20 mil pessoas participam da 11ª Parada do Orgulho LGBTI+ em Icoaraci
Tema “LGBTIfobia agora é crime. Diversidade acima de tudo e respeito acima de todos” partiu para o enfrentamento do slogan do presidente
Cada Parada do Orgulho LGBTI+ é mais que uma festa. É um evento cultural e político. É um posicionamento de liberdade e visibilidade. Neste domingo, o distrito de Icoaraci recebeu a 11ª edição. A coordenação estima que, pelo menos, 20 mil pessoas participaram. De fato, as vias que fizeram parte do percurso ficaram totalmente lotadas. Toda a programação teve apoio da Prefeitura de Belém.
O tema desta edição foi: “LGBTIfobia agora é crime. Diversidade acima de tudo e respeito acima de todos”. Uma crítica direta ao slogan que o presidente Jair Bolsonaro usa desde a campanha. A concentração foi às 15h, na rua Siqueira Mendes. Os participantes fizeram um trajeto com muita música, dança, discursos e amor livre até a orla de Icoaraci. Entre as atrações: bandas, performances de drags queens, DJs, gogo boys e convidados. Tudo com trios elétricos.
"É um momento em que estamos livres. O poder público nos protege e garante estrutura para nos divertirmos, para aproveitarmos a cidade em segurança e sem medo da violência LGBTIfóbica, que faz com que a população LGBTI+ viva em estado de ameaça constante e vítima de violência. Quem nos dera fosse assim todos os dias. Mas, por enquanto, precisamos de um dia dedicado a isso. É um dia de diversão, mas também de articulação, de atitude", declarou a psicóloga Luene Luna.
Dados cruzados de entidades e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que cerca de 16,5% da população é LGBTI+, sendo 10% gays, 6% lésbicas e 0,5% trans. Mas esses dados, até hoje, não têm base sólida e confiável. Acredita-se que muita gente nem esteja representada, já que faltam também bissexuais e intersexos. Muitas pessoas podem nem querer se identificar como LGBTI+ por medo ou preconceitos consigo mesmos. Paradas de orgulho LGBTI+ são necessárias por esse tipo de condição.
O psicólogo e escritor Andrew Solomon, que é gay e um dos principais estudiosos de depressão e outras doenças mentais do mundo, cita dois estudos na obra "A epidemia oculta". Um deles é uma amostra com 4 mil homens, de 17 a 39 anos, no qual 3,4% dos heterossexuais havia tentado suicídio em algum momento da vida e 20% dos homossexuais haviam tentado. Outro estudo mostra que 7,3% dos LGBTIs tentam quatro vezes ou mais o suicídio, enquanto essa estatística só ocorria em 1% de heterossexuais. A violência e o preconceito afetam a vida da população LGBTI+ no mundo todo.
Para preparar os organizadores e participantes para o evento, houve uma roda de conversa neste sábado (16), no auditório da Agência Distrital de Icoaraci. O tema debatido foi “Empoderamento e direitos LGBTI”. As conversas foram conduzidas pela organizadora da parada, Márcia Passos (Gadá), e por Cledson Sampaio, titular da Coordenadoria da Diversidade Sexual de Belém (CDS).
Quem mora no percurso da Parada do Orgulho LGBTI+ já até acha o evento interessante. Moradores até conversam com alguns dos participantes mais politicamente ativos. Os que querem apenas um momento de liberdade para se divertir, apenas acenam para os espectadores. Muitos respondem com simpatia. "Esses preconceitos já deveriam ter saído de moda. Aí: o pessoal se divertindo, brincando, namorando, todo esse movimento, música... o que tem de diferente dos outros eventos? E é um pessoal animado e divertido", comentou o servidor público Rogério Tavares.
Durante a programação, vários órgãos participaram. Tanto no apoio logístico, como na segurança ou em serviços diretos aos participante. Entre todos: Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Fundação Cultural do Município (Fumbel), Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Guarda Municipal de Belém, Polícias Militar e Civil, Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) e a própria Agência Distrital de Icoaraci.
Os discursos mais fortes dos eventos continuam sendo contra a violência contra pessoas trans e travestis. Essa é uma parcela da população LGBTI+ que Clédson, da CDS, aponta ser uma das mais expostas à violência e ao ódio. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, segundo a ONG Transgender Europe. Curiosamente, é um dos países que mais consome pornografia LGBTI+ no planeta, também ressalta a ONG. Uma conta difícil de entender.
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