com insolação, queimaduras solares de primeiro e até segundo graus, quadros clínicos que podem ser bem simples, mas também podem evoluir com gravidade. A população em geral está exposta às elevadas temperaturas, porém crianças e idosos merecem atenção especial, pois podem evoluir com gravidade mais rapidamente.
As elevadas temperaturas podem levar os indivíduos a mal-estar, dor de cabeça, intensa desidratação, alteração na pressão arterial, agitação. As pessoas que ficam expostas ao sol apresentar insolação, com febre, diarreia, mal-estar, desidratação intensa, desmaios e que, nos extremos de idade, podem ser muito graves, podendo até mesmo levar ao óbito, se o cuidado adequado não for tomado.
As mudanças bruscas de temperatura, de um local resfriado para outro bastante quente, fazem com que o corpo busque de forma rápida encontrar um equilíbrio de temperatura interno, levando a um gasto calórico rápido, alterações vasculares e de pressão e, com isso, interferindo no sistema imunológico, facilitando o surgimento de doenças virais ou bacterianas, sobretudo respiratórias.
Confira as dicas para os dias de calor:
- Manter-se hidratado, ingerindo líquidos (cerca de dois litros a dois litros e meio de água por dia)
- Alimentar-se de frutas, legumes e vegetais
- Tomar banho com água na temperatura ambiente
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