Morador de Ananindeua alcança topo do mundo na dança em cadeira de rodas
David Pontes venceu praticamente tudo o que disputou e após o mundial da Eslováquia se tornou o número um do mundo
“Tudo começou quando eu achei que ia acabar”. É assim que David Pontes define sua trajetória prodigiosa no mundo dos paraesportes. O morador do bairro do Coqueiro, em Ananindeua, ficou paraplégico após um acidente de moto há 11 anos. Após uma série de difuculdades em aceitar sua condição, a entrada no mundo dos paraesportes lapidou o que havia de melhor dentro de si. Em 2019 começou a praticar a dança em cadeira de rodas após um convite insistente de uma amiga que o via como um talento natural. Hoje, três anos após o início na modalidade, David se tornou o número um do mundo na modalidade.
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O atleta mostrou a que veio logo em seu segundo ano praticando a paradança. Em 2020, no campeonato brasileiro disputado na cidade mineira de Poços de Caldas, David Pontes ganhou medalha de ouro simplesmente em todas as quatro categorias que disputou, chamando atenção de especialistas em paraesportes. Aquele momento foi o ponto de partida para que o paraense vislumbrasse chegar onde chegou atualmente, no topo do mundo.
“Não imaginava alcançar o que alcancei na paradança. Em 2019 entrei para a CIA do Nosso Jeito e conheci atletas paraenses de alto desempenho, o que me inspirou ainda mais. As coisas foram fluindo desde então, mas esse mérito não é só meu, é dos meus professores, colegas de equipe, de todo mundo da companhia”, diz o atleta, que tem como companheira de dança a sua esposa, a bailarina e professora de dança Karina Souza. Aliás, ter sua esposa como principal incentivadora é um privilégio que David não esquece de agradecer e dividir os méritos, afinal de contas, a dança em cadeira de rodas se baila a dois.
CAMPEÃO MUNDIAL
Logo após o sucesso no campeonato brasileiro veio a chance de disputar sua primeira competição internacional, o mundial disputado em Gênova, na Itália, no ano de 2021. O atleta lembra bem do nervosismo em participar de uma disputa tão importante, mas as amizades que criou em sua equipe fizeram a coragem vencer. David Pontes beirou a perfeição em seus movimentos e conquistou novamente o lugar mais alto do pódio. Foi neste momento que o nome do paraense começou a ser conhecido no universo paralímpico de todo mundo.
“Embora a paradança ainda não faça parte das paralímpiadas, existe um forte movimento para que seja incluída nas próximas paralímpiadas, em 2028. Esse primeiro mundial foi determinante para que pudesse conquistar essa primeira colocação no ranking mundial, mas também para motivar mais pessoas como eu a praticarem esporte, além de ter sido uma vitrine positiva para a inclusão da modalidade nas próximas paralímpiadas”, diz David, sempre fazendo questão de lembrar que a conquista está longe de ser só dele, mas sim de toda sua equipe.
O Pará, inclusive, é considerado uma superpotência nos paraesportes como o basquete em cadeira de rodas, modalidade que David iniciou seu percurso após o acidente, e a paradança. Na CIA do Nosso Jeito, cujo David é membro, são 12 atletas que treinam incansavelmente para as principais competições no Brasil e no mundo. O mundial de Tóquio no próximo ano. A intenção da equipe é a de sempre: ganhar todos os ouros possíveis.
“No último mundial a seleção brasileira era composta 100% por paraenses, desde a comissão, treinadores e atletas. Nosso esporte aqui na região é bem representado e respeitado dentro e fora do país. Por isso que sempre gosto de falar sobre o poder dessa equipe, sobre o poder que esses atletas possuem dentro e fora das competições, pois nossa intenção é ajudar e abrir portas para outras pessoas como nós, é o que estamos fazendo”, conta.
SEGUINDO A DANÇA DA VIDA
David Pontes ficou paraplégico após sair com um amigo de moto em 2011. O atleta lembra que estavam retornando de um interior para Ananindeua quando foram atingidos por um outro veículo. Seu amigo morreu. A perda abalou profundamente a David, mas a partir de um certo momento de sua vida decidiu dar o seu melhor não apenas no esporte, mas em tudo que faria a cada dia, para honrar a memória do amigo.
“É muito forte. Trocaria tudo para ele não morrer. Trocaria até mesmo o restante dos movimentos do meu corpo. Quando é dia 2 de novembro, minha mãe desce a escada, me dá um beijo e diz que me ama. A dele vai até o cemitério. Isso dói, mas minha luta vem daí, vem de tentar honrar a memória dele em todos os aspectos da vida. Então tento ser o melhor que posso no meu trabalho, sou formado em Educação Física, trabalho no Sesi Ananindeua na gerência de Esporte e Lazer. Tudo que desempenho é por mim e por ele”, diz de forma emocionada.
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