Faturamento de hospital ligado ao prefeito de Ananindeua salta de R$ 13 milhões para R$ 156 milhões
Hospital teve uma uma aceleração de mais de R$ 1.000% em sua receita em oito anos.
O faturamento do Hospital Santa Maria, em Ananindeua, passou de R$ 13 milhões para R$ 156 milhões entre os anos de 2014 e 2022. Em oito anos, o hospital ligado ao atual prefeito da cidade, Daniel Santos, teve uma aceleração de mais de R$ 1.000% em sua receita. O crescimento estaria associado à carreira política de Daniel, que foi eleito vereador, deputado estadual e, em 2020, prefeito da cidade.
Como gestor da administração municipal, Daniel pagou mais de R$ 71,5 milhões ao Santa Maria, conforme dados do portal municipal da Transparência, do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e os balanços contábeis registrados na Junta Comercial do Pará (JUCEPA). Do total, contabilizado até o dia 25 de abril, R$ 24 milhões foram pagos quando Daniel ainda era um dos donos. Ele deixou a empresa em 2022.
O faturamento do hospital começou a crescer em 2019, com a pandemia, quando passou de R$ 13 milhões (2014) para R$ 82 milhões. O aumento, em números percentuais, representa um incremento de mais de 500% em relação à 2014, quando o hospital possuía 30 funcionários e capital social declarado de pouco mais de R$ 100 mil, além de equipamentos orçados em R$ 287 mil. Em relação a 2016, a alta foi de R$ 264%.
Em 2019 ainda, o hospital inaugurou um novo edifício, com investimentos em equipamentos de R$ 13 milhões. Três anos depois, em 2021, o faturamento do Santo Maria saltou dos R$ 82 milhões para R$ 160 milhões, ainda maior do que o de 2022, de R$ 156 milhões. Dos 30 funcionários, o hospital passou para 140. Além disso, outro prédio, anexado ao inaugurado em 2019, está sendo preparado para ser inaugurado.
Fundado em janeiro de 2013, o hospital inicialmente contava com três sócios: Geciara dos Santos Barbosa, Jorge Sidney Pinheiro de Moraes e Elton dos Anjos Brandão, que também atuava como administrador. Jorge saiu da sociedade em julho de 2013 e Geciara em agosto de 2014, repassando o seu capital a Daniel e deixando ele e Elton como únicos proprietários. Daniel saiu em maio de 2022. Em dezembro de 2023, Elton alterou a natureza jurídica da empresa para uma associação privada, presidida por ele.
Durante a parceria entre Daniel e Elton (2014-2022), o hospital foi o principal local de atuação de Daniel como médico, enquanto Elton administrou o hospital e trabalhou em vários outros, demonstrando uma carreira médica diversificada e ativa em diferentes regiões. Daniel, por outro lado, começou sua carreira médica focando suas atividades no próprio hospital após sua eleição como vereador, cumprindo os mandatos legais que limitam a administração empresarial por políticos eleitos.
Polêmicas na Saúde de Ananindeua
As polêmicas na área da Saúde de Ananindeua estão se estendendo e se ampliando ao longo das últimas semanas. Na última terça-feira (7), profissionais da Saúde do município realizaram um protesto na rodovia BR-316, em frente à sede da Prefeitura de Ananindeua, para cobrar salários atrasados e para questionar demissões e falta de investimentos nos serviços de atendimento à população. O ato, que tomou conta dos 2 sentidos da rodovia, começou por volta das 6h e se dispersou por volta das 9h30, provocando um longo congestionamento ao longo da manhã.
Entre as demandas citadas pelo Conselheiro Estadual das Cidades, Rômulo Vieira, na ocasião do protesto, um grande questionamento sobre a melhoria e contratação de profissionais da Saúde que sejam aptos para cuidar de pessoas portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Ainda na terça-feira (7), o diretor clínico do Hospital das Clínicas de Ananindeua (HCA), Ronaldo Sefer, concedeu entrevista ao Grupo Liberal afirmando que a unidade já estava há cinco meses sem receber os repasses da Secretaria Municipal de Saúde de Ananindeua (Sesau). O HCA, que fica localizado no bairro das Águas Brancas, teve o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) suspenso na segunda-feira (6). Faixas foram colocadas pelos trabalhadores na frente do hospital, avisando sobre a suspensão do serviço no local. O diretor explicou que só estavam sendo atendidos os pacientes do (Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Pará (Iasep) e os que pagam pelas consultas - atendimento particular.
“Nós estamos em Ananindeua há mais de 20 anos. Nunca aconteceu isso com a gente. Nós estamos há cinco meses, desde outubro, sem receber um tostão sequer da Secretaria Municipal de Saúde de Ananindeua. A Secretaria Municipal de Saúde é o nosso principal comprador de serviços. E nós não podemos sobreviver sem o pagamento do nosso principal comprador", disse Ronaldo Sefer, durante a entrevista da terça-feira.
Ronaldo Sefer afirmou, ainda nessa entrevista, que não existe previsão para que os atendimentos sejam normalizados. "São cinco meses com um montante de 6 milhões, 6 milhões e oitocentos e pouco. Quase 7 milhões", detalhou o diretor sobre o total atual da dívida. Por essa razão, o médico pediu desculpas ao povo de Ananindeua. "Aqui é feito a maioria dos serviços prestados ao SUS em Ananindeua", afirma. "Não tínhamos como continuar nossos serviços com cinco meses de atraso", completa.
Faturamento do Santa Maria
2014:
R$ 13.376.823,52
2016:
R$ 22.715.635,14
2019:
R$ 82.686.135,25
2020:
R$ 159.192.534,70
2021:
R$ 161.088.811,79
2022:
R$ 156.245.781,20
TOTAL:
R$ 595.305.721,60
Aumento 2014/2022: 1.068%
Obs: Os números são dos balanços contábeis, atualizados pelo IPCA de Janeiro/2024.
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